24 de agosto de 2012

ARQUIVOS DE OUTROS MUNDOS


“O homem honrado é aquele que luta contra o esnobismo do embrutecimento, do conformismo e do inconformismo, contra as religiões, as instituições, as falsas liberações e os valores duvidosos impostos pelas máfias político-religiosas.

O homem honrado é aquele que, com frequência, se encontra muito só.

É necessário desmitificar a História dos homens tal como nos foi contada pelas conjuras de contra-verdade.” ROBERT CHARROUX

Título original: Archives des autres mondes
Autor: ROBERT CHARROUX
Tradução de Pedro Debrigode
Primeira edição de julho, 1985
Éditions Robert Laffont, S. A., 1977
1982, PRAÇA & JANES EDITORES, S. A.
Printed in Spain — Impresso na Espanha

Prólogo

Os sinais luminosos que se crêem ver no céu, os textos insólitos gravados nos pampas do Peru, do Chile e sobre as colinas da Inglaterra não são os típicos enigmas que suscitam nossa curiosidade.

Conhece o imenso geoglifo, uma roda perfeitamente circular de vinte rádios perfeitamente retos, que se vê do avião quando se sobrevoa a região de Béziers?
Ouviste falar da misteriosa cidade de Brion enterrada sob as cepas de Santo-Estefânio, na Gironda, das cidades subterrâneas de Naours, de Besse-en-Chandesse, da cidade submersa de Rochebonne perto do vulcão que ameaça surgir no litoral da ilha de Yeu?
Conheces:

— As medicines wheels (rodas curadoras) do Canadá?
—O museu secreto de Jaime Gutiérrez, em Bogotá, análogo ao de doutor Cabrera?
— O enigmático povo cariba que, antes de abandonar nosso planeta, operava cirurgicamente ao estilo dos curandeiros filipinos?
— O efeito Girard: Torcer uma barra de aço só por meio do pensamento?
— Os universos da anti-física, onde tudo é possível: Voar, levitar, passar através das paredes, desdobrar-se, etc.?
— O gerador de azar: Um pedaço de matéria mais inteligente que um sábio catedrático?

Queres penetrar mais adiante nos meandros do labirinto esotérico?
Leste o mais iniciático, o mais formoso conto cósmico imaginado pelo Velho do deserto de Kuch: O feiticeiro da cidade de Luz?
Queres saber por que a França é cem vezes mais poderosa que URSS e Estados Unidos no plano atômico? E como poderia aniquilar as duas super potências?
Queres ter a certeza, as provas de que a biblioteca pré-histórica do doutor Cabrera é tão autêntica como a impostura daqueles que a contestam?

Robert Charroux fez pra ti uma relação dos últimos mistérios conhecidos de nosso globo, as últimas mensagens deixadas pelos Antepassados Superiores cuja civilização precedeu à nossa.

Poucos especialistas viram e interpretaram todo o insólito que Robert Charroux descobriu, não garimpando nas obras de seus colegas ou mediante compilação, senão indo ao próprio sítio, como de costume. E, nos arquivos de outros mundos, nos convida a saborear essas investigações dedicadas a todos os amantes do misterioso e do ignoto.
YVETTE ARGAUD

Capítulo Primeiro
Histórias de algumas cidades submersas

O mistério está em toda parte, desde o coração da galáxia ao centro ainda inviolado de nosso planeta. Está aqui mesmo onde nos encontramos, com universos interpenetrantes, não apreensíveis para a maioria de nós, nos rodeia sobre a terra e nos submerge no mar com os reinos invisíveis, e as cidades enterradas, engolidas.

Os homens têm olvidado com frequência, seus nomes, mas as ruínas recobertas pela água, as algas, as ervas marítimas ou a areia movediça da ribeira, exalam sempre, como em reminiscência, lembranças e imagens que recolhem as tradições.

No século IV toda a comarca entre Loire e Sévre Niortaise era chamada pagus Herbadilla, o país de Herbauges. Como, quase todas as religiões, o cristianismo estabeleceu sua notoriedade sobre falsos milagres e falsos santos cuja autoridade impressionava, antanho, a pobre gente.

O bom são Martim é a exceção da regra: Não conseguiu converter os habitantes de Herbadilla e, desanimado ante suas burlas, abandonou a cidade pedindo a Deus que os castigasse por sua barbárie. Apenas havia dado alguns passos fora da cidade quando a terra se entreabriu repentinamente e o mar, alçando suas ondas, cobriu os remates das altas muralhas e dos templos da cidade, engolida mais rapidamente do que se possa expressar com palavra.

