13 de setembro de 2009

OS NÚMEROS DE 5 A 8

O cinco não é tanto a unidade do quatro, mas sim o lugar por onde passa o eixo perpendicular (zênite-nadir) que completa a manifestação horizontal do quatro e remete ao que está aquém e além dele: a quinta-essência da alquimia ou o quinto elemento da figuração chinesa. Esse centro oferece a particularidade de ser ao mesmo tempo pleno (ele é a totalidade potencial do quatro) e perfeitamente vazio (pois transcende o quatro).

Tudo brota dele e tudo se reabsorve nele, num sentido próximo ao do zero ativo, na medida em que o zero é a cifra que as tradições denominaram como o Um-que-não-é (o Um antes da revelação do Um), o Nada supra-essencial, o Deus absconditus de onde emerge o Deus revelatus, a deitas ou deidade, o Nada ou o abismo do divino; em suma, aquele do qual nada se pode dizer sem traí-lo.

No século 20, C.G. Jung retomou esse conceito do quatro, aplicado às quatro funções psíquicas (pensamento, sentimento, intuição e sensação) e às quatro figuras da anima: Eva, Helena, Maria e Sofia. Todos os quaternários que enuncia estão em relação com o que ele chama de Si (Self), ou imago Dei, arquétipo do pleno e do vazio e, como ele explica em várias passagens, supra-ordenador do conjunto da psique na medida em que, ao mesmo tempo, participa e não participa das manifestações da psique. Nesse sentido é semelhante ao Si-mesmo do hinduísmo ou ao Atma-Brama.

O número cinco desempenha um papel importante enquanto princípio da ordem, como mostra por exemplo o pentagrama ou pentáculo.

Quando uma de suas pontas está voltada para o alto, pode nele ser inscrito o homem com sua cabeça, braços e pernas. Já o pentagrama invertido é considerado como signo da magia negra.

A Torá do Antigo Testamento é constituída do Pentateuco, os cinco livros de Moisés. Jesus com cinco pães alimentou quatro mil pessoas. Cinco cruzes são gravadas nas pedras dos altares como lembrança dos cinco estigmas. Para os autores medievais que tratam da simbólica, os cinco sentidos do homem se refletem nas cinco pétalas de inúmeras flores.

O cinco representa assim o princípio do centro, não só geográfico, mas energético e espiritual. É ele que permite equilibrar e regular o jogo constante do yin e do yang em suas diferentes manifestações e assegurar a unidade do fluxo perpétuo das coisas. O cinco representa a adição do dois, de essência feminina, ao três, de essência masculina. Simboliza, portanto, a totalidade do universo.

O cinco (wu) era, na China antiga, um número sagrado em razão dos cinco pontos cardinais (o quinto no centro), aos quais correspondiam cinco tons ou notas, cinco costumes, cinco especiarias, cinco classes de animais, cinco relações humanas e os “cinco clássicos”. Os chineses estabeleciam ainda a correspondência dos cinco pontos cardinais com os cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água), aos quais eram atribuídas cinco cores fundamentais. Os cinco bens da felicidade eram a riqueza, a longevidade, a paz, a virtude e a santidade.

Na alquimia, por fim, através da quinta-essência, o cinco indica a unidade da Obra além de seus quatro estágios, bem como a unidade espiritual da criação além de seus quatro elementos que constituem a manifestação visível.

O seis é um número com menor carga simbólica. Designa-se a criação do mundo pelo nome Hexameron (criação em seis dias), pois no sétimo dia Deus repousa após concluir sua obra. (Gênese, 2,3). Santo Agostinho considerava o seis significativo, desse ponto de vista, pois representa a soma dos três primeiros números (1 + 2 + 3), mas sem tirar conclusões a respeito.

A descrição das seis obras de misericórdia, no Evangelho segundo Mateus (25,35-37), é uma referência relativamente rara com relação ao número seis.

O único símbolo verdadeiramente importante no Ocidente, baseado no seis, é o hexagrama ou a estrela do “Selo de Salomão”, composta de dois triângulos, com seis pontas que correspondem aos 7 planetas da Astrologia tradicional, menos o Sol. Neste caso é importante lembrar que o Sol ocupa o centro do hexagrama, instituindo o sete como unidade do seis, o que simboliza a multiplicidade da criação.

O sete é o número sagrado mais importante, após o três, nas tradições das civilizações orientais. Nas literaturas suméria e acadiana encontram-se sete demônios representados pelos sete pontos que aparecem na constelação das Plêiades.

Entre os judeus, o setenário oriental se manifesta no candelabro com sete braços (a Menorá) que remete à divisão das quatro fases da revolução lunar (28 ÷ 4 = 7), bem como aos sete planetas.

No Apocalipse de São João, o sete representa um elemento de estruturação do texto (sete igrejas, sete cornos da besta, sete manifestações da cólera no “livro dos sete selos”).

Uma cena célebre do Antigo Testamento, baseada no setenário, trata igualmente de destruições realizadas pela cólera divina: sete sacerdotes, munidos de sete cornos de carneiros (schofar) rodearam as muralhas de Jericó durante seis dias. No sétimo dia, “ele contornaram sete vezes a cidade” e, quando as trombetas soaram e os israelitas gritaram com força, as muralhas ruíram por terra.

