14 de julho de 2012

A ÁRVORE DA VIDA - Um Estudo Sobre Magia VII


Nas lendas de todos os povos, mesmo dos das mais primitivas tribos selvagens, está presente a concepção da luz astral como meio das vibrações do pensamento e dos atos mágicos. Sir J. G. Frazer, o eminente antropólogo e autoridade em folclore, registra muitas delas em sua A rama dourada. Muitos outros autores também discutiram a natureza dessa força hipotética reconhecida pelos primitivos, sem ter se aproximado de qualquer clara formulação de sua natureza como o grande agente mágico, o que dificilmente se poderia esperar, visto que seus estudos e pesquisas jamais deixam, por um único momento, o plano acadêmico.

Os melanésios das ilhas do mar do sul acreditam, segundo afirmação do professor Bronislaw Malinowsky em seu pequeno livro sobre mitos, num depósito ou reservatório de força sobrenatural ou mágica a que deram o nome de mana, o qual, como uma força similar concebida como Orenda pelos índios norte-americanos, crê-se ter seu centro na lua. Essa última parece, por assim dizer, encerrar um tanque gigantesco desse poder oculto que pareceria por eles ser associado com a fonte da vida e da energia. Não é difícil perceber que essa concepção – imperfeitamente registrada pelos antropólogos, ou imprecisamente descrita pelos primitivos, é difícil dizer, sendo provável que a falha exista dos dois lados – seja uma formulação muito vaga daquela realidade que em magia chamamos de luz astral.

Foi, contudo, com absoluta clareza reconhecida pelos teurgos egípcios, sendo que em relação a isso não há o transtorno de teorias ou descrições vagas, pois observamos que quase cada jarda dos chamados mundos superior e inferior, Amentet e Tuat, que são os dois aspectos, inferior e superior do plano astral, é cuidadosamente mapeada e suas qualidades observadas. E como se não o bastasse, em alguns dos capítulos de O livro dos mortos, cada subdivisão é descrita com precisão em benefício dos mortos – e, conseqüentemente, em beneficio do teurgo – acrescendo-se os nomes dos guardiões e vigias dos pilões através dos quais a alma defunta tinha que passar a fim de obter o ingresso em alguns outros salões do reino de Osíris.

Repetindo a visão egípcia, Budge menciona que o Tuat não era considerado o subterrâneo seja do céu, seja de seus limites; mas estava localizado nas fronteiras do mundo visível; que não se tratava da um lugar particularmente feliz, percebe-se pela descrição de O livro dos mortos, quando o escriba Ani ali chegou, aparentemente desnorteado, “Não há água ou ar aqui, sua profundidade é insondável, é tão escuro quanto a mais escura das noites e os homens vagueiam sem esperança”. Uma observação final do venerável protetor das Antigüidades egípcias do Museu Britânico é que o Tuat era uma região de destruição e morte, um lugar onde os mortos apodreciam e se deterioravam, um lugar de abominação e horror, terror e aniquilamento; que isto coincide perfeitamente com as esferas astrais inferiores de desintegração ou kama loka pode-se tomar por certo.

O divino astral era conhecido como o reino de Osíris ou Amentet; também chamado de ilha da verdade onde nenhuma alma podia ser conduzida após sua morte até que fosse declarada “de palavra verdadeira” pelos deuses na Grande Avaliação. Um canto dessa região era especialmente reservado como morada das almas beatificadas, onde Osíris, na qualidade de deus da verdade, era a esperança e consolo eterno daqueles de disposição espiritual. Teosoficamente, Amentet poderia ser denominado Devachan, a morada dos deuses, e de um ponto de vista teúrgico ocuparia aquela parte do Azoth à qual demos o nome de divino astral.

De acordo com O livro dos mortos há sete grandes salões e vinte e um pilões que dão acesso a essa região celestial, havendo para cada um dos vinte e um pilões dois vigias ou guardiões sagrados. Numa outra parte desse Livro são dados com certo detalhe os nomes dos arautos e guardiões de portas mais as fórmulas de magia prática mediante a qual eles podem ser sobrepujados o ingresso à ilha da verdade realizado. Tão precisos eram os magos egípcios em seu pensamento que imaginavam correspondências entre as várias divisões do Egito e os domínios metafísicos do Tuat e Amentet. Cada uma das várias camadas ou regiões do mundo astral, tanto grosseira quanto divina, era mapeada com uma precisão que mesmo hoje não encontra com que rivalizar ou se igualar.

Há um outra analogia bastante significativa para a qual devemos dirigir nossa atenção. Entre psicanalistas oficiais encontramos o conceito de inconsciente. Esse termo implica uma corrente dinâmica de pensamento, memória e tendência que flui abaixo do nível de nossa consciência normal individual, servindo como o receptáculo de instintos e memórias raciais e aqueles complexos que são com freqüência o resultado de conflito consciente. Como essa coleção de instintos e impulsos automáticos possui uma origem na evolução muito anterior à formação e desenvolvimento do intelecto no homem, é, conseqüentemente, mais poderosa e urgente dentro dele. É dessas camadas de hábito e consciência racial herdada que se supõe que os primitivos tenham extraído a elaboração de seus eloqüentes mitos e lendas.

Esses são, assim, não somente um registro de história pré-histórica da raça, mas também uma expressão dinâmica daquilo que esses psicólogos chamariam de inconsciente coletivo, visto que com respeito a toda raça e povo primitivos, independentemente de ter havido ou não relação e comunicação sociais, mitos e lendas são essencialmente idênticos. Considerando-se que aquilo que os analistas chamam de inconsciente é praticamente sinônimo num certo aspecto do que os cabalistas denominam Nephesch, e considerando-se que este último se funda na luz astral do mesmo modo que o corpo físico se funda e se forma a partir da matéria grosseira, há entre a luz astral e o conceito de inconsciente coletivo uma clara correspondência. Tal como o inconsciente no caso de alguns indivíduos é uma entidade vulcânica subterrânea que despedaça a integridade e unidade da consciência, do mesmo modo a tradição mágica assevera que é ao aspecto inferior da luz astral, o depósito de memórias raciais, apetites predatórios, instintos e todos os impulsos animais, que uma grande parte da espécie humana deve seus problemas, enfermidades e lamentáveis fontes de conflito.

É sobre essa parte de Nephesch ou do inconsciente que o mago, afirma Lévi, tem que assentar seu pé, de maneira que seja conquistada, controlada e mantida em seu lugar adequado. Ao mesmo tempo, entretanto, o chamado inconsciente com sua riqueza de material animado, sua fertilidade de idéias e sugestões impressivas pode ser para algumas pessoas a fonte de inspiração poética e artística. Esse aspecto do inconsciente, o aspecto mais elevado ou divino da luz astral, ou Neschamah no homem, é o que o mago busca cultivar e expandir, visto que graças ao seu crescimento, desenvolvimento e facilidade de expressão ele opera também sua própria integridade individual e a habilidade de superar a si mesmo.

No interior dessa luz astral que individualmente trazemos conosco em todas as ocasiões e em todos os lugares, vivemos, nos movemos e somos. Cada pensamento que temos grava uma impressão indelével na substância impressionável daquele plano – na verdade a tradição sustenta que ele se funde com alguma das criaturas daquele plano e então é transferido de nosso controle imediato para esse oceano pulsante de vitalidade e sentimento para influenciar outras mentes no bem ou no mal. Toda coisa viva respira e absorve essa luz livremente, não sendo exclusividade ou particularidade de nenhuma. De fato nela vivemos muito semelhantemente a um peixe na água, circundados por todos os lados e em toda direção; e como um peixe nós constantemente a aspiramos e expiramos através de guelras astrais, por assim dizer, dela extraindo energia e para ela acrescentando uma variedade de impressões a cada momento.

Não só é este agente mágico a imaginação da natureza, como também desempenha o papel de memória da natureza, pois cada ato que realizamos, cada pensamento que atravessa nosso cérebro, cada emoção ao deixar nosso coração registram a si mesmos na matéria astral, permanecendo aí por todo o tempo como um registro eterno, de modo que aqueles que são capazes possam ver e ler. Quanto a isso, Éliphas Lévi observou de maneira significativa que “O Livro das Consciências, o qual, de acordo com a doutrina cristã será aberto no dia derradeiro, nada mais é do que a luz astral na qual estão preservadas as impressões de todo Logos, que é toda ação e toda forma. Não há atos solitários e não há atos secretos; tudo o que nós verdadeiramente queremos, ou seja, tudo o que confirmamos por nossas ações, está escrito na luz astral”.

Embora alguns possam pensar que para o teurgo dificilmente possa haver algo mais interessante e esclarecedor do que examinar a memória dessa luz, não é esta a ação do teurgo, pois isso nem o interessa nem lhe é útil na prática. Como seu objetivo é a aquisição de autoconhecimento e a união divina, seria uma certa perda de tempo precioso envolver-se na transliteração desse registro.

A despeito de ser necessário ao mago investigar a natureza dessa luz em seu corpo de luz e familiarizar-se com os aspectos variados de consciência que esse plano continuamente apresenta, no que diz respeito ao seu próprio trabalho, ele sempre procura ascender aos domínios espirituais mais ígneos. Seu interesse na luz astral, sendo esta um plano magnético dinâmico, é no sentido da mesma lhe servir mais pronta e adequadamente do que qualquer outra coisa para focalizar as forças e inteligências com as quais ele aspira entrar em contato. Em segundo lugar, porque nessa luz ou em suas camadas superiores ele pode perceber a si mesmo em reflexo, como os outros o vêem, por assim dizer, e assim obter dados confiáveis que o conduzam ao autoconhecimento.

Separando o bem do mal, o éter solar divino do éter lunar maléfico, ocorre automaticamente uma divisão nessa luz. Nesse plano parece que os pensamentos impuros dos homens perduram por um período mais longo que os bons pensamentos, porque esses aparentemente sobem às camadas mais elevadas, às regiões de harmonia e às partes superiores do mundo da formação. O resultado é que a luz astral, cujo espaço lunar é povoado pelos elementos mais grosseiros e maliciosos do ser, torna-se gradualmente cada vez mais contaminada, sua sujeira pairando sobre a espécie humana como uma mortalha tóxica mortífera.

Nos livros da Cabala, os constituintes dessa mortalha venenosa são comparados aos Qliphoth ou cascões excrementais dos estágios mais baixos de existência. São os córtices adversos, “demônios de rosto canino” de acordo com os oráculos caldeus “nos quais não há traço de virtude, jamais mostrando aos mortais qualquer sinal de verdade”. É esse aspecto da luz astral que é para cada ser humano a serpente sedutora do mal do Gênese, e é aquele aspecto cego que tem que ser transcendido pelo teurgo, visto que sendo representado em sua própria constituição é o que obsta a execução da Grande Obra. Se esse processo de preenchimento do plano astral com os Qliphoth continuasse indefinidamente, sem qualquer meio adequado de eliminá-lo e proceder a uma purificação, resultaria no envenenamento total da espécie humana por suas próprias emanações vis.

A despeito de todos os esforços do modesto grupo de místicos e teurgos ao longo das eras, que transmutam através de suas próprias vidas e realizações espirituais os elementos baixos em bem duradouro e afável, o mal se torna mais pesado em cima do que embaixo, por assim dizer. A excessiva força maléfica é então precipitada de acordo com as leis naturais e cíclicas. Essas precipitações de impureza astral ocorrem realmente sob as formas de convulsões desastrosas da natureza. Terremotos, incêndios e enchentes elementais, e crimes e doenças cataclísmicas são algumas de suas manifestações.

Escrevendo profundamente para confirmação desse parecer, Éliphas Lévi declara a convicção de que a luz astral é “a força misteriosa cujo equilíbrio é a vida social, progresso, civilização e cujo distúrbio é a anarquia, revolução, barbárie, de cujo caos um novo equilíbrio finalmente se desenvolve, o cosmos de uma nova ordem, quando uma outra pomba paira sobre as águas enegrecidas e turvas. Essa é a força pela qual o mundo é transtornado, as estações são mudadas, pela qual a noite da miséria e desgoverno pode ser transfigurada no dia do Cristo... na era de uma nova civilização, quando as estrelas da manhã cantam em conjunto e todos os filhos de Deus proferem um brado de alegria”.

Assim, ao mesmo tempo, a luz astral é um nimbo de máxima santidade e uma serpente vil de destruição, a mais excelsa concepção de um domínio celestial bem como do mais abjeto inferno de depravação. Se é através dos canais da luz astral que são executadas as calamidades universais, e se a anarquia e as catástrofes são o produto de seu desequilíbrio e perturbação, segue-se que através desse meio, também, pode uma ordem nova e aprimorada de equilíbrio e harmonia ser instituída sobre a Terra mesmo em nosso próprio tempo. Uma civilização mais amável pode, assim, ser o resultado da presente passagem a esmo pelo caos e a confusão ignóbil. Eis aqui, então, uma chave à nossa disposição.

