21 de fevereiro de 2013

A ÁRVORE DA VIDA Um Estudo Sobre Magia XIX



Capítulo XVII

Agora os mais importantes aspectos da magia foram abordados. Antes de encerrar este livro, entretanto, desejo apresentar alguns exemplos de vários tipos de rituais e invocações que estão incluídos numa cerimônia completa. Diversas espécies de rituais foram mencionados nas páginas anteriores e agora é necessário tornar tais referências mais explícitas. Uma operação cerimonial completa é composta de muitos ciclos menores, por assim dizer. Independentemente de todas as questões de preparo e consagração das armas da arte, o círculo e o triângulo e os talismãs, com relação ao método que foi descrito, a cerimônia correta pode incluir até oito fases distintas, não mencionando em absoluto do fato de que possa ser necessário que muitas delas sejam repetidas duas ou três vezes para efeito de ênfase. A cerimônia é aberta com um completo Ritual de Banimento, que já foi citado para tornar pura e limpa a esfera de trabalho. Segue-se usualmente uma invocação geral ou oração ao Senhor do Universo. Na seqüência se procede ao trabalho preciso. Deve haver uma invocação ao deus que governa a operação, a recitação de um apelo ao arcanjo ou anjo sucedida por uma poderosa conjuração do espírito ou inteligência para sua aparição visível. Sua manifestação no triângulo é saudada por boas-vindas especiais ensejo no qual se queima incenso como uma oferenda e para lhe dar corpo. Segue-se então a Licença para Partida e a operação é concluída por um completo banimento cerimonial. Propomos, assim, neste capítulo final, dar vários exemplos de cada um dos ciclos mais importantes do trabalho, reproduzindo aquelas invocações que são consideradas exemplares pelas autoridades.

A preparação de um templo ou aposentoadequado a ser empregado como o cenário das operações mágicas é uma das mais importantes preliminares a serem atendidas pelo teurgo. O uso contínuo de um aposento especial no qual a preocupação principal foi com a prática da meditação e coisas geralmente mágicas tende automaticamente a consagrar essa área limitada à Grande Obra, expelindo todas as influências indesejáveis e perturbadoras. Uma simples forma de cerimônia consagrando uma câmara especial para um propósito mágico pode ser concebida muito facilmente incorporando-se o Ritual do Pentagrama com diversos aforismos dos Oráculos Caldeus, como por exemplo no ritual que se segue.

“Que o mago encare o leste e segurando o bastão de lótus pela parte negra, diga as seguintes palavras:

HEKAS, HEKAS, ESTI BEBELOI!

“Então que se realize o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama de maneira que um círculo seja formado abrangendo a área da câmara inteira, depois do que o bastão deve ser depositado sobre o altar.

“Purifica os limites externos do círculo com água, dizendo: ‘ Assim portanto primeiro o Sacerdote que governa os trabalhos do fogo tem que borrifar a água do mar que alto ressoa.’

“Purifica com fogo, dizendo: ‘ E quando depois de todos os fantasmas tu veres aquele santo fogo amorfo, aquele fogo que dardeja e lampeja através das profundezas ocultas do universo, escuta a voz do fogo. ‘

“Então toma novamente o bastão de lótus pela extremidade branca, e repete a adoração:

“ ‘Santo és tu Senhor do Universo.
Santo és tu cuja natureza não formou.
Santo és tu o Vasto e Poderoso,
Senhor da Luz e das Trevas.’ “

Imediatamente após os banimentos iniciais terem sido realizados, e logo antes do princípio da cerimônia, aconselha-se uma invocação do Altíssimo. Tal como a vontade inferior aspira àquilo que está acima, do mesmo modo se concebe que o mais alto aspirará à união com aquilo que está abaixo. Para equilibrar a cerimônia uma invocação da Vontade Superior – seja esta concebida como o Augoeides ou o Senhor do Universo - é considerada parte indispensável de qualquer operação. A oração que é apresentada abaixo aparece primeiramente em The Secret Symbols of the Rosicrucians (Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes), de Franz Hartman e é uma das hinos mais eloqüentes e exaltadores já escritos que se enquadra ao propósito mencionado acima.

“Eterna e Universal Fonte do Amor, Sabedoria e Felicidade; a Natureza é o livro no qual Teu caracter está inscrito e ninguém é capaz de lê-lo a não ser que tenha estado em Tua escola. Portanto, nossos olhos estão dirigidos para Ti, como os olhos dos servos estão dirigidos sobre as mãos de seus senhores e senhoras, dos quais recebem suas dádivas.

“Ó tu Senhor dos Reis, quem deixaria de louvar-Te incessantemente, e para sempre com todo seu coração? Pois tudo no universo procede de Ti, de Teu interior, pertence a Ti e é imperioso que novamente retorne a Ti. Tudo que existe reingressará em última instância em Teu Amor ou Teu Ódio, Tua Luz ou Teu Fogo, e tudo, seja bom ou mau, deve servir à Tua glorificação.

“Tu somente é o Senhor pois Tua Vontade é a fonte de todos os poderes que existem no universo; nada pode escapar a Ti. És o Reio do Mundo, Tua residência é no Céu e no santuário do coração dos virtuosos.

“Deus universal, Vida Una, Luz Una, Poder Uno, Tu Tudo em Tudo, além da expressão e além da concepção. Ó Natureza! Tu alguma coisa a partir de nenhuma coisa, tu símbolo da Sabedoria! Em Mim Mesmo eu sou nada, em Ti eu sou eu. Eu vivo em Ti eu feito de nada; vive Tu em mim, e tira-me da região do eu para a Luz Eterna.”

Em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago Abraão, o Judeu cuidadosamente insistiu em não fornecer orações ou invocações, sugerindo que as melhores invocações seria aquelas escritas por cada indivíduo de maneira a atender a necessidades pessoais. Apresenta, todavia, nas páginas de seu livro uma oração que é adequada, tal como a oração rosacruz precedente, para a formação da abertura da cerimônia colimando o soerguimento da mente do mago e a atração da insuflação divina para a bênção do trabalho em pauta (Embora ainda assim se trate da oração pessoal que Abraão empregou em sua consagração).

“Ó Senhor Deus de Misericórdia; Deus, Paciente, Benigníssimo e Liberal, que concedeis Vossa Graça de mil maneiras, e por mil gerações; que esqueceis as iniqüidades, os pecados e as transgressões dos homens; em cuja Presença ninguém é encontrado inocente; que visitais as transgressões dos pais para com os filhos e sobrinhos, até a terceira e quarta gerações; conheço minha miséria e não sou digno de aparecer perante Tua Divina Majestade, nem mesmo de implorar e buscar Vossa Bondade e Mercê para a mínima Graça. Mas, ó Senhor dos Senhores, a Fonte de Vossa Bondade é tamanha, que por Si só chamou aos que estão confundidos por seus pecados e não se atrevem a se aproximar, e convidou-os a beber de Vossa Graça. Donde, ó Senhor meu Deus, tende piedade de mim e afastai de mim toda iniqüidade e malícia; limpai minha alma de toda impureza de pecado; renovai-me em meu Espírito, e confortai-o, de modo que possa se tornar forte e apto a compreender o Mistério de Vossa Graça, e os Tesouros de Vossa Divina Sabedoria. Santificai-me também com o Óleo de Vossa Santificação, com que santificastes todos os Vossos Profetas; e purificai-me com ele em tudo o que me é pertinente, de modo que possa me tornar digno da Conversação de Vossos Santos Anjos e de Vossa Divina Sabedoria, e concedei-me o Poder que destes a Vossos Profetas sobre todos os Espíritos Maus. Amém. Amém .” (NT:Tomei a liberdade de acrescentar Amém. Amém., por fidelidade ao original transcrito).

Talvez um dos mais primorosos hinos conhecidos por este autor é um escrito por Aleister Crowley. Está presente numa peça mística intitulada The Ship composta há muitos anos atrás e é isento de todas as incômodas implicações metafísicas constantes em outras orações, as quais tendem a melindrar sensibilidades filosóficas. Como é, inclusive, em forma poética, o efeito é cumulativo, facilitando grandemente o processo de exaltação (NT: É preciso que o leitor compreenda que, como no caso de demais poesias aqui traduzidas, a rima é muitas vezes sacrificada em prol da justeza e ritmo do texto em português).

“Tu que és eu, além de tudo que sou,
Que não possui nenhuma natureza e nenhum nome,
Que és quando todos exceto Tu já se foram,
Tu, centro e segredo do Sol,
Tu, fonte oculta de todas as coisas conhecidas
E desconhecidas, Tu afastado, só,
Tu, o fogo verdadeiro dentro do junco
Procriando e criando, fonte e semente
De vida, amor, liberdade e luz,
Tu que transcende discurso e visão,
Tu eu invoco, meu débil e fresco fogo
Acendendo à medida que meus intentos aspiram.
Tu eu invoco, Tu que és permanente,
Tu, centro e segredo do Sol,
E aquele mistério santíssimo
Do qual eu sou o veículo.
Aparece, sumamente terrível e sumamente brando,
Como é lícito, em Tua criança.
Pois do Pai e do Filho,
O Espírito Santo é a norma;
Macho-fêmea, quintessencial, uno,
Homem-sendo velado sob forma de mulher.
Glória e veneração no mais excelso,
Tu Pomba, humanidade que deifica,
Sendo esta raça mui realmente governada,
Do brilho do sol da primavera até a borrasca do inverno.
Que Tu sejas glorificado e venerado
Seiva do freixo do mundo, árvore de prodígios!
Glória a Ti que procedes do Túmulo Dourado.
Glória a Ti que procedes do Útero que Espera.
Glória a Ti que procedes da terra não arada!
Glória a Ti que procedes da virgem que fez voto!
Glória a Ti, Unidade verdadeira
Da Trindade Eterna!
Glória a Ti, Tu genitor e genitora
E eu de Eu sou o que Eu sou!
Glória a Ti, Sol eterno,
Tu Um em Três, Tu Três em Um!
Que Tu sejas glorificado e venerado,
Seiva do freixo do mundo, árvore de prodígios! “

Nos escritos do mui eminente platonista Thomas Taylor podem ser encontrados alguns exemplos salutares de hinos e invocações adequados ao trabalho mágico. Aliás, há uma volume traduzido por Taylor em 1787 do grego intitulado The Mystical Hymns of Orpheus (Os Hinos Místicos de Orfeu) no qual há invocações dirigidas a quase cada um dos deuses principais; de sorte que para o aprendizde teurgia esse volume se destina a ser extremamente útil em seu trabalho prático, especialmente em vista do fato de Taylor ser da opinião de que o conteúdo do livro era usado nos Mistérios de Elêusis. Pertencente ao tipo de oração geral que deve preceder a uma cerimônia, transcrevemos aqui um notável Hino ao Céu que para seu propósito é incomparável.