Ante essa visão o santo homem, acometido por profunda dor, decidiu abandonar o mundo e se retirar a um vasto deserto...» que encontrou em Vertou, junto à ilha de Olonne!

No século IV toda a comarca entre Loire e Sévre Niortaise era chamada pagus Herbadilla, o país de Herbauges. Como, quase todas as religiões, o cristianismo estabeleceu sua notoriedade sobre falsos milagres e falsos santos cuja autoridade impressionava, antanho, a pobre gente.

O bom São Martim é a exceção da regra: Não conseguiu converter os habitantes de Herbadilla e, desanimado ante suas burlas, abandonou a cidade pedindo a Deus que os castigasse por sua barbárie.

Apenas havia dado alguns passos fora da cidade quando a terra se entreabriu repentinamente e o mar, alçando suas ondas, cobriu os remates das altas muralhas e dos templos da cidade, engolida mais rapidamente do que se possa expressar com palavra.

Ante essa visão, o santo homem, acometido por profunda dor, decidiu abandonar o mundo e se retirar a um vasto deserto...» que encontrou em Vertou, junto à ilha de Olonne!


Os habitantes do Poatu falam de novo de Roche-bonne e de sua cidade enterrada sobre a meseta rochosa, submersa em nossos dias, mas que, antanho se unia à Chaume (Les Sables-d'Olonne) pela ilha de Yeu e os rochedos das Barges.

Louis Papy, em sua obra ‘Entre Loire et Gironde’, relata que, com ocasião duma época glacial, o mar se retirou muito longe e seu nível desceu até menos de 50m. Acrescenta: «Foi o período da famosa Atlântida que ficou submersa quando o gelo se fundiu. O mar voltou a ocupar uma parte de seu antigo espaço e da Atlântida subsistiu somente uma ilhota que os navegantes da Idade Média, Garcie Ferrande o assinala em seu Grana Routier, pretendem ter conhecido sob o nome de ilha de Orcânia. Entre o atual continente e a ilha de Yeu a terra se desmoronou deixando como testemunho as pegadas da calçada gigante do Pont-d'Yeu, perto de Nossa-senhora-dos-Montes, que o mar descobre, ainda, na maré mais baixa».

A cidade enterrada de Rochebonne está sobre uma meseta profunda de 200m com um abrupto alcantilado que desce até 3.000m. É um refúgio pra peixe, muito cobiçado pelos pescadores marítimos de Sables apesar das violentas correntes que ali causam estrago.

É nesse lugar quando, em 26 de fevereiro de 1976, uma barca da armada nacional observou um curioso fenômeno: Durante um mar revolto uma superfície calma, de 50m a 80m de diâmetro, se desenhava por sua transparência azul clara. Peixes mortos flutuavam na superfície e, no centro da zona, se distinguia nitidamente uma poderosa coluna de bolha que parecia proceder dum fundo de 3.000m. Localização: 46° 39’ 00" N e 05° 28' 20" O, ou seja, a uns 25km ao oeste-sul de Yeu.

Pensa-se que essa fase gasosa do fenômeno poderia anunciar o próximo nascimento dum vulcão submarino ou duma linha de cicatriz de fratura terrestre. Não é mais que uma hipótese, mas inquieta os habitantes da ilha já que uma tradição diz: Quando Rochebonne reaparecer a ilha de Yeu desaparecerá!

Há séculos e séculos as lendas, inclusive com base histórica, não se preocupam com a exatidão das datas, a poderosa cidade de Ys ou de Is, em Bretanha, alinhava suas altas muralhas à borda do oceano mas, provavelmente, a um nível inferior ao das grandes marés. Por esse motivo, um dique monumental com uma eclusa com portas de bronze a protegia da invasão da água.

Uma frota fundeada no porto e no interior das muralhas, cem cobertura de casa, de palácio e de templo se dourava ao sol do Ocidente. Sim, era uma formosa cidade, tão formosa que, por despeito, Lutécia havia trocado seu nome pelo de Par-Is (igual a Is). É o que diz a tradição.

Gradlon, primeiro rei da Cornualha, enquanto soberano e guardião da cidade, levava, noite e dia, suspensa por uma correntinha no pescoço, uma chave de ouro dentada e gravada com arabesco misterioso que abria e cerrava as portas de bronze, defesas eficazes contra o perigo do oceano.