Alguns têm acusado o teurgo de ser egoísta no sentido de parecer primeiro empenhar-se a favor de sua própria salvação. Na realidade, seu juramento diz respeito a essa grande realização, essa transfiguração do mundo de desgoverno num aeon mais claro; ele jurou ser o arauto invisível e silente de um mundo novo e melhor. Superficialmente pode parecer que ele tenta lograr um grau de consciência espiritual para si mesmo apenas, e que não se importa em absoluto com o bem-estar da humanidade. Mas seus esforços para alcançar a divindade finalmente redundam no sumo proveito do caminhar normal da espécie humana.

“Eu ...”, disse um sábio, “...se for erguido, erguerei toda a humanidade comigo.”

Assim é com o teurgo. Proclo observou que por meio das invocações mágicas e a união espiritual, as essências divinas parecem de algum modo descer ao mundo e encarnar entre as fileiras dos homens. Quando o teurgo consumou a união com a Alma Universal e se tornou uno com as grandes essências que constituem a alma e inteligência diretora de Adão Kadmon, o homem celestial, está no domínio de seu poder prestar realmente um serviço incomparável à espécie humana, pois esta terá sido sumamente exaltada pela descida dos deuses. Será, então, uma decisiva possibilidade executar as necessárias mudanças na substância plástica e arquétipos do mundo da formação, que atuarão eles mesmos conseqüentemente no plano físico e ajudarão a elevar as mentes dos homens e restaurar a harmonia e ordem eternas das esferas, fontes da vida e do ser.

Mas enquanto o mago não tiver ele próprio instituído harmonia no âmbito de sua própria consciência, seu poder será limitado. Enquanto a beleza e a iluminação não constituírem a ordem de sua própria vida e enquanto ele não tiver equilibrado aquela esfera com as Essências Universais, os centros perenes da luz e da vida que sustentam o universo em todas as suas ramificações, não será capaz de concretizar de maneira cabal esse sonho utópico da humanidade.
(Israel Regardie - Continua)

A BARCA DE RÁ

Ptah-Hotep, vizir do Faraó, Dadkarê-Isési (V Dinastia - aprox. 2.700 a.C.), escreveu :

"Jamais reveles a outrem o que alguém te confiou, abrindo-te o teu coração. Se queres ser um homem perfeito, aperfeiçoa o teu coração. Diz aquilo que é, em vez daquilo que não é. A Amon aborrece o excesso de palavras. Se algo for contestável, não o digas. O teu silêncio é mais útil do que a abundância de palavras. Deixa o teu coração sofrer, mas domina a tua palavra. O segredo mais íntimo revela-se no silêncio. É vasta a influência do homem agradável ao falar. Mas, as facas estão afiadas para quem forçar a passagem, pois esta só é permitida no devido tempo."


A fascinante concepção dos antigos egípcios em uma vida após a morte, na sobrevivência da alma, elaborados conceitos metafísicos, simbolismo, preceitos mágico-religiosos e crenças arraigadas na espiritualidade, iluminaram os séculos posteriores com grandiosidade e ensinamentos. Na mitologia egípcia encontramos simbolismos intrigantes que afirmam o grau de conhecimento daquele povo místico.

Templos magníficos, morada dos deuses, uma apoteose de glórias e de pompas, as solenes procissões das barcas sagradas, seus textos sacros e seus rituais, numa religiosidade e simbolismo que uniam o homem terreno às divindades cósmicas.

Nesse extraordinário universo sagrado, nessa perene certeza de uma vida divinizada e na eterna sobrevivência de uma alma imortal, estava o encanto de suas teogonias e de sua visão do mundo e do universo.

O mundo da cultura egípcia era transparente, uma parte do divino. Tudo possuía um significado espiritual, sagrado e eterno.A grandeza dessa civilização ultrapassa nossa compreensão e se projeta ao infinito, na profundidade dos mistérios, onde suas barcas sagradas continuam navegando, em sua incessante busca dos Campos Afortunados e no seu profundo anseio de uma união com os deuses.

Notória era a dedicação dos antigos egípcios à vida! - não a vida mundana e materialista a qual o ocidente tanto se apega, e valoriza (embora esta fosse celebrada constantemente) - mas a Vida como um fluxo contínuo onde o desenlace é apenas uma transição. Uma mudança de "estado" e de "ambiente".


Partindo deste princípio, podemos notar que mais de noventa por cento das construções que tinham por finalidade a reverência e exaltação à Divindade, estão ainda de pé! As Pirâmides, as Esfinges, os Obeliscos, os grandiosos Templos e outras tantas estruturas de Culto, Ensino e Ritos Iniciáticos (Casas da Vida) cujo objetivo final era Deus ainda resistem solenemente! Portanto, suas moradias e outros locais referentes à "passageira" vida mundana, eram construídos basicamente com adobe para que durassem justamente o fugaz período de uma existência. Faziam isso para lembrarem-se da temporariedade e transitoriedade da vida, cujo objetivo final era RÁ.

Segundo as crenças vigentes entre os antigos egípcios, o homem era constituído por 9 partes ou conceitos, níveis de formação presentes desde o seu nascimento e que permaneciam mesmo após sua morte. Entre esses conceitos, podemos ressaltar o “KA” e o “BA”.

Consideravam que, assim como o coração é o Altar, o corpo é o Templo de "Bah" (a Alma) e devia ser preservado até a entrada do "morto" pelo terceiro portal do Amentis até a entrada em Amduat ("Reino dos Mortos" ou plano Astral).

KA – Era o duplo – a energia vital e, tal como em vida, necessitava ter suas necessidades plenamente satisfeitas pela energia das oferendas, como frutas, pães, aves e vinho. Seus sacerdotes encarregavam-se desses procedimentos, havendo rituais nos quais essas cerimônias eram realizadas.

O KA necessitava de um suporte energético e, consequentemente, teria melhor resultado se encontrasse a conservação do corpo, o que era realizada pela mumificação.

Era a alma ou um conceito dinâmico, que poderia deslocar-se, representado como um pássaro com cabeça humana. Essa entidade poderia visitar a tumba, deslocando-se através da “porta falsa”. Consideravam-na como um repositório das qualidades do morto – sua alma – sua essência divina. Em com sequencia, era o BA que respondia ao chamado dos sacerdotes, durante os cultos divinos e funerários.

O ser vivo possuía um corpo material – DJET. Quando os diversos elementos constituintes se dissociavam pela morte, o corpo mumificado era chamado KHAT.

Para que todos esses elementos pudessem existir, era mais viável encontrar a perfeita conservação do corpo, sua boa aparência, digna de ser reconhecida pelo KA e pelo BA, revitalizada nos rituais de abertura dos olhos e da boca.


O KA, ou o duplo, sendo estático, ficava próximo às estátuas do morto, que se identificava à múmia, e recebia a energia das oferendas. O BA, conceito dinâmico, poderia tomar as formas que desejasse, diferenciando-se nas transformações – KHEPERU – e nas imagens – IRU.

O direito de entrar no mundo dos renascidos não dependia apenas de ser considerado “justo de voz” – ou MAA-KHERU – (justificado), ou de ter agido, durante sua vida terrena, de acordo com os preceitos de MAAT, ou de forma correta e de ter sido aprovado no Tribunal de Osíris.

Além de seu comportamento moral, o morto deveria estar em boas condições físicas: andar – falar – enxergar – ouvir e até manter relações sexuais.

O sacerdote-funerário – o SEM – tocava a boca do morto com um instrumento em forma de dedo, em ouro – o DJEBA – o qual identificaria aquele “ser” com um recém-nascido em uma nova vida.

O ritual prosseguia, e o sacerdote-funerário empregava, sucessivamente, outros instrumentos sagrados: o PESECHEKEF – em forma de anzol – feito de sílex; o NECHERETI, uma enxó e o bastão com cabeça de serpente ou de carneiro, chamado UER-HEKAU – “Grande na Magia”.


Durante todo esse tempo, a estatua do morto permanecia na posição vertical, sobre um monte de areia que simbolizava a Colina Primordial da Criação.

Após os complexos rituais de purificação, abertura dos olhos e da boca, a alma comparece diante do tribunal de Osíris para ser julgada. Se for aprovada, declarada "justa de voz" - "justificada", MAA-KHERU - estará qualificada para prosseguir sua viagem em demanda dos campos afortunados de Osíris ou Campos do IARU.

Deverá atravessar a misteriosa "RO-SETAU" - a "estrada dos mistérios" - e penetrará no AMENTI - o "Belo Oeste" - cruzando os dois pilones de acesso - as 12 horas diárias e as 12 horas noturnas. Nesse trajeto, enfrentará seus pecados; sua própria consciência, sua emoções e seus instintos e paixões.

Prosseguindo, essa alma terá que atravessar o "ANRUTEF" ou "região santa da noite misteriosa das formas", submetendo-se a outra purificação no "Lago do Lótus", guardado pelos quatro macacos cinocéfalos - os babuínos sagrados.

Nesta fase, a alma, já despojada de seus envoltórios grosseiros e materiais do corpo físico, revestir-se-á de novas roupagens, luminosas e transparentes, e tornar-se-á uma "alma divinizada", um AKHU ou IMAKHU - a sabedoria divina.

Chega, finalmente, aos Campos de IARU - morada de Osiris - o SEDET-HETEP - Campos dos Juncos e revive na companhia dos deuses, na refulgência de Rá, e poderá "navegar na barca de milhões de anos".

Já no interior da tumba, ocorriam os últimos rituais com incensos ervas, preces e oferendas.

Eram assim enterrados sempre na margem esquerda do Nilo (o lado onde RÁ, o Sol, se põe) para que, durante a noite, após o "coração" do "morto" registrar leveza maior que uma pluma na balança do "Tribunal de Osíris", sua alma cruzasse o Rio Sagrado na "Barca de RÁ" a fim de "encontrar-se com RÁ" além da margem direita, onde RÁ se levanta.


OS 9 NÍVEIS DA PERSONALIDADE:

1. DJET (em vida) – Corpo físico – transitório – perecível que passava a chamar-se KHAT após a morte.

2. BA – a alma – dinâmica – que se deslocava entre os mundos dos vivos e dos mortos.
Ela passava através da porta falsa como um pássaro com a cabeça humana.

3. KA – duplo – estático– energia vital que se materializava nas estátuas, objetos de culto e em animais sagrados. Corresponde ao duplo-etérico das filosofias esotéricas.

4. REN – o nome – a identidade.

5. AKH – ou AKHU – Espírito de Luz – divinizado.

6. AB – ou IB – Coração, consciência, que era pesado no prato da balança durante o julgamento da alma no tribunal de Osíris – HATTI – era o coração material.

7. SEKHEM – o Poder – a Força – que comanda.

8. SAHU – o Corpo Luminoso e Transparente – a Essência Sublime do Ser – fase celestial.

9. KHAIBIT – ou SHUTI – a Umbra ou Sombra.

Os egípcios acreditavam que durante a noite, apesar do deus-Sol se tornar invisível, a divindade continuava a sua jornada.
Ao pôr-do-sol o deus passava da barca do dia para a barca da noite e, junto com outras divindades, navegava nas águas subterrâneas através das regiões das horas noturnas, iluminando o mundo das sombras e vencendo criaturas demoníacas.

Continuaremos com este assunto no próximo texto, comentando sobre deuses e demônios que atuavam nas ‘viagens’ da Barca Solar.


3 de julho de 2012

TRATADO DAS CAUSAS SEGUNDAS II


Ao décimo sexto lugar 45, depois de Orifiel, ANAEL, Espírito de Vênus, retoma pela terceira vez a direção do Universo, o último dia de janeiro do ano 5315 da fundação dos céus e da terra, o 109 da Natividade do Cristo, para governar durante 354 anos e 4 meses, até o ano do mundo 5669 e 4 meses, que é o ano 463 da Encarnação do Senhor.

Podemos notar que, durante quase todo este período do reino do Anjo de Vênus, a Igreja Cristã se expandiu em meio a perseguições, e termina por prevalecer após a morte de milhares de homens pela fé do Cristo. Finalmente, surgiram no seio da Igreja, numerosas heresias, que (não só) foram sufocadas, com bem das penas, que ao fim de um longo espaço de tempo, no sangue de homens virtuosos. É então que se celebrizaram homens versados em todos os ramos do saber: Teólogos, Astrônomos, Médicos, Oradores, Historiadores, e não somente entre os Gentis, mas assim entre os Cristãos. Os infiéis cessaram enfim de perseguir a Igreja, depois que César Constantin, o Grande, recebeu o batismo o ano do mundo 5539, quando o Anjo de Vênus, Anael, passava o ponto culminante do ciclo de sua dominação. Ele aí teve bem ainda após isto alguns problemas parciais causados pelos ímpios, mas entretanto a Igreja venceu em paz.