“Grande Céu, cuja poderosa estrutura não conhece repouso,
Pai de tudo de que o mundo surgiu;
Escutai, pai generoso, origem e desfecho de tudo,
Para sempre circundando esta esfera terrestre;
Moradia dos deuses, cujo poder guardião cerca
O mundo eterno dentro de limites perenes;
Cujo seio amplo e dobras envolventes
Sustentam a necessidade terrível da natureza.

Etérea, terrestre, cuja estrutura multivariada,
Cerúlea e plena de formas, nenhum poder é capaz de domar.

Onividente, fonte de Saturno e do tempo,
Para sempre abençoada, divindade sublime,

Propícia sobre um novo brilho místico,
Coroai seus desejos com uma vida divina.”

No mesmo volume há um Hino à Mãe dos Deuses que como uma invocação pode ser empregado exatamente da mesma maneira para preceder o trabalho cerimonial efetivo. É especialmente digno de ser citado.

“Mãe dos Deuses, grande ama-seca de todos, aproxima-te
Divinamente honrada e considera minha oração.

Entronizada num carro por leões tirado,
Por leões destruidores de touros, céleres e fortes,
Tu agitas o cetro da vara divina,
E o assento intermediário do mundo, mui afamado, é Teu.

Daí a terra é Tua, e mortais necessitados dividem
Seu alimento constante, a partir de Tua proteção.

De Ti o mar e todos os rios fluem.

Achamos Teu nome o melhor e fonte de riqueza
Aos homens mortais que se regozijam em ser bondosos;

Pois a cada bem a ser dado Tua alma se delicia.

Vem, poder formidável, propício aos nossos ritos,
Aquela que tudo doma, abençoada, Salvadora frígia, vem,
Grande rainha de Saturno, que se regozija no tambor
Donzela celestial, antiga, mantenedora da vida,
Fúria inspiradora, dá ao Teu suplicante ajuda;

Com aspecto jubiloso sobre o nosso incenso brilha
E satisfeita, aceita o sacrifício divino.”

A oração apresentada a seguir é um extrato de uma cerimônia invocando o Santo Anjo Guardião levada a efeito pelo falecido Allan Bennett, um dos Adeptos da Golden Dawn antes de ter ingressado no sangha budista e ter se tornado bhikkhu Ananda Metteya.

“Que Tu sejas adorado, Senhor da minha Vida, pois Tu permitiste a mim adentrar até aqui o Santuário de Teu Inefável Mistério; e te dignaste a manifestar para mim algum pequeno fragmento da Glória de Teu Ser. Ouve-me, Anjo de Deus, o Vasto; ouve-me e admite minha oração! Concede que eu sempre sustente o Símbolo do Auto-sacrifício; e concede a mim a compreensão de tudo que possa me aproximar de Ti! Ensina-me, Espírito estrelado, mais e mais de Teu Mistério e Tua Maestria; permite que cada dia e cada hora me deixem mais perto, mais perto de Ti! Permite-me auxiliar-Te em Teu sofrimento de modo que possa algum dia tornar-me participante de Tua Glória, naquele dia quando o Filho do Homem for invocado ante o Senhor dos Espíritos, e Seu Nome na presença da Ancião dos Dias!

“E neste dia ensina-me esta única coisa: como posso aprender de Ti os Mistérios da Alta Magia da Luz. Como posso eu ganhar dos Habitantes dos Elementos brilhantes o conhecimento e poder destes: e como eu posso empregar da melhor maneira esse conhecimento para ajudar meus semelhantes.

“E finalmente oro a Ti para que possa haver um laço de Dependência entre nós; que eu possa sempre buscar, e buscando obter ajuda e conselho de Ti que és minha própria individualidade. E diante de Ti eu prometo e juro que pelo apoio Daquele que senta no Trono Santo purificarei meu coração e mente de modo que um dia possa me tornar verdadeiramente unido a Ti, que és em Verdade meu Gênio Superior, meu Mestre, meu Guia, meu Senhor e Rei! “

Embora a forma das invocações gnósticas tenha se tornado bastante conhecida no meio daqueles que estudam magia e misticismo, há uma invocação particularmente boa que desejo reproduzir aqui, extraída do manuscrito Bruce. Contém diversos nomes bárbaros evocatórios e foi proferida por Jesus para a purificação de seus discípulos.

“Ouve-me, ó meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, torna este meus discípulos dignos de receber o Batismo do Fogo, perdoa seus pecados, purifica as iniqüidades que eles cometeram consciente ou inconscientemente, aquelas que cometeram desde sua infância até mesmo aos dias de hoje, suas palavras impensadas, seu discurso maligno, seus falsos testemunhos, seus furtos, suas mentiras, suas calúnias enganosas, suas fornicações, seus adultérios, sua cobiça, sua avareza e todos os pecados que possam ter cometido, apaga-os, purifica-os deles e permita que ZOROKOTHORA venha em segredo e lhes traga a Água do Batismo do Fogo da Virgem do Tesouro.

“Ouve-me, ó meu Pai: eu invoco Teus Nomes Incorruptíveis Ocultos nos Aeons para sempre, AZARAKAZA AAMATHKRATITATH IOIOIO ZAMEN ZAMEN ZAMEN IAOTH IAOTH IAOTH PHAOPH PHAOPH PHAOPH KHIOEPHOZPE KHENOBINYTH ZARLAI LAZARLAI LAIZAI, AMEN AMEN; ZAZIZAYA NEBEOYNISPH PHAMOY PHAMOY PHAMOY AMOYNAI AMOYNAI AMOYNAI AMEN AMEN AMEN ZAZAZAZI ETAZAZA ZOTHAZAZAZA. Ouve-me, meu Pai, Pai de todas as paternidades, Luz Infinita, eu invoco Teus Nomes Incorruptíveis que estão no Aeon de Luz para que ZOROKOTHORA me envie a Água do Batismo Ígneo procedente da Virgem de Luz para que eu possa batizar meus discípulos. Ouve-me novamente, ó meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, para que a Virgem de Luz possa vir, que ela possa batizar meus discípulos com Fogo, que ela possa perdoar seus pecados, purificar suas iniqüidades, pois eu invoco Teu Nome Incorruptível que é ZOTHOOZA THOITHAZAZZAOTH AMEN AMEN AMEN. Ouve-me também ó Virgem de Luz, ó Juíza da Verdade, perdoa os pecados de meus discípulos; e se, ó meu Pai, Tu apagares suas iniqüidades, possam eles ser inscritos herdeiros do Reino da Luz, e para este fim realiza um milagre sobre estes incensários de suave perfume.”

Pouca engenhosidade da parte do noviço será exigida para efetuar as necessárias alterações destes rituais de modo a adaptá-los às suas próprias finalidades. Um pronome aqui mais uma palavra ali e o resultado é um ritual pessoal. O mesmo se revela verdadeiro no que concerne aos rituais dos Livro dos Mortos, muitos deles sendo líricos e panegíricos. No capítulo CLXXXII é apresentada uma curta invocação na qual Thoth é representado em identificação com os mortos.

“Eu sou Thoth, o escriba perfeito cujas mãos são puras. Eu sou o Senhor da pureza, o destruidor do mal, o escriba do correto e da verdade, e o que abomino é o pecado.”

(NT: O leitor deve considerar o termo pecado aqui com certas reservas devido ao significado e conotação que essa palavra adquiriu na teologia judaico-cristã. É aconselhável prender-se ao sentido original do vocábulo latino peccatum, a saber: falta, erro, crime).

“Contempla-me pois eu sou o junco de escrita do deus Neb-er-tcher, o senhor das leis, que concede a palavra da sabedoria e do entendimento, e cujo discurso exerce domínio sobre a terra dupla. Eu sou Thoth, o senhor do correto e da verdade, que faz o fraco conquistar a vitória e que vinga os infelizes e os oprimidos naquele que lhes causou dano.

“Eu dispersei as trevas!

“Eu afastei a tempestade, e trouxe o vento a Un-Nefer, a brisa formosa do vento do norte, mesmo brotando do útero de sua mãe.

“Eu o fiz ingressar a morada oculta e ele vivificará a alma do Coração Tranqüilo, Un-Nefer, o filho de Nuit, Hórus triunfante! “

Ocioso dizer que no emprego da invocação acima a forma do deus Thoth é magicamente assumida e o próprio ritual enumera algumas das qualidades e poderes do deus, a recitação do mesmo auxiliando na união e mescla das substâncias. O exemplar de ritual dado por E. A. Wallis Budge em The Gods of the Egyptians (Os Deuses dos Egípcios) usado como uma invocação de Osíris, constitui um exemplo bem melhor. Foi necessário fazer uma espécie de edição dele já que era demasiado longo e disperso.

“Salve, senhor Osíris. Salve, senhor Osíris. Salve, senhor Osíris.

“Salve, salve, formoso moço, vem ao teu templo prontamente pois nós não vemos a ti. Salve, formoso moço, vem ao teu templo e te aproxima após tua partida de nós.

“Salve, tu que comandas ao longo da hora, que cresces exceto em sua estação. Tu és a imagem exaltada de teu pai Tenen, tu és a essência oculta que provém de Atmu. Ó tu, Senhor, ó tu Senhor, quão maior és tu que teu pai, ó tu filho primogênito do útero de tua mãe. Retorna a nós novamente com aquilo que a ti pertence e nós te abraçaremos; não nos deixa, ó rosto belo e grandemente amado, tu imagem de Tenen, tu, o viril, tu senhor do amor. Vem em paz e permita-nos ver, ó nosso Senhor ... .

“Salve, Príncipe, que provém do útero ... da matéria primeva. Salve, Senhor de multidões de aspectos e formas criadas, círculo de ouro nos templos; senhor do tempo e doador de anos. Salve, senhor da vida por toda a eternidade; senhor de milhões e miríades, que brilha tanto no nascer quanto no pôr do sol. Salve, tu senhor do terror, tu, o poderoso do tremor.

“Salve, senhor das multidões de aspectos, tanto macho quanto fêmea; tu és coroado com a Coroa Branca, tu Senhor da Coroa Urerer. Tu Bebê santo de Her-hekennu, tu filho de Ra, que senta no Barco de Milhões de anos, tu Guia do Repouso! Vem para os teus sítios ocultos.

“Salve, tu senhor que és auto-produzido. Salve, tu cujo coração é tranqüilo, vem a tua cidade. Tu, amado dos deuses e deusas que mergulhaste a ti mesmo em Nu, vem ao teu templo; tu estás no Tuat, vem para tuas oferendas... .