Na Europa, durante a Idade Média, também se apreciavam essas séries. Havia os sete dons do Espírito Santo, representados na época gótica sob a forma de pombas, sete virtudes, sete artes e ciências, sete sacramentos, sete idades da vida humana, sete pecados capitais, sete preces dirigida ao Senhor no Pai Nosso.

Pode-se mesmo perguntar se não foi sob o peso dessa tradição que se reconheceram naturalmente sete tonalidades no arco-íris, quando na verdade sabemos, hoje, que o espectro luminoso é contínuo.

Na China, enquanto número ímpar, o sete está associado ao princípio masculino, yang, mas representa a sucessão de anos da vida da mulher: ao cabo de 2 x 7 anos começa “a vida yin” (primeira menstruação), que termina após 7 x 7 anos (menopausa). O quarenta e nove (7 x 7) aparece também no culto aos mortos, pois a partir do sétimo dia do falecimento e até o quadragésimo nono, eram feitas festas de oferecimentos em memória do defunto. A série de sete planetas é, na China, menos tradicional que a série mais antiga que comporta apenas os cinco planetas e à qual se atribui influência indiana.

O sete responde a algumas temáticas ou a algumas regras de composição muito precisas. É o caso em relação às quatro fases do mês lunar (crescente, cheia, decrescente e nova), bem como em relação ao número dos céus e dos planetas tradicionais da astrologia (os dois luminares, Sol e Lua, e os cinco planetas visíveis a olho nu, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). Existem ainda os sete círculos do inferno ou do paraíso de Dante, na Divina Comédia.

É também o número que unifica os seis elementos anteriores, ultrapassando-os, como pode ser visto na descrição bíblica da criação do mundo, em que Deus repousa no sétimo dia, o que significa o coroamento de seu trabalho. Representa, enfim, a soma do três e do quatro, a trindade e o quaternário, indicando a totalidade do universo em sua dialética do dinamismo que percorre o desenvolvimento de sua manifestação, bem como a união do céu e da terra, do masculino e do feminino.

Os diversos significados do setenário são com freqüência entremeados, criando uma infinidade de sentidos possíveis. Os sete dias da semana cristã trazem nomes dos deuses antigos ligados à astrologia (exceto no português). O Selo de Salomão corresponde ao mesmo tempo aos sete planetas e à estruturação em seis elementos exteriores mais o elemento central que é o ouro.

Um dos significados do sete, quando associado à “sétima casa” do horóscopo, referente ao casamento, pode ser o da esposa “megera”, como Xantipa, mulher de Sócrates, pois os aspectos astrológicos tensos nesta casa indicam disputas.

Do ponto de vista aritmológico, o sete lunar está inscrito na série 7 – 14 – 28 e, eventualmente, 42 (um mês lunar mais sua metade) enquanto que o sete ligado à adivinhação, ao Além e à unidade encontra sua mais alta perfeição em sua potência quadrada, ou seja, 7 x 7 = 49. São utilizadas 49 varetas para o sorteio do I Ching, ao mesmo tempo em que este é o número axial do Bardo Todol (O Livro Tibetano dos Mortos).

Na aritmosofia, o sete participa ao mesmo tempo do princípio lunar (pois 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 = 28) e do princípio da unidade através do dez ou da tetraktys de Pitágoras, visto que 28 –> 2 + 8 = 10 –> 1 + 0 = 1.

O número sete, embora tenha um simbolismo bastante rico, muitas vezes é menos levado em conta que o oito. Considera-se, de fato, que a Ressurreição do Cristo e o início da nova era teve início no oitavo dia da Criação, o que explica por que os batistérios têm com freqüência uma forma octogonal.

As estrelas de oito pontas da arte romana, as rosáceas com oito pétalas e a cruz de malta com oito braços têm o mesmo significado. O budismo repousa sobre o “caminho com oito direções” e o oito é, na China, a assinatura da ordem e da harmonia das coisas. É assim que a rosa dos ventos indica as oito direções, enquanto o Buda se mantém no centro do lótus de oito pétalas ou no cubo da roda de oito raios, do mesmo modo que existem oito caminhos para seguir o Tao.

No Ming-tang, o quadrado com nove casas, que é equivalente à rosa dos ventos, os quadrados por intermédio dos quais se indicam os pontos cardinais, o quadrado do meio designa o eixo do mundo vertical entre o Céu e a Terra.

Como o quatro simboliza a Terra, a manifestação (os quatro elementos, os quatro pontos cardinais, etc), quando ela é projetada sobre um plano forma então um quadrado e representa uma superfície (quatro é a potência quadrada do dois, o feminino e o passivo).

Desse modo, o oito pode também simbolizar a Terra, se for descrito no espaço que ela ocupa, pois o oito é o cubo de dois (23 = 8) e designa por isso mesmo um volume.

Nesse sentido, o I Ching pode ser considerado perfeito, pois seus 64 hexagramas pertencem à ordem do oito multiplicado por si mesmo.
(Constantino K. Riemma)

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