Nesta época, o gênero humano que, depois do tempo do rei Ninus, se estava, durante 2.300 anos, miseravelmente extraviado no culto dos ídolos, foi misericordiosamente reconduzido ao conhecimento do Deus único. Diversas artes sutis tiveram crescimento, e, conforme a natureza de Vênus, se desenvolveram e se embelezaram. Porque os costumes dos homens mudaram com o tempo, e as coisas inferiores correspondentes as superiores e recebendo a influência destas últimas. A alma, aliás, é livre, e não é submissa a influência dos astros, a menos que estando muito atada ao corpo ela permita a profanação de seus atributos e se deixa então guiar por ele. Porque os anjos, motores dos orbes, não podem nem destruir, nem alterar nenhuma das coisas estabelecidas pela natureza. Um cometa de uma grandeza extraordinária anuncia a morte de Constantino. A heresia de Arrien perturba a Santa Igreja em muitos lugares. Ao fim deste governo, no tempo do imperador Juliano, a cruz apareceu sobre as vestimentas de linho de certas pessoas.

Na Ásia e na Palestina, as guerras, as pestes e as fomes seguiram as aparições onde no ano 280 do reino deste mesmo ANAEL, o Império Romano começa a declinar, sua capital foi tomada e incendiada pelos Goths, depois que Constantino foi levado a Bizâncio a Capital do Império, ato funesto que foi causa da decadência de toda a monarquia.
Porque no fim do reino de ANAEL, apareceram Radagif, Alaric e Ataulfe, reis dos Goths, em breve seguidos por Gensérie, rei dos Vândalos, e Atila, o rei dos Hunos, que invadiram toda a Europa, despedaçando o Império, assim como nós aprendemos as histórias desses tempos.

Depois de Anael 46, no décimo sétimo lugar, ZACHARIEL, Espírito de Júpiter, retoma pela terceira vez a direção do Universo, o 1º dia de Junho do ano do mundo 5669, que é o ano 463 da Natividade do senhor. Ele reina 354 anos e 4 meses, até o ano do mundo 6.023, que é o ano 817 do senhor. Nestes tempos, numerosos homens se entregaram com ardor ao estudo da filosofia Cristã. Numerosos prodígios se manifestaram: Cometas, tremores de terra, chuvas de sangue.

Merlim nasceu em Calédonia, no começo deste reino, fez predições admiráveis. Arcturus, comumente chamado Arthur, Rei famosíssimo da Bretanha, submeteu os Bárbaros, restitui a paz na Igreja, triunfa em numerosas batalhas, difundindo a fé Cristã, submeteu sob seu cetro a Gaule inteira, a Noruega, a Dacie e muitas províncias. Este foi o mais glorioso príncipe de seu tempo; depois de ter executado muitos feitos, ele desapareceu de repente, e durante alguns anos, os Bretões esperaram seu retorno. Numerosos poetas cantaram suas prodigiosas proezas; sob seu reino, a Inglaterra estava florescente e comandou três vezes dez reinos.

Nestes tempos, as ordens monásticas começaram a se multiplicar na Igreja de Deus. Theodoric, Rei dos Goths Ariens, conquista toda a Itália; ele fez perecer o cônsul dos Beotiens. O Império e a Igreja estavam num problema: Zénon e Anastase, Imperador do Oriente, Theodoric e seus sucessores na Itália, Honorius, Rei dos Vândalos na África, exerceram uma tirania sem igual. É então que Clovis, rei dos Francs de Gaule, recebeu o batismo; ele submete os Goths e impõem a paz, não todavia no mundo inteiro, no tempo de Saint Benoit, no ano quinhentos da era Cristã, para o começo do reino de ZACHARIEL, anjo de Júpiter, cuja influência agradável as mudanças de dinastia e de reinos, o que acontece durante este período, assim como o declara várias vezes os historiadores. O que este anjo não pode fazer por ele mesmo, ele deixa aos cuidados de seu sucessor RAPHAEL, anjo de Mercúrio, que encontra Charlemagne sobre o trono do Francs. Com efeito, durante estes 350 anos, como deve ser os impérios desmoronam: Goths, Vândalos, Burgondes, Lombards, e outros.

O Imperador Justiniano foi o primeiro que e dota a República de um belo conjunto de leis. Muitos homens eminentes se celebrizaram sob ZACHARIEL. Justiniano edifica a basílica de Santa Sophia em Constantinopla. O Império se divide, fica na desordem e na confusão. Numerosos presságios apareceram nesses tempos, assim o conta a história. Cosdra, rei dos Persas, se apodera de Jerusalém; ele foi mais tarde assassinado por Eraclés. Nesta mesma época, para o ano 600 da Era Cristã, o Árabe Mahomet funda a seita dos Sarracenos que suplanta em breve completamente o império Romano na Ásia.

Dagoberto, Rei da France, vence e extermina os Ingleses, então chamados Saxons.
Devemos notar que, logo depois, a fé Cristã começa a se enfraquecer na Ásia e na África, enquanto que se insinua a seita dos Sarranzins que infesta logo o mundo inteiro, exceto na Europa, onde a ordem de Saint-Benoit divulga a religião cristã. Para o ano 774 do Senhor, a cruz aparece sobre as vestimentas de alguns homens, e pouco depois, o Império Romano foi dividido, uma parte passando as mãos dos Francos, sob Carlomagno. Este príncipe restaura a Igreja, e fez numerosas guerras. O nome de Gaule Ocidental foi dada, após suas vitórias, no território Saxon.

Após Zachariel 47, anjo de Júpiter, no décimo oitavo lugar, RAPHAEL, Espírito de Mercúrio, toma uma terceira vez o governo do Universo, o décimo dia do mês de Novembro de 6023 da fundação do mundo, que é o ano 817 da Natividade do Senhor. Ele governa o universo durante 345 anos e 4 meses, até o ano do mundo 6378, ou 1171 do Senhor. No começo deste período de Mercúrio, o Império Romano passa, como nós já dissemos, as mãos de Carlomagno. Após ele, seu filho Louis reina 25 anos, e após sua morte, seus filhos se combateram uns aos outros, debilitando ainda uma vez o Império. Os Normandos devastaram a Gaule. Duas vezes Roma foi saqueada pelos Serrazins. Sob Luis II, choveu sangue durante três dias. Na Saxe, uma cidade inteira, com todo seus edifícios e seus habitantes, foi tragada num instante em um terrível abismo aberto por um tremor de terra.

Para o ano 910 do Senhor, grandes transtornos surgiram na Itália, ela se desliga do império dos Francs, e elege ela mesmo seus Reis: o primeiro foi Bérenge, (Berengário I), duque de Frioul, ao qual sucederam sete reis em um espaço de aproximadamente cinqüenta anos, até o momento onde o Império passa aos Germains. O primeiro Imperador foi Othon, que empreendeu a reconstrução da Monarquia.

Othon, seu filho, e Othon, seu sobrinho, seus sucessores ao trono imperial, converteram os Hongrois a fé Cristã. Mas Othon III, morreu sem filhos, institui os Eleitores do Império, no ano 1000 da Era Cristã, e ela se conserva até os nossos dias. Os Sarracenos se apoderam uma vez ainda de Jerusalém.

Numerosos presságios foram vistos no céu, no ar, sobre a terra, sobre o mar e nas águas. Com a morte de Othon III, Henri I lhe sucede por escolha dos Príncipes. Ele reina 20 anos funda a Igreja de Bamberg. Nesse mesmo tempo que Kunégonde, sua mulher, morre uma virgem célebre por seus milagres. Após ele, Conrad I foi eleito Imperador, e reina 20 anos. É assim nesta época que Godfroy, conde de Bouillon, arrebata dos infiéis Jerusalém e a Terra Santa.

Antes do fim do reino de RAPHAEL, vemos presságios numerosos, e, pouco tempo depois, a raça Tártara, saindo de suas fronteiras, inflige grandes males ao Império Romano. A fome, a peste, os tremores de terra e outras calamidades desabaram sobre o Império; três Sois e outrotanto de Luas aparecem ao Oriente. No ano 1153 do Senhor, Frederic I, denominado Barberousse, toma o cetro. Ele reina 33 anos a partir de trezentos e trinta e seis anos do governo de RAPHAEL, e executa numerosas coisas admiráveis: ele aumenta as forças do Império e empreende vitoriosamente numerosas guerras. Sob seu reino, os Egiens e os Lithuniens abraçaram o Cristianismo.

No décimo nono período 48, SAMAEL, anjo de Marte, retoma pela terceira vez o governo do universo, o 3º dia de Março do ano do Mundo 6378. Ele reina 354 anos e 4 meses, até o ano do mundo 6732, ou o ano do Senhor 1525. Sob sua dominação, aconteceram numerosas guerras no mundo; milhares de homens pereceram e vários reinos perderam seus limites. O Imperador Frederic I, teve muitas discussões com os Príncipes Romanos; ele manteve contra eles grandes guerras, onde os Romanos pereceram aos milhares. Ele devasta Milão completamente. Liége foi destruída. Jerusalém foi ainda retomada pelos Sarrazins.
O Império dos Tártaros toma então uma grande extensão; isso foi uma verdadeira calamidade para o mundo; e isto dura ainda. Após Frederic, seu filho Henri foi eleito imperador. A morte deste, um cisma entre Philippe e Othon divide o Império e causa grandes perturbações: muitas batalhas seguiram-se nas fronteiras da Alemanha, Argentine, Cologne, Spire em Wurtemberg e em todo reino.

A ordem dos mendicantes foi instituída nesta época, no quadragésimo ano de SAMAEL, ou cerca disso, o que prova que todas as coisas são providenciais. Na Ásia e na África, os Sarracenos deram numerosos combates aos Cristãos. Constantinopla, foi tomada pelos Alemães, e Baudoin, conde de Flandre, foi elevado a dignidade imperial. Mais de 20.000 infantes da Alemanha, seduzidos pelos discursos mentirosos lhes persuadindo de reconquistar a Terra Santa, foram arrebatadas sobre o mar dos piratas. Um bando de pastores vindos da Espagne, se aproximam de Paris, se apoderaram dos bens da liberdade, a grande jóia do povo; mas quando eles quiseram por a mão sobre estes bens seculares, eles foram massacrados.

O ano 1212 da Era Cristã, Frederico II, foi eleito imperador; ele reina 33 anos, e fez muitas coisas contra a Igreja. Em 1238, um eclipse teve lugar, e os tremores de terra contínuos mataram milhares de pessoas. A Frise foi quase inteiramente submergida e mais de cem mil homens pereceram. Os Tártaros devastaram a Hungria e a Polônia, e conquistaram a Armênia e vários outros países. O ano 1244 da Era Cristã, um Judeu, escavando o solo perto de Toledo, encontra um livro onde estava escrito que o Cristo nasceu da Virgem Maria no terceiro mundo, e que ele sofreu para salvar os homens: imediatamente convertido, ele foi batizado.

O terceiro mundo, isto é o terceiro período do Espírito de Saturno, foi, como nós havíamos precedentemente exposto, o tempo onde o Cristo nasceu de uma Virgem. Os Pontífices Romanos, ao depor Frederico, deixaram o trono imperial vago durante 28 anos, até a eleição de Rodolphe, conde de Habsbourg, que foi escolhido em oposição aos outros príncipes candidatos, que eram: Henri, conde de Scwarzenburg em Thuringe; Guillaume, conde de Hollande; Conrad, filho de Frederico; Alphonse, rei de Castille; e Ricardo, conde de Cornouailles, irmão do rei da Inglaterra. Os maus se multiplicaram sobre a terra.

Nestes tempos, para o ano 1260 do Senhor, pode nascer a Confederação Suíça, pequena nação que tomou com o tempo grande extensão; ela atacou a outras nações graças aos homens belicosos que se ergueram em seu seio, e ampliaram suas fronteiras, o que foi conhecida em toda Alemanha, a nova Republica. O ano 1273 da Era Cristã, a assembléia dos Príncipes escolheram Rodolphe de Habsbourg que reina 18 anos. Homem prudente e sábio em todas as coisas, é dele que descendem todos os duques da Áustria. Os Tártaros invadiram os países cristãos, se apossaram de Constantinopla e da Grécia, causando grandes prejuízos aos Cristãos. Os Sarracenos tomaram várias cidades na Ásia, matando mais de 400 Cristãos. A morte de Rodolphe, Adolphe de Nassau foi eleito Imperador, e reina 6 anos. Albert, filho de Rodolphe, o vence em Worms, e o tendo morto, foi eleito em seu lugar em 1298. Após dez anos de reinado, ele foi morto pelo filho de seu irmão.