“Salve, tu flor santa da Grande Casa. Salve, tu que trazes o cordame santo do barco de Sekti; tu Senhor do Barco de Hennu que renovas tua juventude no sítio secreto, tu Alma perfeita... Salve, tu oculto, que és conhecido da humanidade.

“Salve! Salve! Tu efetivamente brilhas sobre aquele que está no Tuat e efetivamente mostras a ele o Disco, tu Senhor da Coroa Ateph. Salve, ó poderoso do terror, tu que nasces em Tebas, que floresces para sempre. Salve, tu alma viva de Osíris coroado com a lua. “

Um outro ritual proveniente de fontes egípcias é o Hino a Amon-Ra, que reproduzimos aqui a partir do famoso Harris Magical Papyrus.

“Ó Amon oculto no centro de seu olho, espírito que brilha no olho sagrado, adoração para os Transformadores Santos, para aqueles que não são conhecidos! Brilhantes são suas formas veladas num fulgor de Luz.

“Mistério dos Mistérios, Mistério Ocultado, Salve Tu no meio dos céus. Tu, que és Verdade, geraste os deuses. Os signos da Verdade estão em teu misterioso santuário. Por ti se faz tua mãe Meron brilhar. Tu tornas manifestos raios que iluminam. Tu circundas a Terra com tua luz até retornares à montanha que está no País de Aker. Tu és adorado nas águas. A terra fértil te adora. Quando teu cortejo passa pela montanha oculta o animal selvagem se ergue em sua toca, os espíritos do Oriente te louvam, temem a luz de teu disco. Os espíritos do Khenac te aclamam quando tua Luz brilha em seus rostos. Tu atravessas um outro céu que não é possível ao teu inimigo atravessar. O fogo de teu calor ataca o monstro Ha-her. O peixe Teshtu guarda as águas ao redor de tua barca. Tu comandas a morada do monstro Oun-ti, que Nub-ti golpeia com sua espada.

“Este é o deus que se apoderou do céu e da terra em sua tempestade. Sua virtude é poderosa para destruir seu inimigo. Sua lança é o instrumento de morte para o monstro Oubn-ro. Agarrando-o subitamente ele o subjuga; ele se faz mestre dele e o força a reingressar em sua morada; então ele devora seus olhos e nisto está seu triunfo; o monstro é então devorado por uma chama ardente; da cabeça aos pés todos os seus membros queimam em seu calor. Tu trazes teus servos ao porto com um vento favorável. Sob ti, os ventos encontram paz. Tua barca regozija, tuas sendas são ampliadas porque tu venceste os caminhos do autor do mal.

“Velejai, estrelas errantes! Velejai, astros resplandecentes; vós que viajais com os ventos! Pois tu estás repousando no seio do céu, tua mão te abraça; quando tu chegas ao horizonte ocidental a terra abre os braços para receber-te. Tu que és venerado por todas as coisas existentes! “

As poucas últimas linhas da invocação acima, pode-se notar, se acham num plano muito mais elevado de poesia do que o corpo principal da invocação. Trata-se de uma peroração extremamente boa. Estes rituais devem ser objeto de muito estudo e à luz de princípios da Cabala uma considerável quantidade de filosofia pode deles extraída e neles percebida.

Um ritual que desde algum tempo se tornou geralmente conhecido como a “Invocação do Não-nascido” parece a este autor um dos melhores por ele conhecido. O mais antigo registro que dele se descobriu se acha numa obra intitulada Fragment of a Graeco-Egyptian Work upon Magic (Fragmento de uma Obra Greco-egípcia sobre Magia), de Charles Wycliffe Goodwin, M. A., publicada em 1852 para a Cambridge Antiquarian Society. Reimpresso no século passado no final da década de noventa por Budge em Egyptian Magic(Magia Egípcia), esse ritual tornou-se largamente conhecido entre os devotos da teurgia e foi cuidadosamente editado e elaborado por magos experientes. Reproduzimos abaixo a versão aperfeiçoada.

“Tu eu invoco, o Não-nascido.

“Tu que criaste a Terra e os Céus.

“Tu que criaste a Noite e o Dia.

“Tu que criaste as trevas e a Luz.

“Tu és Osorronophris, que nenhum homem viu em tempo algum.

“Tu és Iabas. Tu és Iapos. Tu distinguiste entre o justo e o injusto. Tu produziste a fêmea e o macho.

“Tu produziste a Semente e o Fruto. Tu formaste homens para se amarem entre si e se odiarem entre si.

“Eu sou Mosheh(Aqui o mago pode inserir seu próprio nome e lugar na hierarquia mágica) teu Profeta(Moises) ao Qual tu confiaste teus Mistérios, as cerimônias de Israel.

“Tu produziste o úmido e o seco, e aquilo que nutre todas as coisas criadas.

“Que tu me ouça, pois eu sou o Anjo de Paphro Osorronophris; este é Teu Verdadeiro Nome, entregue aos Profetas de Israel.

“Ouve-me: Ar: Thiao: Rheibet: Atheleberseth: A ; Blatha: Abeu: Ebeue: Phi: Thitasoe: Ib: Thiao.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre a terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e cada Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Eu te invoco, o Deus Terrível e Invisível, que habitas o Sítio Vazio do Espírito: Arogogorobrao: Sothou: Modorio: Phalarthao: Doo: Apé: O Não-nascido.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia, e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me: Roubriao: Mariodam: Balbnabaoth: Assalonai: Aphnaio: I ; Thoteth: Abrasar: Aeoou: Ischure, Poderoso e Não-nascido.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Eu te invoco: Ma: Barraio: Ioel: Kotha: Athorebalo: Abraoth!

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me! Aoth: Abaoth: Basum: Isak: Sabaoth: Isa !

“Este é o Senhor dos Deuses! Este é o Senhor do Universo! Este é Aquele que os Ventos temem!

“Este é Aquele Que tendo feito a Voz por seu Mandamento é Senhor de todas as Coisas, Rei, Governante e Auxiliador.

“Ouve-me e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

“Ouve-me: Ieou: Pur ; Iou: Pur: Iaot: Iaeo: Ioou: Abrasar: Sabrium: Do: Uu: Adonaie: Ede: Edu: Angelos ton Theon: Anlala Lai: Gaia: Ape: Diarthana Thorun.

“Eu sou Ele! O Espírito Não-nascido! tendo visão nos Pés! Forte e o Fogo Imortal!

“Eu sou Ele! A Verdade!

“Eu sou Ele! Quem odeia que o mal seja lavrado no Mundo!

“Eu sou Aquele que ilumina e troveja. Eu sou Aquele do Qual procede a Abundância da Vida da Terra: Eu sou Aquele cuja boca sempre flameja: Eu sou Ele: O Gerador e o Manifestador diante da Luz.

“Eu sou Ele: A Graça do Mundo!

“ ‘O Coração com uma Serpente como Cinta ‘ é o meu Nome!

“Vem e segue-me, e faz todos os Espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam prestar obediência a mim.

IAO: SABAO

“ Tais são as palavras! “

Talvez um tipo ainda melhor de invocação aos deuses é o que apresentaremos a seguir. Há muitos teurgos que o preferem, como modalidade de ritual, ao precedente. A invocação de Thoth que citarei se baseia muito largamente no Livro dos Mortos, principalmente no capítulo da Saída pelo Dia e uma seção contendo uma alocução sacerdotal ao faraó citada por Maspero. O ritual completo, entretanto, não mostra quaisquer sinais de colcha de retalhos, sendo perfeitamente coerente, consistente e estático.

“Ó Tu, Majestade da Divindade, Tahuti Coroado de Sabedoria, Senhor dos Portais do Universo, a Ti, a Ti eu invoco!

“Ó Tu cuja cabeça é como uma Íbis, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu que seguras em Tua mão direita o bastão mágico do Poder Duplo e que portas em tua mão esquerda a Rosa e a Cruz da Luz e da Vida, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu cuja cabeça é como Esmeralda, e cuja nêmis como o azul do céu noturno, a Ti, a Ti eu invoco!

“Tu cuja pele é de laranja flamejante como se ardesse numa fornalha: a Ti, a Ti eu invoco!

“Vê, eu sou ontem, Hoje e o irmão do Amanhã! Eu nasço de novo e de novo. A mim pertence a força invisível da qual os deuses se originam, a qual dá vida aos habitantes das torres de vigia do Universo.

“Eu sou o auriga no Oriente, Senhor do Passado e do Futuro, o qual vê por sua própria luz interior. Eu sou o Senhor da Ressurreição, que assoma do crepúsculo e cujo nascimento procede da Casa da Morte. Ó vós dois falcões divinos que sobre vossos pináculos mantêm a vigilância do Universo! Vós que acompanhais o esquife a sua Casa de Repouso, que pilotam o Barco de Ra sempre avançando às alturas do céu! Senhor do Santuário que fica no centro da Terra!

“Vê! Ele está em mim e Eu Nele! Meu é o brilho com o qual Ptah flutua sobre seu firmamento! Eu viajo pelas alturas! Eu piso o firmamento de Nu! Eu ergo uma flama cintilante com o relâmpago de meu olho, sempre investindo para a frente no esplendor do diariamente glorificado Ra, outorgando minha vida aos habitantes da Terra. Se eu digo Subi às montanhas as águas celestiais fluirão ante minha palavra, pois eu sou Ra encarnado; Kephra criado na carne! Eu sou o eidolon do meu Pai Tmu, Senhor da Cidade do Sol.

“O deus que comanda está em minha boca. O Deus da Sabedoria está em meu coração. Minha língua é o santuário da Verdade; e um deus senta sobre meus lábios. Minha palavra é comprida todos os dias e o desejo de meu coração realiza a si mesmo como aquele de Ptah quando ele cria suas obras. Visto que eu sou Eterno tudo atua de acordo com meus desígnios, e tudo acata minhas palavras.

Portanto que Tu venhas a Mim de Tua Morada no Silêncio, Sabedoria Impronunciável, Toda-Luz, Toda-Poder.

“Thoth, Hermes, Mercúrio, Odin. Por qualquer nome que chame a Ti, Tu és ainda i-Nomeado e Sem Nome para a Eternidade. Que tu venhas, eu digo, e ajuda-me e guarda-me nesta obra da Arte.

“Tu estrela do Oriente que realmente conduziste os Magos. Tu estás identicamente toda presente no Céu e no Inferno. Tu que vibras entre a Luz e as Trevas, ascendendo, descendo, mudando para sempre, e no entanto sempre a mesma. O Sol é Teu Pai! Tua Mãe, a Lua! O Vento Te gerou em seu seio: E a terra sempre nutriu a Divindade Imutável de Tua Juventude.