Em resumo, embora rodeada de perigo, Ys teria sido uma cidade feliz se, como no Paraíso, a Serpente e Eva não tivessem vindo trazer o fermento de dissolução. E dissolução é exatamente a palavra, porque em memória dalgum armoricano (bretão) jamais criatura dissoluta, perversa pôde rivalizar, com a bela e sedutora Dahut, filha do rei.

De fato, essa maravilhosa princesa, segundo uma tradição cristã, descendia de Lilite, a querida do bom Adão (outros dizem sua virtuosa esposa...). Seu prazer favorito no dia, segundo outras fontes, era buscar inspiração na landa onde pululam os menires faliformes. Porque, em todos os tempos, Armor foi colocada sob o signo do amor carnal e da virilidade. E Dahut se impregnava, durante o dia, dos eflúvios eróticos da landa pra se liberar, sábia e perfidamente, durante a noite.

Se aceita, mais geralmente outra versão, que é a dos escritos tradicionais muito antigos. O rei Grad Ion teria encontrado nos países do norte uma rainha de maravilhosa beleza: Malgwen, rainha do mar, que trouxera consigo até a Cornualha. Durante a travessia, a bordo do barco, Malgwen, antes de morrer de parto, parira a pequena Dahut.

O rei depositou todo seu amor na princesa e, a pedido dela, fez construir pra ela a grande cidade de Ys, cujo alicerce se encontrava nitidamente sob do nível do oceano. Ys era, pois, segundo a expressão de Jean Markale, uma cidade de En-Bas (de Baixo) e Dahut podia se engalanar com o título de Rainha do Mar.

As sereias, oceânides e outras criaturas do reino marinho jamais tiveram muita reputação de castidade, mas Dahut, mais que elas, mais que Messalina, se distinguia por sua sede de luxúria e convertera toda a cidade à vida de desenfreio e de orgia.

Em cada noite um criado musculoso lhe trazia, pra servir a seu prazer real, um belo moço eleito na alta sociedade ou entre o povo.

O amante devia acudir mascarado pra preservar sua identidade, segundo lhe diziam, e Dahut se encarregava, seguidamente, de lhe proporcionar a mais louca, a mais perversa, a mais inesquecível noite de amor.

Pouco antes da aurora o criado musculoso vinha tomar a seu cargo o companheiro de prazer de sua ama e, no momento de lhe recolocar a máscara, atuava tão torpemente e com tanta brutalidade que o desgraçado caía morto, estrangulado, a seus pés! Só faltava, em seguida, atirar o cadáver ao abismo dos montes de Arrez, perto de Huelgoat.

De fato, Dahut era uma criatura do Destino engendrada pra que se realizassem os escuros desígnios dos quais o homem não tem consciência e estava escrito que, nascida sobre a água, regressaria a seu elemento natural porque sua mãe era, provavelmente, uma oceânide.

Essa é a razão pela qual, numa noite de festa, enquanto o vinho esquentou sua imaginação, Dahut experimentou o desejo imperioso, independente de sua vontade, de fazer de Ys uma cidade verdadeiramente submarina. Desse modo, como sua mãe, a bela Malgwen, se converteria em Rainha do Mar e teria por reino e capital uma cidade incomparável.

Depois daquela festa em que todo mundo bebera mais que de costume Dahut entrou suavemente, descalça, ao quarto de seu pai e lhe furtou as chaves das quais dependia a proteção da cidade. Hersart da Villemarqué, narrou a continuação nos termos seguintes:

O rei dorme, dorme o rei. Mas um grito se elevou na planície. A água foi solta. A cidade está submersa!

— Senhor, levantes. A cavalo. E longe de aqui. O mar transbordado rompeu os diques!
Maldita seja a branca jovem que abriu, depois do festim, a porta do poço da cidade de Ys, essa barreira do mar...

Gradlon, que ignorava tudo referente à causa do desastre, encilhou seu cavalo Morvach, subiu sua filha à grupa e galopou em direção a terra firme.

Furioso e mais rápido, o oceano o perseguiu e suas ondas lamberam os cascos do animal e, depois, as botas do ginete. A cidade, após ele, com seus palácios suntuosos e suas naves inumeráveis, não era mais que uma horrível solidão eriçada de ondulação espumosa. O rei fugiu na noite...