A Ordem dos Templários foi destruída sob a injunção do Papa Clemente V. A ilha de Rhodes foi retomada aos Sarracenos após um bloqueio ininterrupto de quatro anos. Após o assassinato de Alberto por seu sobrinho, Henri VIII, conde de Luxemburg, foi nomeado Imperador e reina cinco anos. Após ele, Louis IV, da Baviera, foi Imperador durante 32 anos, a partir de 1315; isto acontecido os Cardeais romanos que lhe haviam dado a coroa.Frederic, duque da Autriche, se objeta mas foi batido. Em seguida Charles IV, rei da Boheme, foi Imperador durante 31 anos; ele eleva a dignidade arcepiscopal o bispado de Prague. Grandes temores de terra se produziram. O mesmo Charles institui de novo os direitos de arrecadação de impostos em favor dos Príncipes Eleitores. Gunther, conde Schwarzenburg, tendo tomado o título de Imperador, fez uma vã oposição ao Imperador Charles. Após sua morte, seu filho Wenceslas reina 22 anos. Iodoque, Marques da Moravia, venceu Sigismundo, filho de Wenceslas, e Wenceslas foi deposto. Leopold, duque de Autrich, foi morto com 8 condes e mais 4.000 Suisses na guerra que ele havia empreitado. É sob Wenceslas, Imperador e Rei da Bohemia, que a seita dos Hussites pode nascer. Após a deposição de Wenceslas, Rupert, conde Paladino do Rhin e duque da Baviera, foi eleito Imperador e reina 10 anos.

O ano 1396, os Cristãos declaram a guerra aos Sarrazins, mas sem sucesso, por causa da arrogância dos Franceses. Cem mil homens sucumbiram ou foram conduzidos em cativeiro como Jean, duque de Bourgogne. Houve muitas guerras nesses tempos. Em 1407, Sigismund tornou-se Imperador e reina 27 anos. Ele fez devastar a Boheme, para extirpar a heresia, mas sem grande resultado. O reino da França foi espantosamente devastado pelos Ingleses e os Bourbuignons. A morte de Sigismund, seu genro Albert, duque da Áustria, lhe sucede no ano 1438 da era Cristã e reina dois anos. Este foi um homem excelente e digno do Império. Após ele Frederic III, duque da Áustria, filho de Ernest, foi eleito Imperador pelos Príncipes. Ele reina 56 anos. Este foi um homem de gênio divino e de alma pacífica. Ele sobe ao trono no ano 1440 do Senhor.
Em 1453, Constantinopla foi tomada pelos Turcos, pela traição de um certo Janvens, e breve a Grécia inteira abandona o Cristianismo. Pois, em pouco tempo, vários principados e reinos cristãos foram tomados e devastados pelos Turcos. Nesses tempos graves, numerosas guerras eclodiram entre os Cristãos, na Gaule, na Inglaterra, na Saxônia, na Westphalia, na Prússia, em Flandre, na Suécia, e outros países. É nesta época que a arte da imprensa, admirável invenção, presente divino, foi reencontrada em Mayence, metrópole da Alemanha.

No ano 1456 da Era Cristã, os Turcos massacrados na Hungria pelos fiéis, pereceram em grande número. Uma Admirável peregrinação de infantes veio a Saint-Michel. Houve no reino de Naples tremores de terra que fizeram perecer mais de 40.000 pessoas. Em 1462 do Senhor, Mayence, Metrópole dos Francos, foi tomada e saqueada. Charles, duque de Bourgogne, assalta os Franceses em 1465. Dois anos mais tarde, em 1467, ele destrói Dinan e Laon. Em 1473, ele invadiu a Gueldre, a conquista pela força das armas, assim como o ducado de Lorraine.

Um cometa apareceu no mês de janeiro do ano 1472 do Senhor. O ano seguinte, em 1474, Charles, duque de Bourgogne, coloca bloqueio diante da época, os Turcos se apoderaram de várias vilas Cristãs, de Negrepont em Eubée, do Reino de Bosnie, do Ducado de Spéte, de Achaie, da Mysie e de vários principados do Oriente. Em 1476, se realiza em Wickaushausen, na Franconia, uma grande assembléia de loucos, onde foram formuladas um montão de tolices.

Em 1480, os Turcos assediaram Rhodes com uma possante armada, mas sem sucesso; eles deixaram Rhodes no mesmo ano, e se apossaram de Hydron, onde mais de 12.000 Cristãos pereceram; 22 somente escaparam pela fuga. O ano seguinte, o Sultão dos Turcos, Mahomet, morreu, e seu filho primogênito, Bajazet, lhe sucede no trono, na idade de somente 27 anos. O ano 1486 da Era Cristã, Maximiliano, filho de Frederico, foi sagrado Rei dos Romains em Franckfort, e saudado Imperador em 1508 pelo Papa Jules II. Ele funda a Ordem militar de Saint-Georges contra os heréticos e os Turcos; ele vence os Suíços, submete os Sicambres, e triunfa sobre todos os rebeldes. O Rei da Franca, segundo seu costume, sempre com a pretensão da coroa Imperial, trama com astúcia contra o Império; mas o Todo Poderoso mantém o que foi organizado sob o regime de SAMAEL.

Em 1508, os Venitiens, revoltados contra a autoridade do Imperador, são punidos com o desterro e a morte: a obstinação será punida, a prudente submissão recompensada. Ao fim deste terceiro período de SAMAEL, uma mudança importante, reconduz as coisas a seu primeiro estado, motivou a destruição de numerosos mundos; com efeito, se, pela vontade de Deus, o ponto gama não é reconduzido para o Norte 49, ele sobreviverá uma mudança em qualquer Monarquia ou num grande reino. Uma grande seita religiosa se elevará para substituir os antigos cultos. Está a temer que a Quarta besta não perde uma cabeça 50. Durante o primeiro período de SAMAEL, Marte anuncia o Dilúvio; durante a Segunda, a ruína de Tróia; para o fim da terceira, aura aí a ruptura da Unidade; com efeito, segundo o precedente, podemos inferir o que se seguirá: este terceiro período de Marte não se acabará sem que a profecia se cumpra, e que uma nova religião seja instituída.

Resta, a partir deste presente ano 1508 da era Cristã, 17 anos antes da expiração do reino de SAMAEL; ele aí manifestará os presságios de desgraças, pois, antes do ano 1525 da era Cristã, as cruzes vistas nestes dez próximos anos sobre as vestimentas dos homens auravam suas conseqüências: mas a treze anos daí, pela força do direito, tu cederás o lugar ao ignorante, para, após os acontecimentos necessários, te revelará maior em teu pequeno filho, a meu aviso, a menos que ele não te seja dado de dominar as sombras que te ameaçam.

Para o vigésimo período 51, GABRIEL, anjo da Lua, retoma a direção do mundo, o 4º dia do mês de Junho do ano 6732 da criação, que é o ano 1525 da Era Cristã. Ele governará o Universo durante 354 anos e 4 meses, até o ano do mundo 7086, no oitavo mês, ou 1879 da Natividade do Senhor. Ele cria uma profecia para a série de acontecimentos futuros. Eu não garanto as coisas que escrevo, sapientíssimo César, mas podemos razoavelmente aí crer sem prejuízo para a fé ortodoxa. Existem as pessoas que presumem que os períodos correspondem aos meses Lunares; se tal é vossa opinião, eu aí então concordo, mas ele Faudrait então mudar o que já escrevi 52.

De resto, de mão eu testemunho, da boca eu confesso que em todas as coisas, eu creio e admito o que a Igreja Católica tem aprovado pela autoridade de seus doutores; e eu rechaço todo o resto como vãs e supersticiosas ficções.
Notas

1. Este pequeno tratado é dividido em três setenários sendo ao todo vinte e um períodos, sobre os quais Trittheme descreveu só vinte, correspondendo as vinte primeiras lâminas do Tarot, as vinte primeiras letras do alfabeto hebreu. Está construída como várias outras obras análogas, tais como o Evangelho de São João e seu Apocalipse, e também do mesmo modo que Tableau naturel de Louis-Claude de Saint-Martin, a Lumiér sur le Sentier, etc., o que faz com que nós não devemos lhe atribuir unicamente um sentido temporal, mas ainda um sentido espiritual. O Setenário sendo, como o declarou mui justamente um cabalista moderno, à dupla consciência que o ser toma de forma (MH) e da vida (MI) - que são, segundo a linguagem da mística cristã, a Carne e o Sangue do Demiurgo Jesus Cristo - o triplo setenário do "Tratado das Causas Segundas" descreve a evolução da consciência através dos três mundos. É, por conseguinte, de uma só vez um tratado de Hermetismo e de Astrologia, ciências que são, em todo caso, apenas duas das seis faces da Ciência Única, diferenciadas somente, e pela adaptação, pela terminologia e o método de exposição.

2. ORIFIEL, em hebreu (O R I PH I - E L la - y p y r w ) significa Céus ou Nuvem Negra de Deus. O nome que corresponde a natureza de Saturno, é SHABATHIEL, em hebreu (SH B TH I - EL la - y t b c) diretamente derivado do nome do planeta (SH B TH I - y t b c) e que quer dizer Repouso de Deus. Há um outro ponto de vista, lhe dando assim o nome de Kassiel, em hebreu (K S I - EL la - y c k) que significa Trono de Deus; e ainda muitos outros nomes.

3. É o dia do Equinócio da Primavera, no momento onde o Sol entra na Constelação de Áries; Trittheme disse: o quinto dia do mês de Março, visto que a Lua, que preside aos meses, só foi criada no quarto dia, segundo a narrativa alegórica de Moisés. (Gêneses, I, 16). Segundo uma outra tradição, que considera então a ordem temporal, os cinco dias de diferença com a data atual 20 de março, seriam as cinco (epagomenes). Cada raça humana tendo uma evolução de vinte e cinco mil novecentos e vinte anos, mais um dia, devido a transposição dos pólos.

4. É este Espírito de Deus - Ruach Elohim - que preside ao caos, no Gênese, 1,2: os elementos estão em luta nas trevas.

5. Este primeiro período corresponde a primeira lâmina do Tarot, nomeado O Mago; assim como a primeira letra do alfabeto hebreu, a Aleph a, o ático, a hipótese necessária e razoável a qual se choca o espírito humano, quando ele busca remontar a origem das coisas; esta letra representa o Infinito, o Ain-Soph dos Cabalistas, designado por Moisés sob o nome de Thehom, o Abismo primordial, a origem de todo o possível; é o Parabrahm ou Impessoal dos hindus; o Zerwané-alkéréme ou Tempo-sem-limites de Zoroastro e de Parsis; o Osiris Negro, ou Deus não manifestado dos antigos mistérios egípcios; o Ceugant dos Druidas; é assim o Um em sí, o Primeiro dos Alexandrinos; o Bythos dos Gnósticos; o Unground de Boehme; o ser puro de Hégel. É, nos diz Eliphas Levi, "O Ser em sua concepção a mais abstrata e a mais geral". Das Sete Ciências sagradas correspondem aos sete primeiros princípios, a Alquimia propriamente dita, que estuda o espírito dormente no plano mineral, corresponde a este período.

6. A Gênese, em seu sentido exotérico, declara, ao contrário, muito explicitamente, que nossos primeiros pais gozavam de uma grande felicidade no Gan-Eden. E seria útil que o leitor consultasse a este respeito as primeiras páginas do Etat Social de Fabre D'Olivet, que lhe fornecerão importantes luzes.

7. ANAEL, em hebreu (A N - E L ou A N I - E L la - y n a ou la - n a) significa "Acolhe-me Senhor", grito da monada em delírio da objetividade, que equivale ao nome divino, (E H I H h y h a), Ehieh, que traduzimos ordinariamente por "Eu Sou", mas significa exatamente "Eu Serei", para indicar a posse afirmativa do ser. A tradição grega narra que "o Amor deslinda o caos", a ANAEL é o Anjo do Amor, é assim o príncipe da luz Astral, criado no primeiro dia, quando Deus exclamou: "Faça-se a Luz ...". São João diz no Cap. I de seu Evangelho: "E a Luz resplandece nas trevas". Anael preside igualmente ao reino vegetal, o que faz que a ciência que lhe corresponde, é a botânica oculta, a medicina hermética, que estuda os segredos e as virtudes curativas das plantas e suas aplicações. Do XV e ao XVII século, a Entidade reitora do Espírito-Humano manifesta um circulo exterior, conhecido sob o nome de Fraternidade Rosa-Cruz, que estudava principalmente a botânica oculta. E em nossos dias, um centro iniciático, a G. D., pretende derivar desta famosa Fraternidade.

8. Estas seis palavras indicam o processo de ação dos Princípios Reitores, sua força vai aumentando progressivamente do início de seu reino até o meio, depois vai em seguida diminuindo até o fim de sua revolução - ou antes, isto assim nos parece...

9. O 24 de junho, é o Solstício de verão, São João, que se refere a Segunda lâmina do Tarot, a Papisa, que representa uma mulher sentada, símbolo da estabilidade, assim como está escrito no Gênese (1.,9): "Que as potencialidades esparsas na imensidade convergem para um lugar único, e a estabilidade aparecerá". A primeira lâmina do Tarot representa um homem em pé, a Segunda uma mulher sentada, segundo as palavras do Zohar; "Deus marcha para sentar-se, e ele se assenta para marchar de novo". Esta lâmina corresponde a letra Beth b, a Segunda do alfabeto hebreu, que é o primeiro número, isto é, a Unidade manifestada, oposta a Unidade em sí, que é o Ain-Soph.

10. Trittheme faz alusão aqui de uma maneira velada a sentença do Apocalipse (XIII.,18): "Que aquele que possui a Inteligência, calcule ..."