“Vem, eu digo, vem e faz todos os espíritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na Água, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo encantamento e flagelo de Deus possam prestar obediência a mim! “

Poucos entre os aprendizesde magia da atualidade sabem que o grande neoplatônico Proclo compôs vários hinos e invocações. A maior parte, infelizmente, se perdeu, apenas uns poucos tendo sido preservados e nos tornado acessíveis. Thomas Taylor traduziu cinco desse hinos e os publicou em 1793 num apêndice do seu livro intitulado Sallust on the Gods and the World. Todos os cinco são sumamente bons e será proveitoso que o aprendizse familiarize com eles. A fim de dar uma idéia do seu valor, reproduzimos aqui o Hino ao Sol.

“Ouve Titã dourado! Rei do fogo mental,
Regente da luz; a Ti supremo pertence
A chave esplêndida da fonte prolífica da vida;

E das alturas Tu vertes correntes harmônicas
Em rica abundância nos mundos da matéria.

Ouve! pois elevado nas alturas acima de planícies etéreas,
E no brilhante orbe intermediário do mundo Tu reinas
Enquanto todas as coisas por Teu soberano poder são preenchidas
Com zelo que estimula a mente, providencial.

Os fogos das estrelas circundam Teu fogo vigoroso,
E sempre numa dança infatigável, incessante,
Sobre a terra de seios largos o rocio vívido se difunde.

Por Teu curso perpétuo e reiterado
As horas e estações em sucessão de desenrolam;

E elementos hostis cessam seus conflitos,
Logo que contemplam Teus raios tremendos, grande Rei;

De divindade inefável e nascido secreto...

Ó melhor dos deuses, dáimon coroado de fogo,
Imagem de todo o bem que a natureza produz,
E o condutor da alma ao domínio da luz –
Ouve! e purifica-me das manchas da culpa;

Recebe a súplica de minhas lágrimas,
E cura minhas feridas maculadas de pernicioso sangue coagulado;

Os castigos incorridos pelo pecado perdoa,
E mitiga o olho ágil, sagaz
Da justiça sagrada, sem limites em seu parecer.

Por Tua lei pura, dos males horrendos constante inimiga,
Dirige meus passos, e despeja Tua luz sagrada
Em rica abundância sobre minha alma anuviada;

Dissipa as sombras sinistras e malignas
De escuridão, prenhes de aflições envenenadas,
E ao meu corpo força adequada proporciona,
Com saúde, cuja aparência esplêndidas dádivas concede.

Dá fama duradoura; e possa o zelo sagrado
Com o qual as musas de belos cabelos presenteiam, que outrora
Meus pios ancestrais preservaram, ser meu.

Ajunta, se a Ti agrada, onigeneroso deus,
Riquezas duradouras, a recompensa do piedoso;

Pois poder onipotente investe Teu trono,
Com força imensa e regra universal.

E se o eixo giratório dos destinos
Ameaçar das teias de estrelas a destruição medonha,
Teus raios retumbantes com força irresistível serão enviados .

E vencerão antes de precipitar-se a calamidade iminente. “

Desejo apresentar mais uma invocação desta mesma categoria antes de prosseguir fazendo citações dos rituais usados em cerimônias de evocação. Fui obrigado, infelizmente, a omitir grande parte do ritual abaixo, por motivos de espaço, e tal como apresentado aqui corresponde a aproximadamente à metade de sua extensão correta. Escrito por Crowley e publicado por ele em Oracles é baseado em certas fórmulas mágicas e documentos que eram usados na Ordem Hermética da Golden Dawn. Sua excelência e fervor dispensam meus comentários.

“Ó Eu divino! Ó Senhor Vivo de Mim!

Flama de fulgor próprio, gerada do além!

Divindade imaculada! Célere língua de fogo,
Acesa a partir daquela incomensurável luz,
O ilimitado, o imutável.

Vem, Meu deus, meu amante, espírito do meu coração,
Coração de minha alma, branca virgem da Aurora,
Minha Rainha de toda perfeição, vem
De Tua morada além dos Silêncios
A mim, o prisioneiro, eu, o homem mortal,
Feito santuário neste barro: vem, eu digo, a mim,
Inicia minha alma excitada; aproxima-te
E deixa a glória de Tua Divindade brilhar
Mesmo para a Terra, Teu plinto ... .

Tu Anjo Majestoso de minha Vontade Superior,
Forma em meu espírito um fogo mais sutil
De Deus, para que eu possa compreender mais
A pureza sagrada de Tua divina
Essência! Ó Rainha, ó Deusa da minha vida,
Luz não-gerada, faísca cintilante
Do Todo-Eu! Ó Santa, santa Esposa
De meu pensamento mais à divindade semelhante, vem!
Eu digo
E Te manifesta ao Teu venerador...

Meu Eu real! Vem, ó deslumbrante
Envolvida na glória do Sítio Sagrado
De onde chamei a Ti: Vem a mim
E permeia meu ser até que meu rosto
Brilhe com Tua luz refletida, até que minhas sobrancelhas
Raiem com Teu símbolo estrelado, até que minha voz
Alcance o Inefável; vem, eu digo,
E faz-me uno Contigo; que todos os meus caminhos
Possam resplandecer com a santa influência
Que eu possa ser julgado digno no fim
Para sacrificar perante o Santíssimo...

Ouve-me!

Eca, zodocare, Iad, goho,
Torzodu odo Kikale qaa!
Zodacare od zodameranu!
Zodorje, lape zodiredo Ol
Noco Mada, das Iadapiel!
I las! Hoatahe Iaida!

Ó coroada com a luz das estrelas! alada com esmeraldas
Mais larga que o Céu! Ó azul mais profundo
Do abismo das águas! Ó Tu flama
Que cintila através de todas as cavernas da noite,
Línguas saltando do incomensurável
Subindo através dos resplandecentes precipícios imanifestos
Para o Inefável! Ó Sol Dourado!

Glória vibrante do meu Eu superior!

Eu ouvi Tua voz ressoando no Abismo:

‘Eu sou o único Ser nas profundezas
Da Escuridão: deixa-me ascender e preparar-me
Para trilhar o caminho das Trevas: mesmo assim
Posso atingir a luz. Pois do Abismo
Vim antes de meu nascimento: destes salões sombrios
E silêncio de um sono primevo! E Ele,
A Voz das Idades, respondeu-se e disse:

Vê! Pois eu sou Aquele que formula
Na Escuridão! Filho da Terra! a luz com efeito brilha
Nas trevas, mas as trevas não entendem
Raio algum dessa luz iniciadora!

... Não me deixa só,
Ó Espírito Sagrado! Vem para confortar-me,
Atrair-me e fazer-me manifesto,
Osíris ao mundo choroso; que eu
Seja erguido sobre a Cruz do Sofrimento
E do sacrifício, para atrair toda a espécie humana
E todo germe de matéria que possua vida,
Mesmo depois de mim, ao inefável
Reino de Luz! Ó santa, santa Rainha!

Pemite que Tuas amplas asas me abriguem!

Eu sou a Ressurreição e a Vida!

O Reconciliador da Luz e das Trevas,
Eu sou Aquele que resgata as coisas mortais,
Eu sou a Força na Matéria manifesta.

Eu sou a Divindade manifesta na carne.

Eu me posto acima, entre os Santos,
Eu sou todo purificado através do sofrimento.

Todo-perfeito no sacrifício místico,
E no conhecimento de minha Individualidade feito
Uno com os Senhores Eternos da Vida
O glorificado pelo julgamento é o meu Nome.

O Resgatador da Matéria é meu Nome ... .

Eu vejo as Trevas se precipitarem como o raio se precipita!

Eu observo as Idades como uma agitação de torrentes
Passando por mim; e como uma veste eu me livro
Das abas pegajosas do Tempo. Meu lugar está fixo
No Abismo além de todas as Estrelas e todos os Sóis.

EU SOU a Ressurreição e a Vida.

Santo és Tu, Senhor do Universo!

Santo és Tu, Cuja Natureza não se formou!

Santo és Tu, o Vasto e Poderoso!

Ó Senhor das Trevas e ó Senhor da Luz! “

Num dos capítulos anteriores foi feita alguma referência às invocações de Dee e ao poder destas. Os fatos que marcam estas invocações ou chaves como foram chamadas, são, a grosso modo, os seguintes. Mais de uma centena de páginas preenchidas de letras foram obtidas por Dee e seu colega Kelly de uma maneira que ninguém ainda em absoluto compreendeu. Dee teria, por exemplo, diante de si uma ou mais dessas tabelas, via de regra de 49” X 49”, algumas cheias, algumas com letras apenas sobre quadrados alternados, na superfície de uma escrivaninha. Sir Edward Kelly sentaria junto ao que eles chamavam de Mesa Sagrada e fitaria uma bola de cristal ou cristal no qual, depois de algum tempo, veria um Anjo que apontaria com um bastão para as letras de uma daquelas tabelas sucessivamente. A Dee, Kelly comunicaria que o Anjo apontava, por exemplo, a coluna 4, fileira 29 da tabela, aparentemente não mencionando a letra que Dee encontrava na tabela diante de si e registrava. Quando Anjo terminava sua instrução, a mensagem era reescrita de trás para diante. Teria sido ditada totalmente errada pelo Anjo por ser considerada demasiado perigosa para ser comunicada de uma maneira direta, cada palavra sendo uma conjuração tão poderosa que sua enunciação e menção diretas teriam evocado poderes e forças naquele momento indesejáveis.

Reescritas ao inverso, essas invocações pareciam escritas numa linguagem que os dois magos chamavam de enoquiano. Longe de se tratar de um jargão sem significado, o enoquiano possui gramática e sintaxe próprias, como pode ser percebido pela consulta de Casaubon que traduziu muitas das chaves. Muitos o julgam bem mais sonoro e expressivo que o próprio grego e o sânscrito, as traduções para o inglês, embora em alguns trechos de difícil compreensão, contendo maravilhosas passagens detentoras de uma sustentada sublimidade e uma potência lírica que muitos poetas e até a Bíblia não superam.

