13 de outubro de 2009

CONSCIÊNCIA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO IV



Está escrito no Atos dos Apóstolos que quando o Espírito Santo desceu sobre os Doze, cada indivíduo que estava presente na numerosa assembléia podia ouvir falar em sua própria língua. Para a pessoa que não entende assuntos como estes tratados neste artigo a história pareceria incrível. Porém não o é.

O pensamento dos Apóstolos causou em cada ouvinte uma mudança mental, reproduzindo-se na mente de cada um; esta mudança se tornou o pensamento de cada pessoa, e alcançou seu cérebro físico do modo costumeiro; lá revestiu-se de palavras, as palavras em que cada um estava inconscientemente acostumado a traduzir seus próprios pensamentos. A pessoa pensou que ouvira os Apóstolos falar em sua própria língua, ao passo que eles falaram em pensamento e cada um traduziu isso em seu próprio idioma.

Similarmente, se um trabalhador no plano astral não consegue se comunicar através da linguagem comum com alguém que deseja auxiliar, ele pode - se tiver aprendido a usar seu corpo mental - transmitir o pensamento à mente de seu amigo, deixando que ele traduza a imagem mental em sua própria língua. É o amigo quem faz a tradução, mas ele pensaria que foi seu auxiliar que lhe falou, porém ele teria apenas recebido dele uma impressão mental que traduzira ele mesmo da forma a que estava acostumado.

Esta costumeira interação entre mente e cérebro, a tradução usual de uma imagem mental em palavras, é usada por aqueles que trabalham nos planos superiores como um meio conveniente de comunicação com aqueles que estão nos planos inferiores ao seu. Assim um Mestre oriental, não conhecendo inglês, falaria "em inglês" a um discípulo ocidental. Ele pode até escrever, bastando retirar do cérebro do discípulo as palavras que necessita.

Existe ainda outra possibilidade que não deve ser omitida: a simulação de um Irmão da Luz por um Irmão da Sombra, ou de um discípulo de um pelo discípulo de outro. Pode acontecer que com o engano de alguém que tenha larga influência, e com o conseqüente mal que pode ser produzido por tal pessoa enganada, um Irmão da Sombra possa personificar um Irmão Branco e dar alguma ordem ou orientação nefasta.

Em tal caso tudo depende primeiro da intuição daquele a quem se busca enganar, e então o assunto passa ao julgamento e intuição de outros. Se tal possibilidade acontecer na Sociedade, cada membro deve formar sua própria opinião sobre a veracidade e confiabilidade da comunicação, depois de ponderar todas as circunstâncias do caso, o conhecimento e caráter da suposta vítima, o efeito da comunicação no bem da Sociedade, e todos os efeitos colaterais.

Às vezes a questão só pode ser finalmente decidida após transcorrer um considerável lapso de tempo; assim, no caso da dissidência de Judge, o tempo falou pela continuidade e crescimento da Sociedade original - compare-se sua produção de literatura, sua crescente vitalidade e poder, com o desmantelamento da dissidência em diversos grupos menores, a diminuição de seus seguidores, a pobreza de literatura e a pequena influência sobre o público.

O tempo prova todas as coisas, e seu veredicto não é passível de apelação. O mesmo vai acontecer com a controvérsia suscitada pelas manifestações de Adyar. Mantenham-se pacientes e no controle de si mesmos, e depois de empregarem sua melhor capacidade de julgamento, esperem pelo veredicto. O fogo do tempo prova todas as coisas, ele queima a escória e deixa o ouro purificado e resplendente. O Senhor do Fogo lança todas as coisas terrenas em Sua fogueira; esperemos pelo resultado sem medo, desejando que nossa escória seja consumida e esperando que no fim possa restar algum ouro puro.

Será evidente, para aqueles que consideram estes vários meios de comunicação, que é praticamente impossível, para pessoas à distância do lugar onde a comunicação foi feita, definirem a forma que ela pode ter tomado, a menos que disponham de meios ocultos de investigação.

A natureza das manifestações que tiveram lugar em Adyar no inverno de 1906-1907 não poderia ser decidida pelo membro comum da Sociedade, não versado em fenômenos ocultos. Ele seria forçado a ou confiar na boa-fé e exatidão daqueles que estavam presentes durante sua ocorrência, ou ser capaz de estudá-los ocultamente, ou suspender seu julgamento. Os dados eram insuficientes para uma decisão independente no assunto. E a maioria dos fenômenos que ocorreram na história da Sociedade está na mesma situação.

A menos que possamos aceitar a boa-fé e competência das testemunhas, ou tenhamos o poder de investigar por nós mesmos o passado, devemos forçosamente suspender nosso julgamento. A credulidade irracional e a incredulidade irracional são ambas sinais de uma mente desequilibrada, e onde falta evidência suficiente para nos satisfazer, é claro que o certo é nos abstermos tanto da afirmação quanto da negação. É claro que em tais assuntos cada um deve decidir por si mesmo, e que ninguém tem o direito de ditar como qualquer outro membro deve pensar.