11. Eles se afastaram por meio da emanação, assim que a luz se enfraqueceu em proporção da sua distância do centro que a produziu. É, sobre um outro plano, a transição da constituição do universo á sua evolução, que na realidade é uma involução. É filosoficamente, a ruptura da Unidade, perdendo a noção de Deus.

12. ZACHARIEL, em hebreu (Z K R I - E L la - y r k x), quer dizer Lembrança de Deus, se chama assim Zadkiel, em hebreu (TZ D Q I - E L la - y q d x), isto é Justiça de Deus, para nos informar que o homem, durante este período é submisso a uma lei rigorosa a qual ele não pode escapar; ZACHARI-EL indica que a noção viva da Divindade se muda, por conseqüência da degradação, em uma simples reminiscência.

13. Este período corresponde a terceira lâmina do Tarot, a Imperatriz, e a letra Guimel g do alfabeto hebraico, símbolo da primeira exterioridade (aparência). Na vida fisiológica, é o ato do amor que une o Pai e a Mãe, o terceiro lado do triângulo que junta os dois outros.

14. RAPHAEL, em hebreu (R PH - E L la - p r) significa "Deus curandeiro", é o senhor do patriarca Isaac.

15. Este quarto período corresponde a letra Daleth d do alfabeto hebraico, símbolo do "Primeiro Ser", e a lâmina do Tarot, que leva o nome de "O Imperador", a pedra cúbica. É assim, a realização dos atos, dirigida pela ciência da verdade, o amor da justiça e a força da vontade. Na vida humana, é a emissão dos fluidos seminais.

16. Aqui se acha obscuramente enunciada a lei da perfeitabilidade dos seres, fatal até o homem, livre em seguida, tese que Darwin e Haeckel foram simplesmente renovando.

17. SAMAEL, em hebreu (S M - E L la - m c), significa "Doutrina superior", é conta a tradição, o gênio de Esau. Segundo a Midrash Petirath Mosheh, foi ele que enlevou a alma de Moisés.

18. Este quinto período corresponde a letra He h do alfabeto hebraico, símbolo da "Mulher" e da vida; é a lâmina Quinta do Tarot, "O Papa". Na vida humana, é o movimento próprio dos fluidos seminais dentro da matriz.

19. Dentro de um senso não temporal, o dilúvio consiste em uma sorte de dissolução que sofrem os seres criados, no curso de sua involução, o que faz pensar a Saint-Martin que o quinário é um número de uma perigosa e má natureza. Em realidade, filosoficamente falando, é o Lethe superior, onde as monadas, durante sua descida, tomando o esquecimento total da noção divina. Tanto que o indivíduo está submisso aos renascimentos e as reencarnações, ele deve beber esta água que dissolve, ou antes, afasta a memória do passado, das agonias de uma Segunda morte que fez dizer o apóstolo, falando do que é nascido para a imortalidade: "E a intumescência das grandes águas não se aproximou mais dele".

20. Isto já foi explicado na nota 8.

21. GABRIEL em hebreu (G B R I - E L la - y r b g) significa "força de Deus", Segundo a Midrash Aba Gorion, Gabriel é o anjo que alimentou Abraham em uma caverna. É assim o gênio de Joseph.

22. Este sexto período corresponde a letra Vav } do alfabeto hebraico, símbolo do "Trabalho". É a relação de causo e do efeito, é assim o instante da junção do espermatozóide e do óvulo. O Tarot nomeia a sexta lâmina "O Enamorado".

23. Com efeito, durante o reino de Samael, uma expansão desordenada se produziu, enquanto que o resultado desta colossal dilatação da vida universal e passiva só se fez no período seguinte.

24. MICHAEL, em hebreu, (M I - K - E L la - k - y m), significa "Quem é como Deus?". É o mesmo grito do Arcanjo combatendo o dragão, o famoso "Quis ut Deus?" Proferido pela primeira consciência do ser no mais inferior dos três mundos. MICHAEL se protege contra os golpes do demônio tendo, na mão esquerda, o "Escudo de David", mais conhecido sob o nome de "Selo de Salomão", enquanto que ele o transpassa com sua lança, símbolo da unidade.

25. Este sétimo período se refere a letra Zain z do alfabeto hebraico, que significa "O Ovo fechado". A cabeça do espermatozóide, desprendida do resto, e encerrado no óvulo, como Nóe dentro da Arca, indica o triunfo do real sobre o possível. A gestação vai começar no seio da matéria, para a submetê-la e elaborá-la mais tarde. No Tarot, a curiosa lâmina que corresponde ao nome "O Carro De Hermes".

26. Este oitavo período que é o primeiro do segundo setenário, corresponde a letra Heth j do alfabeto hebraico, "O duplo stauros". Ele marca uma época decisiva na vida humana. O feto passa pela cor cabeça de corvo dos alquimistas; o individuo vive uma existência puramente relativa, suportando, no seio, todas as influências que agem sobre sua mãe. O Tarot nomeia esta lâmina "A Justiça".

27. O mistério da Torre de Babel se torna em grande parte elucidada no Capítulo da Luz do Egito intitulado "O Satélite Sombrio" ao qual nós remetemos o leitor. Segundo a mística cristã, é a esfera do Anticristo. É a massa de sombra comprimida entre a dupla espiral descendente e ascendente que se forma então da queda edênica fora da esfera da eternidade.

28. Estes são os primeiros movimentos do ser embrionário que se faz sentir.

29. Este nono período corresponde a letra Teth f do alfabeto hebraico. É o grande número mágico, símbolo da hierarquia. Ele representa a placenta na gestação. A lâmina correspondente do Tarot é O Eremita, cujos mistérios são mais especialmente estudados no "Martinismo", sociedade iniciática renovada depois de tempos, por Martinez de Pasqually, e continuada até hoje pelo doutor Papus.

30. Este décimo período corresponde a letra Iod y do alfabeto hebraico, símbolo do princípio racional das coisas sobrenaturais; na vida humana, é o instante do nascimento. Do ponto de vista filosófico, é o centro de manifestação.

31. Isto se refere a lâmina do Tarot, denominada "Roda da Fortuna".

32. Héber é o patriarca dos Hebreus e dos Arabes, assim o demonstrou Fabre d´Olivet.

33. Tais foram mais tarde o homúnculo de Paracelso e o Andróide de Alberto, o Grande.

34. Vêr, "Le mystére do Progrés", por Alexandre, Saint-Yves. Paris, Didier, 1878, in-12.

35. Conf. Jamblique, "De Mysteris Egyptiorum", ch. V: Evocations.

36. Este décimo primeiro período se refere a letra Caph k, do alfabeto hebraico. Símbolo da idade da razão. É o momento onde a criança sai do ventre de sua mãe, é ainda ligado a ela pelo cordão umbilical. No Tarot, esta lâmina se chama "A Força", e simboliza o universal poder de assimilação. É o fruto filho da fortuna que amadurece e se destaca da árvore.

37. Este décimo segundo período se reporta a letra Lamed l do alfabeto hebraico, que designa a realização. Ela corresponde ao "Enforcado" do Tarot, símbolo da Grande Obra; este homem pendurado com a cabeça para baixo indica segundo Trittheme, a derrubada de Tróia. É a chave da primeira palavra do Gênese. (B R E SH I TH t y c h r b) que podemos ler assim o que mostra a figura.

38. Este décimo terceiro período corresponde a letra Mem m do alfabeto hebraico, símbolo da Transmutação. O grão semeado na terra apodrece para renascer. Aí reside todo mistério da Franco-maçonaria: seu triângulo, ao invés de significar uma trindade viva, simboliza o ternário em si.

As três famosas letras L.P.D. que são traduzidas no mundo profano por "Liberdade de passar", que os maçons não iniciados crêem significar "Liberdade de pensar", ou "Liberdade, Dever, Poder", que Eliphas Levi traduziu assim "Liberdade, Destino, Providência", significando realmente e tradicionalmente: LIBRATION, DESTRUCTION, PRODUCTION, palavras que podemos ler em latin, e os colocando cada um no vértice de um triângulo equilátero direito.

A palavra LIBRATIO, situada no vértice superior, é composta de oito letras, e a cifra árabe 8 designa, por sua figura, o infinito. Ele corresponde a Brahma.

A palavra PRODUCTIO, composta de nove letras, se coloca no ângulo da direita; em cifra árabe é o infinito que sai dele. Mesmo para produzir Vishnú, assim o indica sua forma: uma espiral que nasce de um círculo.

Enfim a palavra DESTRUCTIO, colocada a esquerda, e composta de dez letras, símbolo da "seité" do individuo, e não de sua aniquilação, como fazendo a fazer crer os que perderam o esoterismo do Brahmanismo, e fez de Shiva um deus destruidor. Isto prova a origem indiana da Franco-maçonaria.

Os Franco-maçons modernos, ao interverter a ordem das duas últimas letras, estavam proferindo uma espantosa heresia, pois eles fizeram nascer a vida da morte. Podemos ler, aliás, com proveito, em seu sentido interior, o tratado de Aristote sobre "a Produção e a Destruição das coisas."

39. Este décimo quarto período se refere a letra Num n do alfabeto hebraico, que segundo Eliphas Levi, significa exatamente "As misturas: os mistos."É a perpetuidade do movimento e a lei de reversibilidade. É assim a haste que surge do solo, a primeira infância. A décima Quarta lâmina do Tarot se chama a "Temperança"; ela representa o anjo da Sabedoria oculta tendo em cada mão um frasco de onde jorram de um ao outro as duas essências cuja união constitui o Elixir da Vida.

40. Este XV período corresponde a letra Samech s do alfabeto hebraico, símbolo da "Fatalidade". O Tarot nomeia esta lâmina "O Diabo"; todos os mistérios da predestinação se unem aí, e a lei do choque de retorno aí é representada de uma maneira velada, ela é verdadeira. É o prólogo do "Crepúsculo dos Deuses".

41. Nós não temos necessidade de insistir sobre todo este parágrafo, o menos velado de todo livro. Contudo, nós recomendamos vivamente a leitura da "Tetralogia" de Richard Wagner, cuja meditação seria falha de lançar vivas luzes sobre este parágrafo e o seguinte.

42. É em 1881, que o Sol por conseqüência de seu movimento retrógrado passa da constelação de Peixes, para a de Aquário, e não em 1897, como querem fazer crer os universitários. 1881 é assim uma cifra mística.

43. Roma em hebreu, "A Elevada R M O, substitui a "Cidade da Paz". Roma é a Cidade Eterna; tendo aí chegado pelas 32 vias da Sabedoria; e tendo aí entrada pelas cinqüenta portas, as da inteligência; e não existe outra via; é porque é dito que "todos os caminhos levam a Roma".

44. A libertação.

45. Este XVI período corresponde a letra Ain u do alfabeto hebraico, símbolo da "destruição por antagonismo". É o eterno combate entre Ormutz, o Rei da Luz, e Arihman, que recomeça sob um outro plano. Ormutz o leva como indica Trittheme certas linhas mais adiante. A monada se desembaraça com dificuldade da ganga da matéria; a libertação é lenta, mas segura. Do mesmo modo jato de água eleva-se necessariamente até o terço da altura primitiva da queda, assim a monada desorbitada e lançada segundo uma espiral inscrita em uma parábola retorna fatalmente através dos três reinos inferiores que constituem o ciclo da fatalidade, assim como está escrito (Êxodo, VI ,3): "Eu me manifestei a Abraham, Issac e Jacob sob o nome de El-Shaddai (Deus fatídico - o Wotan dos Druidas -), mas eles não conheceram o tetragrama (a lei de libertação).

46. Este XVII período correspondente a letra Phe p do alfabeto hebraico, símbolo da "Fecundidade" e da "Encarnação". A lâmina correspondente do Tarot se chama "A Estrela". É o sinal do quinto principio no homem, a intuição, o Filho.
47. Este XVIII período corresponde a letra Tzade x do alfabeto hebraico, símbolo do "ocultismo", e a lâmina do Tarot nomeada a "Lua". O inimigo se vê vencido, tenta um último assalto, assim como está escrito: "Vigiais e orais, afim de que vós não entreis na tentação".

48. Este XIX período corresponde a letra Qoph q do alfabeto hebraico, símbolo da "Cidade Santa". O Tarot nomeia esta lâmina "O Sol". É a descida da Jerusalém celeste, a transição da vida terrestre a vida superior.

49. Aí está expresso o mistério da precessão dos equinócios.

50. Alusão ao Apocalipse.

51. Este período corresponde a letra Resh r do alfabeto hebraico, símbolo de AZRAEL, o anjo dos Vales Futuros. É ele que deve dissolver com sua espada Satélite Sombrio, de quem não restará mais nada, de hoje em diante: o mal aura para jamais desaparecer, para fazer lugar ao bem e a vida eterna. Assim o Tarot nomeia com certa razão esta lâmina: "O Juizo Final", ou a última purificação pelo fogo, executada pelos rigorosos Seraphins. A Segunda morte livrará definitivamente Psychée dos liames da matéria.