Por exemplo: “Podem as Asas do Vento compreender vossas vozes de Prodígio? Ó vós o Segundo do Primeiro, quem as chamas ardentes acomodaram nas profundezas de minhas Maxilas! Quem eu preparei como taças para um casamento ou como flores em sua beleza para a câmara da Justiça. Vossos pés são mais vigorosos do que a pedra infrutífera: e vossas vozes mais fortes que os ventos múltiplos! Pois vós vos tornais uma construção tal como não é exceto na mente do Todo-Poderoso. “

Existem dezenove dessas Chaves; as duas primeiras evocam o elemento chamado Espírito, as dezesseis seguintes invocam os quatro elementos, cada uma com quatro subdivisões. A décima nona pode ser empregada para invocar qualquer um dos chamados Trinta Aethyrs pela mudança de uma ou duas palavras especiais. Cito abaixo mais uma dessas chaves em enoquiano seguida de uma tradução:.

“ Ol Sonuf Vaoresaji, gohu IAD Balata, elanusaha caelazod; sobrazod ol Roray i ta nazodapesad, Giraa ta maelpereji, das hoel ho qaa notahoa zodimezod, od comemahe ta nobeloha zodien; soba tahil ginonupe perje aladi, das vaurebes obolehe giresam. Casarem ohorela caba Pire: das zodonurenusagi cab: erem Iadanahe. Pilae farezodem zodernurezoda adana gono Iadapiel das homo-tohe; soba ipame lu ipamis: das sobolo vepe zodomeda poamal, od bogira sai ta piapo Piamoel od Vaoan. Zodacare, eca od zodameranu! odo cicale Qaa; zodorje, lape zodiredo Noco Mada, Hathahe IAIDA! “

“Eu reino sobre vós, diz o Deus da Justiça, em poder exaltado acima do Firmamento da Ira, em cujas mãos o Sol é como uma espada e a Lua como um fogo penetrante; quem mede vossas Vestes no meio de minhas Vestimentas e vos atou como as palmas de minhas mãos; cujos assentos eu guarneci com o Fogo da Coleta e embelezei vossas vestes com admiração; para quem eu produzi uma lei para governar o Santíssimo, e entreguei a vós uma Vara , com a Arca do Conhecimento. Ademais, vós erguestes vossas vozes e jurastes obediência e fé Àquele que vive e triunfa, cujo princípio não é, nem o fim pode ser; que brilha como flama no meio de vossos palácios e reina entre vós como o equilíbrio da justiça e da verdade.

“Movei, pois, e mostrai-vos! Abri os mistérios de vossa criação. Sede amistosos comigo pois eu sou servo do mesmo Deus que é o vosso, o verdadeiro Adorador do Altíssimo.”

Embora via de regra os exemplares de rituais apresentados por Éliphas Lévi em seus diversos escritos sejam de qualidade muito precária e não se prestam em absoluto ao seu emprego prático, há uma notável exceção em seu Dogma e Ritual de Alta Magia. Ele chama este ritual de Oração aos Silfos.

“Espírito de Luz, Espírito de Sabedoria, cujo alento concede e retira a forma de todas as coisas; Tu diante de quem a vida de todo ser é uma sombra que transforma e um vapor que desvanece; Tu que ascendes às nuvens e com efeito voas sobre as asas do vento; Tu que expiras e as imensidades ilimitadas são povoadas; Tu que aspiras e tudo que de Ti brotou a Ti retorna; movimento sem fim na estabilidade eterna, sê Tu abençoado para sempre!

“Nós Te louvamos, nós Te abençoamos no império fugaz da luz criada, das sombras, reflexões e imagens: e nós aspiramos incessantemente ao Teu esplendor imutável e imperecível. Possa o raio de Tua inteligência e o calor de Teu amor descer sobre nós; que aquilo que é volátil será fixo, a sombra se converterá em corpo, o espírito do ar receberá uma alma e o sonho será pensamento. Não mais seremos varridos ante a tempestade, mas teremos à rédea os corcéis alados da manhã e guiaremos o curso dos ventos da noite, de modo que possamos fugir para a Tua presença. Ó Espírito dos Espíritos, ó Alma eterna das Almas, ó Imperecível Alento da Vida, ó Suspirar Criativo, ó Boca que com efeito expira e retrai a vida de todos os seres no fluxo e refluxo de Teu eterno discurso, que é o oceano divino de movimento e de verdade! “

Todos os rituais seguintes tratam do ramo da magia que diz respeito à evocação dos espíritos e exige poucos comentários ou explicações além do que já foi fornecido nos capítulos em que esse assunto é abordado. A forma da Segunda Conjuração de A Goécia, o melhor desta obra, é assim:

“Eu te invoco, conjuro e ordeno, Tu espírito N., a aparecer e te mostrares visivelmente a mim diante deste círculo, sob aspecto atraente e agradável, destituído de qualquer deformidade ou tortuosidade, pelo nome e no nome IAH e VAU, que Adão ouviu e falou; e pelo nome de Deus AGLA, que Lot ouviu e foi salvo com sua família; e pelo nome IOTH que Jacó ouviu do Anjo em luta com ele e foi liberto da mão de Esaú, seu irmão; e pelo nome ANAPHAXETON, que Aarão ouviu e falou e foi feito sábio; e pelo nome ZABAOTH, que Moisés nomeou, e todos os rios foram transformados em sangue; e pelo nome ASHER EHYEH ORISTON, que Moisés nomeou e todos os rios produziram rãs e estas entraram nas casas destruindo todas as coisas; e pelo nome ELION, que Moisés nomeou e houve grande chuva de granizo como jamais houvera desde o princípio do mundo; e pelo nome ADONAI, que Moisés nomeou e ali surgiram gafanhotos que se espalharam por toda a terra, e devoraram tudo que a granizo deixara; e pelo nome SCHEMA AMATHIA, que Josué invocou e o sol suspendeu seu curso; e pelo nome ALPHA e OMEGA, que Daniel nomeou e destruiu Bel e matou o dragão; e no nome EMMANUEL, que as três crianças, Shadrach, Meshach e Abednego, entoaram no meio da fornalha ígnea, e foram libertados; e pelo nome HAGIOS; e pelo Selo de ADONAI; e por ISCHYROS, ATHANATOS, PARACLETOS; e por O THEOS, ICTROS, ATHANATOS e por estes três nomes secretos AGLA ON TETRAGRAMMATON eu intimo e constranjo a ti. E por estes nomes, e por todos os outros nomes do Deus VIVO e VERDADEIRO, o SENHOR TODO-PODEROSO, e exorcizo e ordeno a ti, ó espírito N., mesmo por Aquele que proferiu a Palavra e foi feito, e ao qual todas as criaturas obedecem; e pelos terríveis julgamentos de Deus; e pelo incerto Mar de Vidro que está diante da Majestade divina, vigorosa e poderosa; pelas quatro bestas perante o trono que têm olhos na frente e atrás; pelo fogo ao redor do trono; pelos santos anjos do Céu; e pela poderosa sabedoria de Deus, eu com poder exorcizo a ti para que apareças aqui diante deste círculo a fim de satisfazer minha vontade em todas as coisas que a mim se afigurarão boas; pelo Selo de BASDATHEA BALDACHIA; e por este nome PRIMEUMATON, que Moisés nomeou, e a terra se abriu e com efeito tragou Kora, Dathan e Abiram. Por conseguinte, tu darás respostas fidedignas a todas as minhas demandas, ó espírito N., e realizarás todos os meus desejos na medida da capacidade de tua posição. Portanto, vem, visível, pacífica e afavelmente, agora sem demora, a fim de manifestar aquilo que eu desejo, falando com voz clara e perfeita, inteligivelmente, e para meu entendimento.”

Em The Magus,Barrett apresenta uma ligeira variação do ritual acima. Idêntico à versão da Goécia até o trecho que menciona Kora, Dathan e Abiram, excetuando alguma alterações secundárias, principalmente referentes a nomes, segue-se uma seção inteira que é exclusiva ao ritual de Barrett, merecendo a citação aqui devido à presença dos nomes bárbaros.

“E no poder daquele nome PRIMEUMATON, comandando toda a hoste do céu, nós vos amaldiçoamos e vos despojamos de vossa função, alegria e posição e com efeito vos prendemos nas profundezas do poço de fundo para que aí permaneçais até o dia terrível do juízo final; e vos prendemos ao fogo eterno, e ao lago de fogo e enxofre, a menos que apareçais incontinenti diante deste círculo para executar nossa vontade; por conseguinte, vinde por estes nomes ADONAI, ZABAOTH, ADONAI, AMIORAM, vinde, vinde, vinde, Adonai ordena; Sadai, o mais poderoso Rei dos Reis, cujo poder nenhuma criatura é capaz de resistir seja para vós sumamente medonho, a menos que obedeceis, e de imediato aparecei afavelmente diante deste círculo, que a chuva do infortúnio e o fogo inextinguível permaneçam com vós; e portanto vinde em nome de Adonai, Zabaoth, Adonai, Amioram; vinde, vinde, vinde, por que retardais? Apressa-vos! Adonai, Sadai, o Rei dos Reis vos ordenam: El, Aty, Titcip, Azia, Hin, Hen, Miosel, Achadan, Vay, Vaah, Eye, Exe, A, El, El, El, A, Hau Hau, Vau, Vau, Vau.”

Dos métodos de Honório (Papa Honório III, pontífice de 1216 a 1227) extraí a invocação que se segue, tendo-a condensado ligeiramente. Porquanto se trata de uma evocação do espírito Rei Amaimon, que figura como um dos hierarcas em A Goécia, e visto que sua comemoração tem teor cristão, é reproduzida abaixo para que uma comparação possa ser efetuada com o ritual precedente, de teor judaico.