Uma pessoa que tem um conhecimento definido pode afirmar que tais e tais coisas aconteceram, mas ela não pode reivindicar autoridade para impor sobre os outros seu conhecimento como uma prova suficiente do ocorrido, nem deve culpá-los se eles rejeitarem sua competência como testemunha. É necessária completa liberdade para cada membro exercitar seu próprio raciocínio nestes assuntos, pelo bem da segurança e progresso da Sociedade.

A escassez de comunicações que se permitiu vir a público durante muitos anos foi uma prova da falta de equilíbrio, julgamento, bom-senso e calma na Sociedade em geral. As pessoas passaram a considerar as comunicações dos Mestres com dúvida, suspeita e medo, e, por conseguinte, já que elas causavam tanta agitação, foram ocultas, salvo quando absolutamente necessário. Nos primeiros tempos elas eram comuns porque o fato de a porta estar aberta era largamente aceito. Agora se tornaram raras por causa do tumulto que causam.

Mas se acreditamos no que a maioria de nós aceita em teoria, que estamos vivendo em três mundos todo o tempo, e que estamos relacionados àqueles mundos através da presença de sua matéria em nossos corpos, então deveríamos considerar natural, e não antinatural, que devamos receber através de nossa matéria apropriada os impactos de cada um dos três mundos. Nosso conhecimento deles e nossa comunicação com eles dependem de nossa receptividade a eles, e não destes mundos exteriores por si mesmos.

Cada membro deve ser deixado livre para aceitar ou rejeitar, sob sua própria responsabilidade, aquilo que é afirmado por qualquer outro. Se, no exercício desta discriminação, um membro rejeita o que é verdadeiro, a perda é sua, e é bem melhor que ele perca do que a Sociedade seja privada da liberdade que mantém aberto caminho do progresso. Se a maioria da Sociedade rejeitasse uma comunicação importante e verídica, então a Sociedade como uma organização pereceria, e a minoria seria incumbida de levar adiante o trabalho. Este foi o perigo que a Sociedade enfrentou logo depois das manifestações em Adyar, e da expressão da vontade do Mestre ao Coronel Olcott sobre a nomeação do seu sucessor. Mas a grande maioria da Sociedade obedeceu ao desejo do Mestre, e o perigo foi evitado.

Um perigo semelhante pode novamente surgir, mas não devemos garantir segurança contra ele restringindo a liberdade dos membros de pensarem por si mesmos. Todo membro deve ser deixado livre para crer ou descrer. Como disse uma vez um Mestre, quando foi acusado de proferir uma ameaça porque Ele havia declarado o que sucederia em determinada linha de ação, "Uma advertência não é uma ameaça". Estudantes antigos podem ver um perigo onde estudantes novatos não vêem, e às vezes eles são obrigados a colocar seu conhecimento a serviço do mais jovem; mas o jovem deve ser deixado livre para aceitar ou rejeitar o aviso, e, neste caso, adquirir sua própria experiência a custo do sofrimento que teria sido evitado se utilizasse a experiência dos mais velhos.

As leis da Natureza não mudam porque as desconhecemos, e se cometemos um erro, mesmo que de boa-fé, devemos sofrer por termos andado contra a lei. A decisão consciente fortalecerá nosso caráter, e nosso conhecimento aumentará com a experiência. Aqueles que já conseguiram este conhecimento podem com acerto oferecê-lo aos seus companheiros - embora não possam impô-lo - pois, poderiam se tornar passíveis da condenação:
"Vocês sabiam que ignorantes estávamos correndo em direção ao perigo; por que não nos avisaram?"

A Raça Vindoura deve encorajar a variedade de opinião dentro de seu âmbito, a fim de que possa reunir em si todas as sementes da verdade, mesmo que estejam ocultas nas cascas do erro. A casca se desprenderá e a semente permanecerá e crescerá. A Sociedade jamais será destruída pela variedade de pensamento, basta praticar a tolerância perfeita e não colocar barreiras no caminho da liberdade de expressão. Mas não encorajemos negações desencorajando afirmações, pois senão cresceremos em direção à sombra em vez de em direção à luz.

Enquanto guardamos a liberdade de pensamento e expressão e encorajamos a mais ampla discussão das diferenças, não esqueçamos a cortesia e a gentileza, senão a diferença de pensamento decairá em vituperação daqueles que pensam diferentemente de nós. O amor é tão vital como o conhecimento para a construção do futuro, e o conhecimento sem amor é inútil para os Mestres-Construtores da Raça Futura.
(Annie Besant)

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