52. Esta frase é uma indicação precisa sobre a maneira de interpretar este livro, denominado por Trittheme uma Cronologia Mística. Ele está construindo segundo a tradição masculina essênica, e não outra. Os detalhes, logo pouco numerosos ao início da obra (e esta se concebe facilmente), aumentando em uma proporção gradual ao passo do desenvolvimento dos princípios expostos. Por estas notas, nós estamos persuadidos de dever seguir uma ordem inversa, a fim de deixar uma maior latitude aos buscadores. As duas últimas lâminas do Tarot, o Shin c, símbolo da "Matéria abandonada", e o Thau t que representa a "Ciência universal", não são pontos descritos, porque sua ação, no lugar de se limitar no Tempo, se eleva até a eternidade, o Shin c sendo o caminho que religa os Três mundos da esfera resplandecente de Atziluth, cujo Thau t é o coroamento supremo, o limiar mesmo do Absoluto.
(Jean Trittheme)

TRATADO DAS CAUSAS SEGUNDAS


Este pequeno livro tem em si efetivamente, sob seu aspecto simples e modesto, grandes mistérios, que o autor teve o maior cuidado de desenvolver sucessivamente em um latim inteiramente hieroglífico e cabalístico, impenetrável aos olhares dos profanos, e cuja tradução em qualquer outra língua moderna não dará senão, uma imagem incompleta e exterior.

É porque, afim de remediar esta imperfeição, e no fito de aplanar parcialmente a dificuldade, nós nos decidimos levantar uma pequena ponta do véu, tanto quanto nós é permitido de o fazer, e a dar, aqui mesmo, qualquer breve, mas precisas indicações, que serão, cremos nós, úteis aos pesquisadores concenciosos, letra morta para os curiosos e os desocupados.

A terminologia oculta, quando trata-se de planetas, parece empregar indiferentemente as denominações de Espírito, de Anjo, ou de Gênio. Nas obras escritas por verdadeiros iniciados, e nós não falaremos dos outros, isto não é dada, e isto é assim feito, afim de confundir as investigações indiscretas e vãs.

Estes três termos Espírito, Anjo e Gênio, ainda que tendo entre eles um parentesco, uma conexão estreita, exprimem contudo coisas bem distintas. Nós vamos tratar de dar uma definição de cada um deles, tanto, todavia, quanto alguém possa definir um princípio:

O Espírito de um planeta é a faculdade superior criadora e consciente do Ser deste Planeta, se limitando num número determinado de indivíduos pertencente a raça dominante, número variável sobre cada Planeta ou plano de vida, assim que esta é explicada na Magia de Arbatel. É falando deles que o cantor de Axel declara: "que seu número depois dos tempos é o mesmo número: mas eles formam um só "ESPÍRITO"; Apollonius de Tyane dizia "que eles habitavam sobre a terra e nem aí habitavam, que eles tem uma cidadela sem muralhas e não possuem nada que este possui todo o mundo". (Podemos meditar sobre isto usando "A Nuvem Sobre O Santuário", de Eckarthausen).

O Anjo de um Planeta, é a entidade coletiva dos pensamentos do Espírito do Planeta. Dotados de uma dupla vida, própria ao mesmo tempo que relativa (o que tem feito dizer que os Anjos são andróginos), os Anjos planetários obediente, sendo passivos, à vontade do Espírito que os cria; ativos, eles atuam uns sobre os outros, se unindo, lutando, e fazendo sentir sua influência aos Espíritos, mesmo aqueles que os engendra. Este não é aqui o lugar de revelar sua criação e sua geração, mistérios que pertencem a Angeologia propriamente dita.

O Gênio de um planeta é a faculdade intuitiva e receptiva pela qual os Espíritos possuem diretamente as Idéias no seio do Absoluto, e se as assimilam para as transformar, em virtude de seus poderes criativos, em Pensamentos ou Anjos.

Nós chamamos especialmente agora, toda a atenção do leitor sobre o seguinte:
Existem, como o sabem todos os ocultistas, sete Planetas se movendo em suas órbitas, seguindo leis determinadas, que podemos facilmente calcular segundo o movimento dos planetas visíveis que são apenas, a limitação, o símbolo, isto é, a representação concreta destes Astros esplêndidos. Esses movimentos no céu produzem os ciclos durante os quais tal ou tal Planeta torna-se dominador. A duração dos ciclos é fixa para uns, variável para os outros, segundo a ordem nas quais se encontram os Planetas. Assim, a alma em seu ciclo descendente, atravessa sucessivamente Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e a Lua; enquanto que percorre a ordem inversa para retornar à sua gloriosa pátria. Na semana, a ordem dos Planetas é outra.

Para o homem individual como para as nações, que são os indivíduos com relação a raça que os engendra e os contem, a existência é mais ou menos longa, segundo as condições exteriores, correspondentes a sua virtude interna, nas quais uns e outros são vindos ao mundo. Sendo conseqüência disto que os períodos astrais que se desenrolam no curso de sua carreira, diferem de comprimento entre uns e entre outros.

A criança que morre na idade de sete anos, o homem que perece na força da idade aos cinqüenta anos de sua existência, e o velho que termina sua carreira depois de ter visto oitenta revoluções terrestres, sofrendo cada um em uma medida de tempo diferente, a influência sucessiva dos sete principais reitores; se bem que o primeiro perece sob o regime do primeiro planeta, um sub-ciclo completo relativo se desenvolve para ele.

Tomando para exemplo, entre as nações secundárias ocidentais nascidas da raça branca, a França cujo desenvolvimento tem seguido até aqui, depois de seis séculos, isto é, depois de 1304, uma marcha mais regularmente ascendente e progressiva que a maior parte dos outros pequenos reinos que pereceram nos terrores de uma agonia prematura, nós podemos constatar a lei acima anunciada.

Quando a primeira França fundada por Mérovée, e ampliada por Clovis, se fez desmoronar pela divisão ao extremo do território entre as mãos dos leudes, o germe de sua ressurreição foi representada por Hugues Capet. O longo período de dissolução, que nomeamos tempos feudais, ao curso dos quais a realeza, como o feto na placenta, se elabora lentamente, só tendo fim em 1304, pelo estabelecimento dos Estados gerais. Enquanto começa o reino de Saturno que teve seu apogeu sob Luiz XI, que foi, por assim dizer, vivente deste planeta. Sempre visto ornado de sombras, esse príncipe, de perfil perfeitamente saturnino, de cabelos lisos e negros, tendo uma santa veneração pelas figurinhas de santos cinzeladas no chumbo, que ele levava sempre com ele.

Júpiter vem em seguida, se manifestando para os últimos anos de seu reinado, em toda sua grandeza na pessoa de Luiz, O Grande, impropriamente nomeado de Rei Sol.
Depois Marte conduzindo os sangrantes horrores de 83. Napoleão encarnou este Espírito com toda sua potência, e, com suas baionetas e seus sabres de aço, ao som de seus canhões, ele cobre a Europa inteira de sangue. Os soldados de infantaria, ainda hoje, são os únicos soldados da Europa cuja calça vermelha revela a natureza ígnea e marciana. Enfim as colossais construções de ferro, ameaçadoras e hediondas, se elevando sobre todos os pontos da França, como um desafio ao mundo. Mas eis que sobre a influência do poderoso Michael, "um homem jovem dos cabelos dourados, ontem desconhecido, amanhã seu nome estará em todas as bocas, sorte de Bretanha francesa, restabelecendo a paz fecunda e benfazeja". Tal é, ao menos, uma velha profecia pouco depois ignorada.

Munido destes dados, o leitor empreenderá mais facilmente o estudo do Tratado das Causas Segundas, que, assim como nós temos dito, está escrita hieroglífica e cabalisticamente, isto é, que a maneira da Vulgata de São Jerônimo e de um pequeno número de outros tratados herméticos, cada palavra - no texto latim, bem entendido - cada linha, cada letra se lê seguindo uma chave que se encontra exposta em outras obras deste mesmo Trittheme: "Sténographie" e "Polygraphie". Mas ainda, falta encontra-la, o que nós deixaremos ao cuidado judicioso do leitor.

Sapientíssimo César, este mundo inferior, criado e organizado por uma Inteligência Primeira, que é Deus, é governado pelas Inteligências segundas, opinião partilhada por este que nos tem transmitido a ciência dos Magos, quando ele disse que sete Espíritos deram origem aos céus e a terra, encarregou aos sete planetas 1. Cada um destes Espíritos rege, por seu turno, o universo durante um período de 354 anos e 4 meses. Muitos doutores sábios estão, inclusive presente dando seu assentimentos a esta asserção, que eu não garanto, mas que eu submeto somente a Vossa Santíssima Majestade.
O primeiro Anjo ou Espírito, o de Saturno, se chama ORIFIEL 2. A origem da criação. Deus lhe confia o governo do mundo. Seu reino começa no décimo quinto dia do mês de Março do primeiro ano do mundo 3, para durar 354 anos e 4 meses.

Ouro, este nome de ORIFIEL 4 lhe foi dado em razão de seu ofício espiritual e não de sua natureza. Sob seu reino 5, os homens eram grosseiros e cruéis, lembrando por seus costumes, as bestas selvagens dos desertos, o que não precisa de demonstração, pois que isso ressalta claramente, por todos, do texto do Gênese 6.

O segundo reitor do mundo foi ANAEL 7, Espírito de Vênus que, depois de Orifiel, começa a emitir sua influência estelar 8, no ano 354 do mundo, quatro meses mais tarde, isto é, no dia 24 do mês de Junho 9. Ele governa o universo durante 354 anos e quatro meses, até o ano 708 da criação do Mundo, assim como o demonstra o cálculo 10. Sob o reino de ANAEL, os homens começam a tornar-se menos grosseiros; eles edificam as casas e as cidades, inventam as artes manuais, se aplicavam a tecedura e a fiação de lã, as duas artes gêmeas: eles se livraram assim das volúpias da carne e tiveram belas esposas; e, esqueceram Deus, eles se afastaram 11 em favor das coisas da simplicidade natural, inventaram os jogos e os cantos, se viram a tocar a cítara, e imaginaram tudo o que se reporta a Vênus e a seu culto. Esta vida de devassidão não terminou entre os homens que com o dilúvio, castigo de sua depravação.

O terceiro governador, ZACHARIEL 12, anjo de Júpiter, começa a reger o mundo no ano de 708 da criação dos céus e da terra, o oitavo mês, isto é o vigésimo sexto dia do mundo de 1060 inclusive. Sob sua direção, os homens começam a usurpar por seu turno o poder, a se dedicar a caça, a erguer as tendas, a ornar seus corpos de vestimentas variadas; os bons foram separados dos maus, os bons invocavam Deus, como o fez Enoch, que passa a Deus; enquanto que os maus mergulham nos prazeres da carne. Sob o reino de ZACHARIEL, os homens começaram a viver em sociedade, a se submeter as leis impostas pelos mais fortes, e, se afastando de sua barbárie primitiva, eles se civilizaram. É sob seu reino que Adão morreu, o primeiro homem, legando a toda sua posteridade a inevitável morte. Enfim, nesses tempos, se produziram muitas invenções humanas, muitas artes curiosas, assim as relatam ao longo do tempo os historiógrafos 13.

O quarto reitor do mundo foi RAPHAEL 14, Espírito de Mercúrio, cujo reino começa ao dia 24 do mês de Fevereiro de 1603 15 da criação da Terra e dos Céus, para durar 354 anos e 4 meses até o ano do Mundo 1417, quatro meses mais tarde. A esta época remonta a invenção da escrita: as letras foram logo imaginadas segundo a forma das árvores e das plantas, para tomar, em seqüência, uma forma mais cuidada, que os indivíduos modificaram a seu grado 16. Sob o reino de RAPHAEL se propaga o uso dos instrumentos de música; as trocas comerciais foram postas em práticas, assim como a navegação de longo curso, e numerosas outras coisas assim maravilhosas.

O quinto regulador do mundo foi SAMAEL 17, anjo de Marte, começa a reinar a 26 dias do mês de junho do ano do Mundo de 1417 18.

Ele governa durante 354 anos e 4 meses, e imprime fortemente sua influência sobre os homens. E assim que sob o reino de Samael que sobreveio o dilúvio universal 19, no ano do mundo de 1656, assim que ele ressalta claramente do texto do Gênese. É notável que, cada vez que SAMAEL, Gênio de Marte, governa o mundo, uma mudança completa se efetua em qualquer grande monarquia, como nos reportam os Filósofos antigos; as religiões e as castas são derrubadas: os grandes e os Príncipes exilados, as leis mudadas, como podemos ver facilmente na história. Mas isto não é imediatamente ao inicio de seu reino que se produzem estas mudanças, mas somente quando ele entra na Segunda metade. Isto é o mesmo para todos os Gênios planetários, como o prova a história. A influência dos poderes segundos atinge seu apogeu, quando os astros chegam ao ápice de sua revolução 20.