“Ó tu Amaimon, Rei e Imperador das partes do norte, eu te chamo, invoco, exorcizo e conjuro pela virtude de poder do Criador, e pela virtude das virtudes, a me enviar logo e sem demora Madael, Laaval, Bamlahe, Belem e Ramath, com todos os outros espíritos submetidos a ti, sob forma agradável e humana! Em qualquer lugar que estejas agora, aproxima-te e rende aquela honra que deves ao verdadeiro Deus vivo que é teu Criador. Eu te exorcizo, te invoco e sobre ti imponho o mais elevado mandamento pela onipotência do Deus sempre vivo, e do Deus verdadeiro; pela virtude do Deus santo e o poder DELE que falou e todas as coisas foram feitas, e mesmo pelo Seu santo mandamento os céus e a Terra foram feitos, com tudo que neles está contido! Eu intimo a ti pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, mesmo pela Santa Trindade, pelo Deus ao qual não podes resistir, sob cujo império compelirei a ti: eu te conjuro por Deus-Pai, pelo Deus-Filho, pelo Deus-Espírito Santo, pela Mãe de Jesus Cristo, Santa Mãe e Perpétua Virgem, por seu sagrado coração, por seu leite abençoado que o Filho do Pai sugava, por seu corpo e alma santíssimos, por todas as partes e membros dessa Virgem, por todos os sofrimentos, aflições, trabalhos, agonias que ela suportou durante todo o curso da vida Dele, por todos os suspiros que ela deu, pelas santas lágrimas que ela verteu enquanto seu querido Filho chorava antes da ocasião de Sua dolorosa Paixão e sobre o madeiro da Cruz, por todas as coisas sagradas e santas que são ofertadas e feitas, e também por todas as outras, tanto no céu como na Terra em honra de nosso Salvador Jesus Cristo, e de Maria Abençoada, Sua Mãe, por tudo que seja celestial. Conjuro-te pela Santa Trindade, pelo sinal da Cruz, pelo mais precioso sangue e água que jorraram do flanco de Jesus, pelo suor que escorreu de todo Seu corpo, quando Ele disse no Jardim das Oliveiras: ‘Pai, se for tua vontade, afasta de mim este Cálice’; por Sua morte e paixão, por Seu sepultamento e gloriosa ressurreição, por Sua ascensão, conjuro-te também pela coroa de espinhos que foi colocada sobre Sua cabeça, pelo sangue que escorreu de Seus pés e mãos, pelos pregos com os quais Ele foi pregado ao madeiro da Cruz, pelas lágrimas santas que Ele derramou, por tudo que Ele sofreu voluntariamente por grande amor a nós, por todos os membros de nosso Senhor Jesus Cristo.

“Eu te conjuro pelo julgamento dos vivos e dos mortos, pelas palavras do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, pelas Suas pregações, por seus dizeres, por todos Seus milagres, pela criança em faixas, pela criança chorosa gerada pela mãe em seu útero mais puro e virginal, pela gloriosa intercessão da Virgem Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, e por tudo que é de Deus e da Mãe Santíssima, tanto no céu como na Terra. Eu te conjuro, ó tu grande Rei Amaimon, pelos Santos Anjos e Arcanjos, e por todas as ordens abençoadas de espíritos, pelos santos patriarcas e profetas, e por todos os santos mártires e confessores, por todas as virgens santas e viúvas inocentes, e por todos os Santos de Deus.”

Muito similar a este ritual é o que se segue, transcrito de A Chave de Salomão, o Rei. Trata-se, entretanto, de uma invocação cabalística, não contendo quaisquer elementos. O principal ponto a despertar interesse é que depois do proêmio, cada parágrafo é uma conjuração por e através do nome e poder de cada uma das Sephiroth da Árvore da Vida. Este ritual é o primeiro ritual evocatório da Chave, o segundo sendo muito semelhante realmente à segunda conjuração da Goécia.

“Ó vós Espíritos, vós eu conjuro pelo Poder, Sabedoria e Virtude do Espírito de Deus, pelo incriado Conhecimento Divino, pela extensa Misericórdia de Deus, pela Força de Deus, pela Grandeza de Deus, pela Unidade de Deus, e pelo Nome Santo EHEIEH, que é a raiz, tronco, fonte e origem de todos os outros nomes divinos, daí extraindo todos eles sua vida e sua virtude as quais tendo Adão invocado, adquiriu ele o conhecimento de todas as coisas criadas.

“Eu vos conjuro pelo nome indivisível IOD, que marca e expressa a Simplicidade e a Unidade da Natureza Divina, que tendo Abel invocado mereceu escapar das mãos de Caim, seu irmão.

“Eu vos conjuro pelo nome TETRAGRAMMATON ELOHIM, que expressa e significa a Grandeza de uma Majestade tão sublime, que tendo Noé o pronunciado, o salvou e protegeu a ele mesmo com toda sua casa das Águas do Dilúvio.

“Eu vos conjuro pelo nome do Deus EL forte e prodigioso, que denota a Misericórdia e Bondade de Sua Majestade Divina, que tendo Abraão o invocado, foi julgado digno de vir da ur dos caldeus.

“Eu vos conjuro pelo mais poderoso nome de ELOHIM GIBOR, que exibe a força de Deus, de um Deus todo-poderoso, que pune os crimes dos perversos, que busca e castiga as iniqüidades dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta gerações; que tendo Isaque invocado, foi julgado digno de escapar da espada de Abraão, seu pai.

“Eu vos conjuro e vos exorcizo pelo nome mais santo de ELOAH VA-DAATH, que Jacó invocou quando mergulhado em grande problema, e foi julgado digno de ostentar o nome de Israel, que significa Vencedor de Deus, e foi libertado da fúria de Esaú, seu irmão.

“Eu vos conjuro pelo nome mais potente de EL ADONAI TSABAOTH, que é o Senhor dos Exércitos, governando nos Céus, que José invocou, e foi julgado digno de escapar das mãos de seus Irmãos.

“Eu vos conjuro pelo nome mais potente de ELOHIM TSABAOTH, que expressa piedade, misericórdia, esplendor e conhecimento de Deus, o qual foi invocado por Moisés, ele foi julgado digno de libertar o povo de Israel do Egito, e da servidão ao Faraó.

“Eu vos conjuro pelo mais potente nome de SHADDAI, que significa fazer o bem a todos; e que Moisés invocou e tendo golpeado o Mar, este se dividiu em duas partes ao meio, do lado direito e do esquerdo. Eu vos conjuro pelo mais santo nome de EL CHAI, que é aquele do Deus Vivo, de cuja virtude a aliança conosco e a redenção para nós foram feitas; e que Moisés invocou e todas as águas retornaram ao seu estado prévio e envolveram os egípcios, de modo de nenhum deles escapou para levar as notícias à terra de Mizraim.

“Finalmente, eu vos conjuro todos, vós Espíritos rebeldes, pelo mais Santo Nome de Deus ADONAI MELEKH, que Josué invocou e interrompeu o curso do Sol em sua presença através da virtude de Methraton, sua principal Imagem; e pelas tropas de Anjos que não cessam de chorar dia e noite, QADOSCH, QADOSCH, QADOSCH, ADONAI ELOHIM TSABAOTH, que é Santo, Santo, Santo, Senhor-Deus das Hostes, Céu e Terra estão repletos de Tua Glória; e pelos Dez Anjos que presidem às Dez Sephiroth, pelas quais Deus comunica e estende Sua influência sobre coisas inferiores, as quais são Kether, Chokmah, Binah, Gedulah (ou Chesed) Geburah, Tiphareth, Netsach, Hod, Yesod e Malkuth.

“Eu vos conjuro novamente, ó Espíritos por todos os Nomes de Deus e por todas Suas obras maravilhosas; pelos céus; pela Terra; pelo mar; por toda a profundidade do Abismo e por aquele firmamento que o próprio Espírito de Deus moveu; pelo sol e pelas estrelas; pelas águas e pelos mares e tudo neles contido; pelos ventos, os remoinhos e as tempestades; pelas virtudes de todas as ervas, plantas e pedras; por tudo que está nos céus, sobre a Terra e em todos os Abismos das Sombras.

“Eu vos conjuro novamente e vos incito poderosamente, ó Demônios, em qualquer parte que vós podeis estar, que sejais incapazes de permanecer no ar, fogo, água e terra ou em qualquer parte do universo ou em qualquer sítio agradável que possa vos atrair, mas que vós venhais prontamente cumprir nosso desejo e todas as coisas que exigimos de vossa obediência.

“Eu vos conjuro novamente pelas duas Tábuas da Lei, pelos cinco livros de Moisés, pelas Sete Lâmpadas Ardentes no Castiçal de Deus ante a face do Trono da Majestade de Deus, e pelos Santo dos Santos onde se permitiu a entrada apenas a KOHEN HA-GODUL, ou seja, o Alto Sacerdote.

“Eu vos conjuro por Aquele que criou os céus e a Terra e que mediu esses céus no oco de Sua mão e encerrou a Tera com três de Seus dedos, que está sentado sobre o Querubim e sobre o Serafim e junto ao Querubim, que é chamado de Kerub, que Deus constituiu e colocou para guardar a Árvore da Vida, armado de uma espada flamejante, depois que o Homem tinha sido expulso do Paraíso.

“Eu vos conjuro novamente, Apóstatas de Deus, por Ele que sozinho executou grandes maravilhas, pela Jerusalém celestial; e pelo Mais Santo Nome de Deus em Quatro Letras, e por Aquele que ilumina todas as coisas e brilha sobre todas as coisas pelo seu Nome Venerável e Inefável, EHEIEH ASHER AHEIEH, que vinde imediatamente para realizar nosso desejo, qualquer que seja ele.

“Eu vos conjuro e vos ordeno em absoluto, ó Demônios, em qualquer parte do Universo que podeis estar, pela virtude de todos estes Nomes Santos: ADONAI, YAH, HOA, EL ELOHA, ELOHINU, ELOHIM, EHEIEH, MARON, KAPHU, ESCH, INNON, AVEN, AGLA, HAZOR, EMETH YIII ARARITHA, YOVA HAKABIR MESSIACH, IONAH MALKA, EREL KUZU, MATZPATZ, EL SHADDAI; e por todos os Nomes Santos de Deus que foram escritos com sangue no sinal de uma eterna aliança.

“Eu vos conjuro novamente por estes outros nomes de Deus, Santíssimos e desconhecidos, por virtude dos quais vós tremeis todos os dias: BARUC, BACURABON, PATACEL, ALCHEEGHEL AQUACHI, HOMORION, EHEIEH, ABBATON, CHEVON, CEBON, OYZROYMAS, CHAI, EHEIEH, ALBAMACHI, ORTAGU, NALE, ABELECH, YEZE; que vós venhais rapidamente e sem demora à nossa presença de toda região e todo clima do mundo em que vós podeis estar, para executar tudo que nós ordenaremos no Grande Nome de Deus. “

A de Occulta Philosophia de Agrippa contém vários rituais curtos para uso diário, sendo cada um específico para a evocação das entidades que se conformam aos dias. O ritual para domingo, por exemplo, é:

“Eu vos conjuro e vos confirmo, vós poderosos e santos anjos de Deus, no nome Adonai, Eye, Eye, Eya que Aquele que era e é, e é para vir Eye, Abray; e no nome Saday, Cados, Cados, Cados, sentado nas alturas sobre o querubim; e pelo grande nome do próprio Deus, forte e poderoso que é exaltado acima de todos os céus; Eye, Saraye, que criou o mundo, os céus, a terra, o mar e tudo que neles existe no primeiro dia e os selou com seu santo nome Phaa; e pelo nome dos anjos que governam no quarto céu, e servem diante do sumamente poderoso Salamia, um Anjo grandioso e honorável; e pelo nome de sua estrela, que é Sol, e pelo seu signo, e pelo nome imenso do Deus Vivo e por todos os nomes já ditos, eu conjuro a ti, Miguel, ó grande Anjo, que és o principal regente deste dia; e pelo nome Adonai, o Deus de Israel, eu te conjuro, ó Miguel, para que trabalhes para mim e satisfaz todas minhas petições de acordo com minha vontade e desejo em minhas causas e negócios.”