— Mais depressa, pai meu! — Gritou Dahut, repentinamente aterrorizada — Mais depressa. O mar nos alcançará!
Mas Morvach não pôde galopar mais rápido e a água subiu até seu peito.

Então uma voz terrível se deixou ouvir:
— Rei Gradlon, se não queres perecer agora, abandones o demônio que levas na grupa porque é ele quem abriu as portas de bronze!
— Mais depressa, pai! — Suplicou Dahut.

Mas seu destino deve se cumprir. Suas mãos se desprenderam e caiu ela nas ondas que, satisfeitas, se apaziguaram. Os habitantes de Poulvid (Douarnenez) ensinam, hoje, o lugar onde a impudica desapareceu na água.

Tudo se consumou, tudo voltou à ordem: O rei pôde se apear em terra firme armoricana. Ys já não é mais que uma lenda ou um reino submerso do qual é Dahut a soberana.
— Ela não morreu. — Dizem os pescadores bretões quando relatam a lenda na noite junto ao fogo do lar.

Se convertera numa morgana, uma sereia do mar, de beleza fascinante e fatal.
Aquele que tem olho pra ver a avista nos meio-dias ensolarados, penteando seu largo cabelo dourado no vão das ondas ou sobre o escolho.

Aquele que tem ouvido pra ouvir percebe, nas noites de tempestade, sua chamada apaixonada ascender desde a treva dos arrecifes.

Aqueles que cedem a seu convite dormem pra sempre em seu mortal abraço.
Pescadores dizem que, nas noites sem lua, ouvem os sinos de Ys tocando a morto na cidade submersa.

Localiza-se a altura da cidade de Ys em vinte ou trinta lugares. Às vezes no mar, às vezes sobre as ribeiras, inclusive no interior das terras, o que demonstra que o reino sepultado se estendia sobre vasta área. Quiçá desde Groenlândia até as ilhas Canárias e desde Espanha até Terranova!

Nessa opção Ys teria sido a capital de Atlant-Is, o que não é desatino. Pensamos que uma sucessão de mitos se superpôs pra se converter na lenda que conhecemos.

Certo é que existiu a Atlântida, cremos firmemente nisso, mas é mais certo ainda que há 12.000 anos maremotos, extensos desabamentos de terreno, cheias ou vazantes do mar modificaram consideravelmente o perfil das costas atlânticas.

É certo que Brouage, no Charente-Marítimo, era um porto no século XVII e que o mar, mais antigamente, submergia as comarcas de Aunis, a Saintonge e o Sob-Poatu.

Se vê sobre a ilhota de Er-Lanic, no golfo de Morbiã, perto de Gavrinis, um duplo cromeleche do qual uma parte está imersa, o que é uma clara prova de que faz uns 5.000 ou 6.000 anos, o Atlântico tinha um nível muito menos elevado.

Inversamente, ao capricho da geodinâmica, se crê saber que várias vezes o mar se retirou até descobrir, ademais da meseta de Rochebonne, a Grã-Bretanha e a Gália que estavam unidas por terra há 10.000 anos.

Em resumo, esses acontecimentos, esses dramas apocalíticos que se produziam a intervalos cíclicos impressionaram tanto a imaginação que a lembrança ficou indelével, mas emaranhada em afundamentos marítimos e transbordamentos terrestres.

Segundo a crença geral a cidade de Ys está situada na baía de Audierne, entre Plozevet e Saint-Guénolé, ou na baía de Douarnenez no litoral de Cap-Sizun.
Segundo os habitantes de Peumérit, se teria submergido perto desse povoado, numa espécie de enorme pantanal.

Situam-na também em Pouldreuzic, entre Lesvidy e a baía de Audierne; na baía dos Defuntos, na laguna de Laoual; em Cléden-Cap-Sizun; em Trouger onde uma grande quantidade de construções antigas foi posta a descoberto e onde se mostra uma velha muralha chamada Moguer-Guer-a-Is.

Em 1884 P. Parize, professor no instituto de Mor-laix, publicou um artigo onde constavam declarações de mergulhadores que o capitão Guérin, da ilha de Batz, empregava pra pôr a flutuar barcos na água bretã. Declaravam:

«Se podia passear nas ruas da velha cidade ainda assinaladas por fachadas de muro derrubado. Se encontravam também alamedas traçadas na base dos troncos enegrecidos».

Um deles afirmou vira uma escada muito elevada e ainda sólida subindo a uma dezena de braças do fundo do mar. São dignos de crédito esses relatos? Cabe a dúvida.