O sexto reitor do mundo foi GABRIEL 21, anjo da Lua. Seu reino começa depois de Samael, Gênio de Marte, a 28 dias do mês de outubro do ano 1771 do mundo, para durar 354 anos e 4 meses, até no ano 2126 do mundo 22. Durante este período, os homens se multiplicaram de novo, e fundaram diversas cidades; o fato a notar que, segundo os Hebreus, o dilúvio teve lugar no ano do mundo 1656, sob o reino de Marte, enquanto que Isadore e Béda, interpretes dos Setenta, afirmam que este cataclisma se produziu no ano 2242, sob o governo de GABRIEL, Espírito da Lua, o que me parece mais conforme a verdade, segundo o cálculo; mas este não é o momento de fazer a demonstração 23.

O sétimo reitor do mundo foi MICHAEL 24, anjo do Sol cujo reino começa a 24 de fevereiro do ano 2126 da criação, segundo o computo ordinário, para terminar 354 anos e 4 meses mais tarde, no ano 2480 da fundação do mundo, quatro meses mais tarde. Sob o reino deste Anjo do Sol, segundo as histórias as mais dignas de fé, os Reis começaram a aparecer entre os mortais, e, entre eles, Nemrod que, o primeiro, apodera-se do soberano poder para dominar tiranicamente sobre seus semelhantes devorados pelas paixões. A loucura dos homens institui assim o culto dos deuses, e eles miraram-se a adorar como deuses os Princípios inferiores. Os homens inventaram igualmente nesta época 25 diferentes artes: as Matemáticas, a Astronomia, a Magia; depois o culto de um Deus único foi praticado por diferentes criaturas; mas, pelo seguimento da superstição humana, o conhecimento do verdadeiro Deus tomba pouco a pouco no esquecimento. É ainda nesta época que a agricultura foi posta em prática, e que os homens começaram a ter alguns costumes e as instituições mais policiadas.

Em oitavo lugar 26, retorna ORIFIEL, o anjo de Saturno, que rege o universo durante 354 anos e 4 meses, depois do dia 26 do mês de Junho do ano 2834, oito meses mais tarde. Sob o reino deste anjo, as nações multiplicaram, a terra foi dividida em Regiões e um grande número de Reinos foram fundados; a TORRE DE BABEL 27 foi construída, e a confusão das línguas acontece; os homens foram dispersos por toda a terra, e eles se viram a trabalhar o solo com ardor, e a cultivar os campos, a semear o trigo, a plantar videira, a enxertar as árvores frutíferas, e a se ocupar ativamente de tudo o que se refere a alimentação e aos vestidos. É a partir deste momento que a distinção de nobreza 28 se manifesta entre os homens, quando estes que excederam por suas virtudes e seu gênio recebem de Príncipes as insígnias de glória devido a seus méritos. É assim lá nesses tempos que os homens começaram a alcançar as noções do conjunto sobre o Universo, quando, após a multiplicação das raças, e a fundação de numerosos reinos, a diferenciação das línguas se foi efetuada.

Em seguida, em nono lugar, o Espírito de Vênus, ANAEL, recomeça a reger o mundo, a 29 dias de outubro do Ano 2834 da criação do Céu e da Terra, durante 354 anos e 4 meses, até no Ano do Mundo 3189 29. Durante este período, os homens, esqueceram Deus, e se viram a render um culto aos mortos, a lhes adorar assim como suas estátuas, no lugar de Deus, erro que dura mais de dois mil anos. A moda introduzindo o uso dos ornamentos preciosos para o corpo, e de diferentes sortes de instrumentos de música, a humanidade se abandona de novo com excessos as paixões e as volúpias da carne, lhes erguendo e lhes dedicando estátuas e templos. É nesta época que Zoroastro, primeiro rei de Bactriane e de várias outras nações, vencido nos combates por Ninus, rei da Assíria, descobre o mistério das Encantações e dos malefícios.

Em décimo lugar, ZACHARIEL, anjo de Júpiter, retoma a direção do mundo, o último dia do mês de Fevereiro do Ano 3189 da fundação dos Céus e da Terra. Ele reina 354 anos e 4 meses, segundo a regra, até no ano do mundo 3543, mais 4 meses 30. Esta foi a época feliz, com razão denominada de idade de ouro; porque a abundância de todos os bens da terra conduz o desenvolvimento do gênero humano, e que o universo alcança o apogeu de seu esplendor. É no mesmo tempo que Deus deu a Abraham a lei da circuncisão, e lhe promete pela primeira vez a redenção da humanidade pela encarnação de seu Filho Único.

Sob este reino, os Patriarcas, fundadores do espírito de justiça, apareceram, e os justos foram separados dos ímpios por sua vontade e por suas obras 31. Nesses tempos ainda, Júpiter, sob o nome Lisanie, Rei e filho do Céu e de Deus, foi o primeiro que deu as leis aos Arcadiens, foi bem sucedido ao civilizá-los, ensina o culto de Deus, ergue templos, institui um corpo sacerdotal, e acarreta aos homens uma porção de coisas úteis; o que faz com que lhe déssemos o nome de Júpiter, e que depois de sua morte, o viram como um Deus. Ele tirou, portanto sua origem da casta sacerdotal dos filhos de Héber 32, assim o declara a história. Narrando assim que Prometeu, filho de Atlante, sob o reino deste anjo, cria os homens 33, porque de rudes, ele os havia devolvido instruídos, humanos, bons, polidos de maneiras e de modos 34; ele inventa assim a arte de animar as imagens 35. Foi ele que fez uso pela primeira vez do anel, do cetro e do diadema, e que inventa as insígnias reais.

Nesta mesma época, os outros sábios, da raça de Júpiter, uniram os homens e as mulheres pelos laços do matrimônio, e levaram a humanidade uma multidão de coisas úteis; e, a causa de sua grande sabedoria, eles foram, depois de sua morte, postos a categoria de deuses: Tais foram Phoronée, quem, o primeiro, institui entre os Gregos as leis e a justiça, Apolo, Minerva, Ceres, Serapis entre os Egípcios, e vários outros.

No décimo primeiro lugar 36, RAPHAEL, Espírito de Mercúrio, retoma o cetro do mundo, o primeiro dia do mês de Julho do Ano do Mundo 3543, e governa durante 354 anos e 4 meses, até no ano 3897 da criação do céu e da terra, mais 8 meses. Durante este período, assim como o indica claramente as velhas histórias, os homens se dedicaram com ardor ao estudo da sabedoria, e entre eles os mais ilustres foram; Mercúrio, Bacchus, Omogyrus, Isis, Inachus, Argus, Apollon, Cécrops e muitos outros que, por suas descobertas, foram úteis ao mundo e a posteridade. Nesses tempos se introduziram entre os homens diversas superstições tais como o culto dos ídolos, as encantações, a arte de produzir os prodígios diabólicos, e tudo o que se atribui geralmente a sutilidade e ao gênio de Mercúrio tomando então vastas proporções.

Moisés, o chefe sapientíssimo dos Hebreus, expert em muitas ciências e em todas as artes, sacerdote do único e verdadeiro Deus, livra seu povo da escravidão nas quais os Egípcios os mantinham avassalados. Nestes mesmos tempos, Janus, o primeiro, reina sobre a Itália; Saturno lhe sucede, e ensina a adubar os campos, e que passa por um Deus. É na mesma época que Cadmus inventa os caracteres gregos, e Carmentis, a filha de Evandre, os caracteres latinos. É assim sob o reino deste RAPHAEL, anjo de Mercúrio, que o Todo-Poderoso dá a seu povo por intermédio de Moisés, a Lei para as quais a Encarnação do CRISTO rende um brilhante testemunho. Uma prodigiosa diversidade de cultos se manifesta assim no mundo: então floresceu numerosos como das Sibilas, de Profetas, de Augures, de Aruspices, de Magos, de Adivinhos, a Sibila de Eritréia, a de Delphes, e a da Frígia.

A décima Segunda Época 37, SAMAEL, anjo de Marte, pela Segunda vez, torna a governar o mundo, o décimo dia do mês de Outubro do ano do mundo 3897, durante 354 anos e 4 meses, até o ano de 4252. Sob seu reino acontece esta grande e famosíssima destruição de Tróia, na Ásia Menor; as monarquias e numerosos reinos se desmoronam, e várias novas cidades foram fundadas Paris, Mayence, Cártago, Nápoles, e muitas outras cidades. Numerosos novos reinos se ergueram, entre os quais, os de Lacedemone, de Corinthe, de Jerusalem, etc.

Nestes tempos aconteceram no mundo as longas guerras e as grandes lutas entre os Reis e as nações, assim como muitas mudanças nas dinastias. É a época da tomada de Tróia que os Venitiens foram buscar a origem de sua raça e a fundação de sua cidade. E coisa notável, existem muitas outras nações na Europa e na Ásia que pretendem descender dos Troianos; mas as provas que elas fornecem ao apoio da nobreza de sua origem, no desejo de se glorificar, como se não houvesse antes da ruína de Tróia as outras nações na Europa e outros homens ilustres, são inúteis e mentirosas. É sob a dominação deste mesmo planeta que Saul, o primeiro, foi predestinado Rei dos judeus; após ele veio David, depois seu filho Salomão, que em Jerusalém ergue ao verdadeiro Deus um Templo célebre no mundo inteiro.

Em seguida, o Espírito Divino, iluminando seus Profetas da incomparável claridade de sua graça, lhes confia o Dom de predizer não somente a encarnação futura do Senhor, mas ainda muitas outras coisas, assim como o atestam as Santas Escrituras. Entre os profetas, nós citaremos Nathan, filho do Rei David, Gad, Azaph, Achaias, Sémeias, Azarias, Anan, e outros. O poeta grego Homero, cantor da ruína de Tróia, o Frígio Darés, o Cretois Dictis, que foram testemunhas, e a narrando, passam por Ter vivido nesta época.

Para o décimo terceiro período 38, GABRIEL, gênio da Lua, retoma de novo a direção do mundo, no trigésimo dia do mês de janeiro do ano 4252 do princípio do universo; ele reina 354 anos e quatro meses, até no ano do mundo 4606 e 4 meses. É nesta época que, entre os Hebreus, brilharam muitos profetas famosos como foram Elisée, Michée, Abdias e outros. Os Reis se sucederam rapidamente entre os Hebreus. Lycurgue deu um código e as leis aos Lacedémoniens. Capitus Sylius, Libérius Sylius, Procas Sylius, Numitor, reis da Itália, floresceram sob o reino deste Espírito. Sob sua influência, puderam assim nascer numerosos outros reinos, os de Lydiens, os Médes, os Macedonios, os Spartiates, etc.

A monarquia dos Assyriens se extinguiu com Sardanapale, o mesmo que o reino de Médie. As numerosas leis foram impostas ao homens, negligenciaram o culto do verdadeiro Deus, e o culto dos ídolos tomaram uma extensão. No ano 4491, a 239 do reino de GABRIEL, foram lançados os fundamentos de Roma; a dominação dos Syliens pode findar na Itália e cedeu o lugar aos romanos. É assim nesta época que apareceram na Grécia os sete Sábios, que foram: Thales, Solon, Chilon, Periandre, Cléobule, Bias e Pittacus, e por conseqüência os filósofos e os poetas começaram a ser tidos em grande estima. Romulus, o fundador de Roma fratricida e promotor de sedição governa a cidade durante trinta e sete anos; seu sucessor Numa Pompilius, reina 42 anos; ele desenvolve o culto dos deuses, e morreu no tempo de Ezechias, rei dos Judeus. Perto do fim da dominação deste Gênio Lunar, Nabucodonosor, rei da Babilônia, tomou e destruiu Jerusalém, e conduz em cativeiro o Rei Sedecias e todo seu povo. O profeta Jeremias havia predito esta destruição, assim como o fim da escravidão.

Após Gabriel 39, MICHAEL, Espírito do Sol, retoma o cetro do mundo, o primeiro dia do mês de maio do ano do mundo 4606. Ele rege o universo 354 anos e 4 meses, ate o ano 4960 da fundação do mundo, mais 8 meses. É durante este período, que Evil Merodach, rei da Babilônia, restitui ao povo Hebreu sua liberdade e seu rei, sob a influência de MICHAEL que assim como o escreveu Daniel, protegendo os Judeus, que Deus lhe havia confiado. Nesse mesmo tempo, pode nascer a Monarquia dos Persas cujo primeiro rei Darius e seu sucessor Cyryus destruíram esta colossal monarquia Babilônica, sob o reino de Balthasar, assim como o havia predito Daniel e os profetas.

A Sybille de Cumes foi então famosa, pela oferta que ela fez ao Rei Tarquin, o Ancião, de lhe vender de uma vez e ao mesmo preço os nove livros contendo a série das predições tocante a República Romana. Quando o Rei recusou dar o preço pedido, a Sybille queima sob seus olhos os três primeiros livros, ele pede em seguida a mesma soma pelos seis outros. Sob sua nova recusa, ela lança ainda três outros no fogo, e ela teria feito o mesmo nos três últimos, se o Rei, convencido por seus conselhos, não houvesse salvado os livros da destruição, neles pagando o preço pedido de ínicio por todos. Esses mesmos Romanos, após a expulsão dos reis, designaram dois Cônsules anuais. O tirano Phalaris reina nesta época na Sicilia.