Quando durante a cerimônia de evocação há sinais aparentes de que a manifestação do espírito está ocorrendo, quando a fumaça do incenso rodopia na direção do triângulo e assume uma forma tangível, uma oração ou boas vindas aos espíritos deve ser recitada. A forma recomendada por Barrett é:

“BERALANENSIS, BALDACHIENSIS, PAUMACHIA e APOLOGIA SEDES, pelos mais poderosos reis e poderes, e os mais poderosos príncipes, gênios, Liachidae, ministros da sede tartárea, príncipe-chefe da Sede de Apologia, na nona região, eu vos invoco e vos invocando, vos conjuro; e estando armado de poder proveniente da suprema Majestade, eu vos ordeno com rigor, por Aquele que falou e se fez e ao qual estão submetidas todas as criaturas; e por este nome inefável, Tetragrammaton Jehovah, que sendo ouvido os elementos são derrubados, o ar é agitado, o mar retrocede, o fogo é extinguido, a terra treme, e toda a hoste dos seres celestiais, terrestres e infernais de fato tremem conjuntamente, e são transtornados e confundidos, por conseguinte, incontinenti, e sem demora, vinde de todas as partes do mundo, e dêem respostas racionais a todas as coisas que indagarei; e vinde pacífica, visível e afavelmente agora, sem demora, manifestando o que desejamos, sendo conjurados pelo nome do Deus vivo e verdadeiro, Helioren, e cumpra o que ordenamos, e persisti até o fim e em conformidade com nossas intenções, visível e afavelmente a nós falando com voz clara, inteligível e sem qualquer ambigüidade.”

No mesmo livro, Francis Barrett nos apresenta uma outra breve alocução a ser recitada quando a manifestação da entidade necessária é concluída; isto é quando o espírito fica perfeitamente claro e visível no triângulo.

“Contemplai o pantáculo de Salomão que eu trouxe a vossa presença; contemplai a pessoa do exorcista no meio do exorcismo, que é armado por Deus, sem medo, e bem provido, que com poder vos invoca e vos chama exorcizando; vinde, portanto, com velocidade, pela virtude destes nomes: Aye, Saraye, Aye Saraye: não retardai vossa vinda, pelos nomes eternos do Deus vivo e verdadeiro, Eloy, Archima, Rabur e pelo pantáculo de Salomão aqui presente que poderosamente impera sobre vós; e por virtude dos espíritos celestiais, vossos senhores; e pela pessoa do exorcista no meio do exorcismo; sendo conjurado apressai-vos e vinde e obedecei ao vosso mestre, que é chamado Octinomos. Preparai-vos para ser obedientes ao seu mestre em nome do Senhor, Bathat ou Vachat investindo sobre Abrae, Abeor vindo sobre Aberer.”

Quando todas as questões do exorcista forem devidamente respondidas pelo espírito evocado, e todos os desejos do mago tiverem sido tão satisfeitos que não haverá mais necessidade de retê-lo no triângulo de manifestação, dever-se-á dar a licença de partida do cenário de evocação. O procedimento costumeiro consiste em recitar uma Licença de Partida e a forma de Licença indicada e A Chave de Salomão, o Rei é a seguinte:

“Por virtude destes pantáculos e porque vós fostes obedientes e acataram aos mandamentos do Criador, senti e inalai este odor agradável e depois parti para vossas moradas e retiros; que haja paz entre nós e vós; estejai sempre prontos para vir quando fordes citados e convocados; e que possa a bênção de Deus, na medida em que sois capazes de recebê-la, estar sobre vós contanto que sejais obedientes e bem dispostos a vir a nós sem ritos solenes e observâncias de nossa parte.”
F I M
(Autor:ISRAEL REGARDIE)

A ÁRVORE DA VIDA-UM ESTUDO SOBREMAGIA XVIII




Capítulo XV

A relação teórica que o moderno espiritismo celebra com magia é passível, numa oportunidade ou noutra, de ser questionada. Por conseguinte, é preciso fornecermos aqui alguma resposta. Limitar-nos-emos a uma discussão sumária deste assunto já que parece a este autor não se tratar de algo de grande importância. Algumas palavras apenas serão suficientes para demonstrar de que forma tal relação existe.

Embora alguns autores tenham anteriormente pensado diferentemente, não há uma conexão real entre os fenômenos do espiritismo e os fenômenos que ocorrem na magia. Uma palavra separa uma classe de fenômenos da outra. Uma palavra que, entretanto, representa um grande abismo estabelecido entre as duas classes: vontade! Todos os fenômenos espíritas de transe e materialização são passivos. Estão totalmente além do controle consciente do médium que, de maneira alguma, é capaz de modificar, alterar ou mesmo fixar o tempo desses fenômenos que ocorrem a ela (por força de hábito diz-se ela; concebe-se automaticamente que um médiumseja uma mulher, embora haja exceções, é claro).

O mago, por outro lado, se empenha em treinar sua vontade de modo que nada aconteça em suas operações de luz sem sua utilização. Seja o que for que faça, é realizado de modo consciente, deliberado e com intenção plena. A única exceção importante em relação a isto ocorre quando a vontade se transformou num tal poderoso engenho taumatúrgico que toda a organização do mago se tornou inteiramente identificada com essa vontade, e todos os fenômenos de forma e consciência ocorrem automaticamente incluindo a extensão da vontade. Sua atuação pode ser comparada ao movimento de qualquer membro ou músculo que, embora ocorrendo fora da volição consciente, é todavia executado pela força da vontade. Mesmo relativamente ao que diz respeito ao que é chamado vulgarmente de “materialização”, o mago controla a aparição de um espírito. E não apenas isto pois é possível para ele fazer esse espírito aparecer mediante suas conjurações e limitar as atividades do espírito a uma certa área prescrita através do poder de sua vontade. A forma visível do espírito é composta das grosseiras partículas de fumaça de incenso, deliberadamente queimado com essa finalidade. Ademais, o mago detém o poder de fazer o espírito responder inteligentemente às perguntas e de bani-lo quando sua presença deixar de ser necessária. Isto se aplica, que fique reiterado, somente ao que concerne ao aspecto inferior do trabalho visto que evocações são universalmente reconhecidas como pertencentes aos graus mais baixos da técnica. E quanto à magia da luz ? Esta também está de acordo com a vontade mágica.

Quando advém aquela suprema crise na invocação na qual o ego é tornado passivo para o advento do noivo e, com temor e tremor ele cede seu próprio ser, essa renúncia é conforme uma determinação consciente e sob vontade. Estas poucas observações devem bastar para mostrar de maneira conclusiva que as duas ordens de fenômenos residem totalmente em planos diferentes e que não existe nenhuma conexão entre as duas. O espiritismo parece se referir quase que inteiramente à produção de fenômenos físicos, eles mesmos a finalidade desta produção, sendo que em qualquer caso esses fenômenos dificilmente conduzem a qualquer espécie de prova da sobrevivência e continuação da existência da alma. O outro sistema, a teurgia, diz respeito a um domínio nobre e ao desenvolvimento de grandes poderes no ser humano. O mago procura unir sua essência a uma realidade profunda, duradoura, na aspiração de um conhecimento espiritual, de modo que seja possível para ele apreender com sabedoria e intuição sua suprema imortalidade, incorruptibilidade e eternidade.

A fim de discutir o espiritismo inteligentemente é necessário voltar aos princípios fundamentais formulados em páginas anteriores. A teurgia concebe a remoção dos invólucros da alma após a morte do corpo físico de maneira idêntica à teosofia de Madame Blavatsky. Seguindo-se à morte do corpo, que é o veículo visível dos princípios superiores, o ser humano real, perfeitamente intacto embora subtraído do corpo físico, é impelido para o plano astral. Gradualmente ele ascende aos diversos palácios que foram autocriados pelo tipo de vida que acabou de ser vivida; nestes palácios ele repousa ante o Ancião dos Dias, assimilando sua experiência terrestre e transformando-os em recursos para uma nova encarnação. A magia, acompanhando a Cabala, abraça a idéia filosófica da reencarnação ou Gilgolem das almas. Realmente, na medida em que os magos vão em direção desta teoria filosófica sustentam que em certos estágios de desenvolvimento, quando o organismo humano se torna luminoso, refinado e sensitivo por meio de reiteradas consagrações e invocações, as lembranças de Neschamah com suas emoções e poderes mais elevados se infiltram em Ruach, trazendo consigo a clara lembrança de existências passadas.

Após a morte física, a trindade de princípios que é o ser humano verdadeiro permanece no astral encerrada no Ruach e seu Nephesch. A desintegração, já tendo sido desencadeada pela ocorrência da morte física, prossegue ainda. Nephesch, que é o veículo das paixões, emoções e processos instintivos, é então descartado da constituição. Permanece, contudo, como uma entidade nesse plano, animado até um certo ponto pelas forças e energias cegas com as quais ele entra em contato. Lenta mas continuamente ele se desintegra se deixado só, de modo que tal como o corpo físico é dissolvido reintegrando o pó da terra, Nephesch é dissolvido para os elementos do plano astral. Por esta razão, os teurgos proíbem visões e experiências nesse domínio astral inferior. Aí nada pode ser encontrado que possua valor espiritual visto que se trata do mundo da matéria em decomposição de Nephesch e da desintegração. Nephesh descartado, o ser humano interior encerrado em Ruach “ascende” às camadas intermediárias do astral, onde lentamente a essência dos pensamentos mais refinados, as experiências e emoções mais nobres são destiladas das partes mais grosseiras, sendo assumidas na própria natureza de Neschamah. Esta separação de afinidades concluída, são assimiladas e expandidas no astral divino, Amentet.

Neste momento é necessário mencionar o emprego do verbo “ascender” e outros verbos utilizados num sentido similar. Desnecessário salientar que um sentido metafísico é sugerido porquanto os planos subjetivos dos mundos invisíveis não estão dispostos um sobre o outro como os andares de um arranha-céu, nem se envolvem como as camadas de, por exemplo, uma cebola. Sendo metafísicos, todos os mundos se interpenetram e se fundem, o mundo físico ou mais externo sendo penetrado pelo mais interno e as esferas mais sutis. Ascender no astral, portanto, apesar de ser uma expressão literalmente enganosa, tem a finalidade de expressar o fato da partida de uma plano mais grosseiro efetuando-se uma subida a um mundo mais rarefeito e menos denso.