Em fevereiro de 1923 um maremoto descobriu sobre a praia de Tresmalaouen, ao noroeste de Douarnenez, várias centenas de árvores: Carvalho, bétula, olmo, meio fossilizados e todos tombados, com as ramas até terra firme e as raízes dirigidas mar adentro.

Encontraram-se também os blocos de cimento, em calhaus unidos com argamassa, de trinta casas situadas entre a ponta de Lanévry e a ponta de Pen-Karec. Merece ser observado também que a 2km ao sul de Tresmalaouen, se estende a praia do povo de Ris que, em bretão, se chama Ker-Ris (ou Ker-Is), o qual é igualmente a denominação local prà cidade de Ys.

Cremos haver escutado dizer ao escritor Pierre-Jakez Helias que existia também uma cidade de Ys em Lanhelin (llle-et-Vilaine). Nos cafés do povo se conta a lenda dessa cidade chamada das bonitas peles porque estava habitada por mulheres transparentes. Quando bebiam vinho se lhes via descer pela garganta.

Desde logo às lendas de cidades submersas iam sido enxertados mitos morais e religiosos: Castigo do céu aos habitantes por sua impiedade, seu egoísmo ou sua maldade. É a história de Sodoma e de Gomorra que começa, a menos que o final da Atlântida ou da cidade de Ys não tenha inspirado o das duas cidades da Palestina.

O mesmo mito é reencontrado com Vinheta submersa no mar Báltico, não longe da ilha alemã de Wollin, perto do estuário do Oder. Com boa vista se poderiam distinguir os telhados e campanários de Vinheta no fundo d’água e, no domingo na manhã, com bom ouvido, se podiam escutar os sinos de suas igrejas!

Os habitantes teriam sido castigados por sua avareza e sua impiedade. No entanto, não podem morrer e sua cidade é eterna! A cada cem anos, durante a noite, emerge dágua e revive em todo seu esplendor durante uma hora. Depois regressa ao abismo durante um século. Vinheta poderia ser liberada do castigo que a afeta se um mercador da cidade, ao reaparecer sobre a água, recebesse uma moeda em troca duma mercadoria.

A mesma interpolação cristã tem lugar com Ys: Havendo aferrado o galo-veleta dum campanário com sua âncora, um pescador mergulhou ao mar para soltar e assistiu uma missa. No momento da oferenda o pobre homem, não tendo moeda encima, nada deu e voltou à superfície da água. Se pudesse ter dado o menor óbolo, a cidade de Ys teria emergido o que teria sido uma grande desgraça!

Com efeito, uma profecia diz: Quando Ys surgir Paris perecerá.
Com o transcurso dos anos o mito de Ys se converteu em símbolo de difamação da sociedade e dos cultos a nossos antepassados em benefício ao cristianismo, enquanto que em sua origem ilustrava a luta incessante dos homens contra o mar e do mar contra os homens.

Estrabão diz que os címbrios atiravam venábulos contra as ondas durante as festas rituais. Aristóteles relata que os celtas não temiam os tremores de terra nem as ondas invasoras, senão unicamente que o céu lhes caísse sobre a cabeça!

Não cabe dúvida que esses ritos e sentimentos têm relação com os grandes acontecimentos geofísicos geradores de afundamento e de destruição de cidade.

No mesmo lugar, a sul-sudoeste de Lannion, o Grand Rocher, Roch'Karlés, recobre a cidade de Lexóbia, que era governada por um rei-bruxo cujo cetro tinha o poder de outorgar até mesmo os menores desejos.

Mas o mesmo que em Ys e em Vinheta, a ganância, o jogo, o desenfreio perverteram a cidade de tal modo que Deus, como castigo, a submergiu sob as ondas que, desde então, se retiraram mais ao norte.

Somente escapou ao desastre, escreveu Alexandre Goichon, um palácio maravilhoso situado no vão do Grand Rocher onde está suspensa a vareta mágica. A cada ano, durante a noite de Natal, o penhasco se entreabriu no momento em que ressoou no campanário de São-Miguel o primeiro toque da meia-noite.

“Se desejas penetrar ali, então não percas nenhum segundo, porque a entrada volta a se cerrar no instante em que ressoa o duodécimo toque”.