A Magia foi igualmente tida então em grande honra entre os Reis da Pérsia. Pythagore vários outros filósofos floresceram então na Grécia. A cidade de Jerusalém e seu templo foram reconstruídos. O profeta Esdras restitui de memória os livros de Moisés, para substituir o texto original queimado pelos Caldeus.Chamamos este novo texto: texto babilônio. Xerxés, Rei da Pérsia, conduzindo uma armada contra os Gregos, mas sem grande resultado. Roma foi tomada, incendiada e destruída pelos Gaulois, a exceção do Capitole, salvo por um ganso, que desperta (por seus gritos) os guerreiros adormecidos. É assim a esta época que os Atenienses suportaram suas famosas guerras, ao tempo onde se celebrizaram os filósofos Sócrates e Platão.

Após a anulação do Consulado, os Romanos instituíram os Tribunos e os Edis, enquanto desabavam sobre eles uma multidão de calamidades. Imediatamente após o fim da dominação de MICHAEL, Alexandre, o Grande, reina em Macedônia; ele aniquila a Monarquia dos Persas sob Darius, e submete a seu cetro a Ásia inteira e uma parte da Europa. Ele morreu aos 33 anos, após um reino de 12 anos e 5 meses. Numerosas guerras e de males seguiram a sua morte, e seu império foi desmembrado em quatro partes. Entre os Hebreus, pela primeira vez, surgiram competições pelo Soberano Pontífice. O reino da Síria tinha nascimento.

Após Michael, para o décimo quinto período 40, ORIFIEL, Espírito de Saturno, retoma pela terceira vez o governo do Universo, o último dia do mês de setembro do ano 4960 da fundação do mundo; ele reina 354 anos e 4 meses, até o ano de 5315. É sob sua dominação que começaram as guerras Punicas entre os Romanos e os Cartagienses. A cidade de Roma foi quase inteiramente destruída pelo fogo e pela água. O colosso, imagem de bronze de 126 pés de altura, foi derrubada por um tremor de terra. Após a guerra Punica, Roma que, depois de 440 anos, não havia cessado de estar em guerra, teve um ano de paz. Jerusalém e seu templo foram incendiados e destruídos por Anthiochus e Épiphane. Os Macchabées se celebrizaram no glorioso combate.

Nesta época, no ano 606 da fundação de Roma. Cartago foi destruída e queima durante 17 dias consecutivos. Em Sicília teve lugar a revolta dos 70.000 escravos contra seus amos. Os grandes prodígios apareceram então na Europa : os animais domésticos fugiram nos bosques, algum sangue corre, e um globo de fogo brilhante cai do céu com grande barulho. Mithridate, Rei de Pont e da Armênia , sustenta durante 40 anos a guerra contra os Romanos. O reino dos Hebreus foi restabelecido, após uma interrupção de 575 anos, depois Zedéchias até Aristobule. Os Germânicos os Teotonicos invadiram a Itália, e após numerosos combates, eles foram vencidos, perderam 160.000 homens, sem contar o número considerável deles que se fizeram perecer eles mesmos com suas famílias, sob Caius e Manlius, mas após serem mortos por traição numerosos Romanos.

Finalmente quarenta anos de guerras civis desolaram a Itália. Três sois apareceram para Roma e, ao fim de pouco tempo, se fundiram em um só. Alguns anos depois, Julius Caius César usurpa o poder supremo e, após ele, Augusto, e estende seu domínio sobre a Ásia e a África, os reúne sob um mesmo cetro. Ele reina 36 anos, durante os quais Deus da paz ao mundo. No ano do mundo 5199, a 751 ano da fundação de Roma, e a 42 de Otávio César Augusto, no ano 245 do reino de ORIFIEL, Espírito de Saturno, o 8 mês, o 25 dia do mês de dezembro, Jesus Cristo, filho de Deus, nasce da Virgem Maria, em Belém, na Judéia. Note que, por admirável ordenança da divina Providência, o Universo foi criado sob o primeiro governo de ORIFIEL, e que fele foi salvo, restaurado e renovado por sua misericórdia sob sua terceira administração, harmoniosa concordância que prova suficientemente a influência dos sete planetas sobre o governo do universo.

Com efeito, sob o primeiro regime de ORIFIEL, o mundo inteiro não forma mais que uma só e vasta monarquia que, sob seu segundo reino, se subdivide em uma multidão de pequenos reinos - assim como nós a temos precedentemente exposto - que eles, sob seu terceiro governo, foram reconduzidos a unidade; todavia é evidente para os olhos clarividentes, que o segundo período de ORIFIEL vê assim uma monarquia única, neste tempo da edificação da Torre de Babel 41. Sob o terceiro regime de ORIFIEL, o reino dos Judeus foi disperso, o sacrifício perpétuo das vítimas foi interrompido, e a liberdade não será restituída aos judeus que sob o terceiro período do Gênio MICHAEL, o oitavo mês do ano 1880 42 da era cristã, que corresponde ao ano do mundo 7170.

O grande Pontífice da Igreja Universal dos Cristãos foi transportado por Pedro, da Judéia a Roma 43, no ano 299 do terceiro governo do anjo ORIFIEL; numerosos Judeus e de Gentios abraçaram a religião cristã, pelas prédicas dos mais simples e dos mais rústicos, iluminados, não pela ciência humana, mas pelo Espírito de Deus. O mundo retorna então, a inocência e a simplicidade da primeira idade. Tanto uma como a outra época presidida por ORIFIEL, Espírito de Saturno; os céus se uniram a terra, e dois cetros foram dados aos homens para governar o mundo: um superior, para as coisas espirituais, confiadas ao Papa: outro, para as temporais, a César 44.

Numerosos Cristãos, perseguidos pelos Príncipes deste mundo, pereceram pela fé que eles professavam. Para o fim do reino de ORIFIEL, Jerusalém foi destruída pelos Romanos, e os Judeus foram dispersados por toda a terra; e foram aniquilados cento e dez mil; oitenta mil foram vendidos; o resto fugiu; e é assim que os Romanos destruíram completamente a Judéia.
CONTINUA-
(Texto: Jean Trittheme)

TARÔ E A MAGIA


A magia é a ciência e arte de fazer com que ocorra mudança em conformidade com a vontade. Em outras palavras, a magia é ciência, pura e aplicada. Esta tese foi desenvolvida extensivamente pelo Dr. Sir J. G. Frazer. Mas, na linguagem corrente, a palavra magia tem sido usada com o significado do tipo de ciência que as pessoas comuns não compreendem. É neste sentido restrito, na maioria das partes, que essa palavra será empregada neste ensaio. O conhecimento adquirido pode então ser usado na ciência aplicada, que indaga: Como podemos empregar da melhor forma esta ou aquela coisa ou idéia para o propósito que nos parece adequado?

Os gregos da antigüidade estavam cientes de que pelo friccionamento de âmbar (que eles denominavam electron) na seda aquele adquiria o capacidade de atrair para si objetos leves como pedacinhos de papel. Mas eles pararam por aí. Sua ciência teve seus olhos vendados por teorias teológicas e filosóficas do tipo a priori. Foram precisos bem mais de 2.000 anos para que esse fenômeno fosse correlacionado com outros fenômenos elétricos. A idéia de medição era mal conhecida por quem quer que seja salvo por matemáticos como Arquimedes e astrônomos.

Os fundamentos da ciência, como é entendida hoje, foram efetivamente formulados há não mais que duzentos anos. Havia uma imensa quantidade de conhecimento, mas era quase todo ele qualitativo. A classificação dos fenômenos dependia principalmente de analogias poéticas. As doutrinas das correspondências e assinaturas eram baseadas em semelhanças fantásticas. Cornélio Agrippa escreveu sobre a antipatia entre um golfinho e um remoinho de água. Se uma meretriz se sentava sob uma oliveira, esta não daria mais frutos. Se alguma coisa parecia com alguma outra coisa, passava a participar de alguma forma misteriosa de suas qualidades.

Hoje em dia, isso soa como mera ignorância supersticiosa e absurdo, mas não se trata disto em absoluto. O antigo sistema de classificação era às vezes bom, às vezes ruim, dentro de seus limites. Mas em caso algum ele ia realmente muito longe. A engenhosidade natural de seus filósofos naturais, de fato, compensava largamente a debilidade de suas teorias, e acabou finalmente por levá-los (especialmente através da alquimia, onde eram forçados pela natureza do trabalho a acrescer o real às suas observações ideais) a introduzir a idéia de medida.

A ciência moderna, intoxicada pelo sucesso prático atingido por essa inovação, tem simplesmente fechado a porta para qualquer coisa que não pode ser medida. A velha guarda recusa-se a discuti-lo. Mas a perda é imensa. A obsessão com qualidades estritamente físicas tem bloqueado todos os valores humanos reais.

A ciência do Tarô é inteiramente baseada nesse sistema mais antigo. Os cálculos envolvidos são muito precisos, mas nunca perdem de vista o incomensurável e o imponderável.
A teoria do animismo estava sempre presente nas mentes dos mestres medievais. Qualquer objeto natural detinha não apenas suas características materiais, como era também uma manifestação de uma idéia mais ou menos tangível da qual ele dependia. A lagoa era uma lagoa... tudo bem, mas também havia uma ninfa cujo lar era a lagoa. E, por sua vez, a ninfa era dependente de um tipo superior de ninfa, a qual era bem menos intimamente ligada a qualquer lagoa em particular, porém mais às lagoas em geral, e assim por diante, até a suprema Senhora da Água, que exercia uma supervisão geral sobre a totalidade de seu domínio. Ela, é claro, estava subordinada ao Regente Geral de todos os quatro elementos. É exatamente a mesma idéia no caso do oficial de polícia, que tem seu sargento, inspetor, superintendente, comissário, sempre se tornando mais nebuloso e remoto até se alcançar o indistinto Ministro da Justiça, que é, ele próprio, o servo de um fantasma completamente intangível e incalculável chamado de a vontade do povo.

Pode-se duvidar até que ponto a personificação dessas entidades era concebida como real pelos antigos, mas a teoria era que, enquanto alguém com um par de olhos conseguisse ver a lagoa, não conseguiria ver a ninfa, salvo por algum acidente. Mas achavam que um tipo superior de pessoa, por meio de pesquisa, estudo e experimento poderia obter esse poder geral. Uma pessoa ainda mais avançada nessa ciência podia entrar em contato real com as superiores - porque mais sutis - formas de vida. Podia, talvez, fazê-las manifestar-se sob forma material.

Muito disso repousa no idealismo platônico, no qual se sustentava que qualquer objeto material era uma cópia impura e imperfeita de alguma perfeição ideal. Assim, os homens que desejavam avançar na ciência e filosofia espirituais empenhavam-se sempre em formular para si mesmos a idéia pura. Tentavam proceder do particular ao geral, princípio que serviu muitíssimo à ciência ordinária.

A matemática de 6 + 5 = 11 e 12 + 3 = 15 se achava toda aos pedaços. O avanço só chegou quando escreveram suas equações em termos gerais. X2 - Y2 = (X + Y) (X - Y) cobre todos os casos possíveis de subtração do quadrado de um número do quadrado de um outro. E, assim, o sem sentido e abstrato, quando compreendido, possui muito mais sentido do que o inteligível e concreto.

Tais considerações se aplicam às cartas tomadas do Tarô. Qual é o significado do Cinco de Bastões ? Esta carta está sujeita ao Senhor do Fogo porque é um bastão e à Sephira Geburah porque é um cinco. Está sujeita também ao signo do Leão e ao planeta Saturno porque este planeta e signo determinam a natureza da carta. Isto não é mais do que dizer que um martini seco tem em si algum junípero e algum álcool e algum vinho branco e ervas e um bocado de casca de limão e algum gelo. É uma composição harmoniosa de vários elementos que, uma vez misturados, formam um composto único do qual seria muito difícil separar os ingredientes; e, todavia, cada elemento é necessário à composição.

O Cinco de Bastões é, portanto, uma personalidade, cuja natureza é resumida no Tarô, chamando-o de Disputa.

Isto significa que, se usado passivamente na adivinhação, diz-se, quando trazido à tona, “vai haver uma luta”. Se usado ativamente, significa que o curso apropriado de conduta é a contenda. Mas há um outro ponto sobre esta carta, a saber, ela é governada do mundo angélico por dois seres, um durante as horas de luz, o outro durante as horas de escuridão. Conseqüentemente, a fim de utilizar as propriedades dessa carta, uma das maneiras é entrar em comunicação com a Inteligência envolvida e induzi-la a desempenhar sua função. Há, assim, setenta e dois anjos assentados sobre as trinta e seis cartas menores; estes são derivados do Grande Nome de Deus de vinte e duas letras, chamado Shemhamphorasch.

(Texto: Luiz Muller)