Uma lenda citada pelo abade Cadic situa mar adentro de São-Miguel-en-Greve uma cidade morta ou, melhor, fora do tempo. No Rillan, em São-Brandão, não longe dali, os camponeses dizem que havia noutros tempos uma cidade que foi desaparecida e destruída.

Em Planguenoual, no povo de Toutran, se elevava a poderosa Teutrônia. A antiga Reginea do mapa de Peutinger estaria enterrada sob Erquy.

O antigo povo de Phéhérel se estendia, no século V, onde em nossos dias está o mar e sua igreja, situada perto da ribeira, estava, então, no centro da aglomeração. Sob o burgo de Corseul, ao sul-sudeste de Saint-Malo, há uma cidade subterrânea cujas casas são de ouro e onde o Diabo se dá à grande vida.

MERCKEGHEM (norte). 8km a noroeste de Watten. A antiga cidade de Eecke foi submersa pelo mar no século V, numa só noite, diz a crônica. Os habitantes e o gado pereceram quando os diques cederam. Só o campanário resistiu algum tempo. Quando uma catástrofe está a ponto de arrebentar os sinos do povo submerso tocam a morto.


DAMVILLE (Eure). A 19km ao sul-sudoeste de Evreux. Segundo as afirmações do iluminado Marcel Bruegghe: Cidade construída há 13.000 anos pelos celtas com o propósito de legar às gerações futuras um testemunho de sua riqueza e de sua civilização. Cemitério, circo, mercado, silo, museu, tesouros prodigiosos!

BOSVIE (Sena Marítimo). Entre Brachy e Greuville: Cidade romana desaparecida com numerosos tesouros.

SAINT-LAURENT (Sena Marítimo). Município de Gueures, cidade desaparecida com sua igreja. O sino teria sido atirado a um poço.

AMIONS (Loire). A 26km ao sul de Roanne. A cidade, com seus habitantes egoístas e malvados (o tema não varia muito!), foi enterrada pela magia duma jovem senhora que, se supõe, era a Virgem. Ela perguntava sobre o caminho até Souternon e ninguém se havia dignado indicar.

ORMONT. As Roches-des-Fées do Ormont, nos Vosgos, dominam a cidade de Saint-Dié. São três enormes cubos de grés coroando uma gruta cuja abertura é tão estreita que há que se deslizar por ela como um réptil. Depois a gruta se alarga e se faz bastante ampla. Mais longe, mas a entrada está bloqueada, se estende a cidade das Fadas, onde dormita toda uma população de bebês onde cada um espera seu dia pra fazer sua aparição na vida. Volta a se encontrar aqui o mito da mãe gestante e do estreito compartimento comunicando com a gruta uterina.

ISSARLÉS. Lago de Ardéche, a 30km a vôo de pássaro ao sul-sudeste do Puy. Profundidade 128m, altitude 1.000m. Produzido pelo desabamento no granito. Há 2.000 anos Issarlés era uma cidade bela e florescente onde passou Jesus. Pediu caridade, mas ninguém lhe deu nenhum vaso de água, nenhum pedaço de pão. Abandonou, pois, a cidade, mas, na última casa, uma mulher lhe ofereceu pão e leite.

Jesus lhe anunciou, então, que ia destruir Issarlés, mas que ela poderia se salvar se se pusesse, imediatamente, em marcha e não voltasse a cabeça no momento do cataclismo. A boa mulher se voltou ao ouvir a água impetuosa alagando os habitantes e destruindo suas casas e ficou ela convertida em rocha. Trata-se, evidentemente, duma copia cristã do afundamento da cidade de Ys e da destruição de Sodoma.

ESTANQUE DE THAU (Hérault). Cidade enterrada perto do penhasco de Roquerol sobre o estanque de Thau. Quando sopra a tempestade se ouvem repicar as sinos da igreja.

LURDES (Altos Pirineus). Antanho, no lugar onde se encontra atualmente o lago de Lurdes, havia uma cidade cujos habitantes se negaram a dar caridade ao Bom Deus disfarçado de mendigo. Cheio de ressentimento o Senhor submergiu a cidade da qual se vislumbraria, ainda, nos claros dias de verão, as coberturas na profundidade.

BIGUGLIA. O célebre astrônomo grego Cláudio Ptolomeu, em seu Geografia, situava a cidade de Ctunium perto do estanque de Chiurlino. Uma tradição diz que o castelo do conde Fabiano foi engolido pelo estanque como castigo à maldade da condessa.

Continuaremos com 'os povoados subterrâneos'.




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