Ao considerar o espiritismo, a tradição mágica afirma que é com os cadáveres astrais ou Qliphoth, como são denominados, que os espíritas principalmente se ocupam. Através do transe passivo e negativo, os princípios mais elevados são forçados a recuarem, não deixando nenhum vínculo com os veículos inferiores do médiumou proteção para estes. A porta é franqueada à admissão de quaisquer entidades que se encontrem nas vizinhanças astrais. Já que as almas dos seres humanos e seres angélicos ascendem ao astral divino, a maior parte dessas entidades no astral inferior são os elementais mais grosseiros, os administradores dos fenômenos naturais e os Qliphoth em decomposiçãoou cascões adversos. Conseqüentemente, o transe espírita negativo fundamentalmente implica a obsessão dos resíduos em decomposição e restos imundos inerentes àquele plano. Diante disso a questão que se coloca é a seguinte: “Por que, se os espíritos que se comunicam com as médiuns são meros cascões astrais, acontece de ocasionalmente exibirem inteligência e razão? “

A palavra ocasionalmente é bastante gratificante. Um dos fatos mais correntemente mencionados pelos investigadores é a ausência de coerência e inteligência nas mensagens obtidas do “outro lado”. No caso, contudo, de se perceber um leve lampejo de inteligência nos absurdos verbais geralmente transmitidos aos médiuns, a explicação racional dada por Lévi é claramente aplicável. Lembrar-se-á que Lévi define a luz astral como o agente mágico, e que em sua substância estão registrados todos os pensamentos, emoções e ações. O corpo astral, um dos aspectos de Nephesch, sendo composto da matéria sutil da luz astral, participa da definição de Lévi. Numa página anterior, indiquei a conexão entre a concepção acadêmica formal do inconsciente e a concepção cabalística de Nephesch, do qual o corpo astral é um aspecto. Neste veículo, portanto, estão registrados todos os pensamentos que um indivíduo teve durante a vida, todas as percepções e sensações que experimentou e todas as ações que executou. Quando após a morte esse Nephesch descartado é galvanizado para a atividade de um aparente ser vivo, animado por inteligência através da energia deslocada tanto pelo médiumem transe quanto pelos pensamentos dos participantes da sessão espírita, esse cadáver astral pode exibir uma réplica da inteligência que em vida o utilizava.

Esse amplo esboço dá conta da maioria das comunicações recebidas via fontes espíritas, embora seja necessário afirmar com toda justeza em relação a essa, como em relação a todas as outras generalizações, que há exceções, embora os médiuns capazes de penetrar os planos mais elevados do espírito sejam extremamente raros. O médium, uma vez tenha aberto a porta de sua organização astral e psíquica, é incapaz de controlar a si mesmo, e tampouco é capaz de empregar discernimento quanto ao que irá entrar ou não pela porta aberta e tomar posse de sua personalidade.

Naturalmente, essas observações se referem unicamente aos casos nos quais os fenômenos são genuínos. Mas visto que há tantos casos de fraude e embuste deliberados, pode-se recorrer às afirmações que acabamos de fazer que igualmente se prestam a explicar tais coisas. Sendo passivo, o médium não exerce controle do poder de produzir fenômenos quando a corrente psíquica é cortada, por assim dizer; e quando os fenômenos lhe são exigidos pelo recebimento de dinheiro, é coisa bem simples simular a possessão genuína. É mais simples ainda pronunciar um palavrório recheado de disparates que é favoravelmente comparável às mensagens recebidas dos “mortos”. Além disso, pelo fato de a entidade obsessora ser das mais baixas e das profundas da Terra, dificilmente se pode considerar sua associação com o médium edificante ou enobrecedor. Limita-se a ser uma influência nociva, causando a expansão e desenvolvimento de quaisquer tendências ou traços existentes no médium. Assim, a fraude, a decadência moral e o desregramento não requerem grande esforço.

Pode-se antecipar aqui uma explicação dos fenômenos físicos mais gerais, parte representativa do espiritismo, embora considerando-se que a teoria mágica desse assunto esteja em completo acordo com a de Blavatsky, há pouca necessidade de repetir tais teorias detalhadamente. Basta observar que a maioria das demonstrações psíquicas, quando autênticas, têm sua origem no comportamento e nos poderes do corpo astral. Definida a substância deste veículo como plástica, magnética e de grande força tensora, conclui-se que vários de seus membros, devido ao desenvolvimento anormal, podem ser exsudados do interior do corpo físico e estirados a alguma distância. Essa teoria explica o deslocamento de objetos sem contato físico, os fenômenos do Poltergeist e muitos outros de caráter similar. Quase todos se devem à perturbação do equilíbrio no aspecto substantivo de Nephesch. Obviamente não são espirituais e não comprovam nenhuma das reivindicações feitas a seu favor pelos espíritas.

No caso do médium esclarecida que, compreendendo a verdade intrínseca das observações feitas aqui, deseja reverter seus poderes passivos, a técnica mágica é recomendável. No espiritismo inexiste técnica de transe, como inexistem métodos de proteção ou seleção a serem empregados. Uma vez esteja a porta astral entreaberta a esmo, quem quer que entre pode fazer o que bem entender sem restrição. O médium está tão aberto à obsessão, e mesmo mais devido à natureza do plano astral, quanto à inspiração divina. Com a ajuda, entretanto, de algum dispositivo como o Ritual de Banimento do Pentagrama, essa predisposição para a obsessão elementar poderá ser facilmente eliminada. No interior de um círculo adequadamente consagrado, protegido com os nomes divinos formais, o médium pode induzir o transe sem medo ou perigo. A recitação de uma invocação apropriada de uma força divina e o assumir astral de uma forma de divindade antes do transe podem garantir uma categoria totalmente diferente de resultado, realmente pertencente a um plano muitíssimo mais alto. Enquanto que anteriormente o médium era uma presa indefesa de qualquer presença astral que visitasse sua esfera áurea, trazendo consigo contaminação e o odor desagradável de corrupção e abjeta putrefação, adotando-se métodos mágicos, tais excrementos podem ser eficientemente impedidos de invadir a esfera da personalidade. E não apenas isto, como também entidades de classe definida, de natureza divina e espiritual, completamente oposta aos ordinários “fantasmas” espíritas, poderão ser invocadas para o máximo proveito do médium e o crescimento de seu poder espiritual.

Não julguei adequado descrever muitos tipos diferentes de operações mágicas neste livro, visto que não ocupam nenhuma posição eterna na construção do santuário celeste. Tampouco dizem respeito às limitações próprias que têm que se circunscrever em torno do Templo da Magia Santa da Luz. A despeito de não estarem incluídos necessariamente na conotação da expressão Magia Negra, tais métodos fazem fronteira muito próxima a esse tipo de coisa. Visto que tendem para essa direção, são de pouca utilidade para o aspirante em busca de Adonai e da bem-aventurança dos deuses. Existem inúmeras operações menores para a aquisição de objetos que se deseja, como livros, ouro, mulheres e similares. Há operações de destruição e fascinação, adivinhação e transformação e assim por diante. Estas são apenas algumas que recebem absolutamente demasiada ênfase e atenção às expensas de assuntos mais importantes em engrimanços e livros de instrução inferiores. Divorciados de aspirações mais elevadas, são inteiramente reprováveis.

Um ramo razoavelmente importante da magia menor, embora não negra, é o controle dos Tattvas ou das correntes prânicas vitais que operam na natureza. Mediante o emprego dos símbolos de Tattvas, acompanhados por um conhecimento das horas específicas do dia quando essas forças adquirem preponderância e pureza, o mago que assim o desejar poderá abrir os portais do corpo e da mente às forças vivificadoras e reanimadoras dessas correntes ocultas. Através desses recursos, ele obterá descanso físico e psíquico quando estiver em maré baixa e em caso de desvitalização das forças de seu ser. No Livro dos Mortos são mencionadas muitas transformações mágicas das quais o khu ou entidade mágica no ser humano é capaz, e fórmulas práticas para a produção de tais transformações como em falcão, lótus, andorinha e assim por diante podem ser aí percebidas. Como tornar alguém invisível aos olhos dos outros, mesmo em meio a uma grande multidão, através da formulação de um invólucro astral é um outro ramo dessa magia cinzenta que existe entre a magia da luz e a negra. Não posso dizer que o aspirante ao Augoeides tenha muita utilização para tais realizações e poderes dúbios.

A natureza da magia negra, que parece preocupar grandemente tantos histéricos, consiste quase que inteiramente no motivo sustentado na mente do operador. Quando Lévi aborda este assunto e o da bruxaria em seus escritos ele se lança completamente numa tangente, e seus soberbos exageros coloridos com toda a rutilância e retórica à sua disposição tornam a leitura divertida. Que alguns o tenham citado em função desse assunto para uma interpretação literal, em lugar de descartá-lo como mera verbosidade, ultrapassa minha compreensão. Suas observações acerca do bode de Mendes e a veneração de Bafomé em conexão com os templários são simplesmente ridículas. Que comentário poder-se-ia fazer em relação às instruções absurdas fornecidas por ele como sendo os supostos passos dados por aqueles envolvidos com a arte negra, a não ser que seriam excelente material para os atuais thrillers ? Estou ainda para descobrir em que loja de departamentos pode-se comprar velas feitas de gordura humana. Que ser humano poderia ser obtuso ou louco o bastante para pensar em obter incenso misturado com o sangue de um bode, uma toupeira e um morcego? Outras necessidades horrendas são a cabeça de um gato preto recentemente morto, um morcego afogado em sangue, os chifres de um bode virgem e a crânio de um parricida! Ainda assim em seu Book of Cerimonial Magic, o Sr. Waite teve a preocupação de pronunciar uma advertência medonha contra a goécia juntamente com o desenho grotesco de Lévi do círculo goético para emprego com os “adereços” mencionados acima. Preparando-se para uma ofensiva devastadora contra a magia negra, Waite posicionou sua artilharia mais pesada quando, na realidade, um arremessador de ervilhas teria sido muito mais eficiente contra tal inimigo. Resta pouca dúvida de que Lévi estivesse “se divertindo às custas” de alguns leitores e que estivesse simplesmente cedendo seu talento para ritos lúgubres impossíveis, os rebentos de uma imaginação curiosa, embora exuberante.

O hipnotismo e o ato de privar uma outra pessoa de escolha ou uso da vontade constituem de fato uma das formas mais desprezíveis de magia negra. Aqueles que realmente empregam tais métodos deveriam ser cuidadosamente evitados pelo teurgo tal como ele faria com uma doença asquerosa. Os feitos absurdos ordinários relativos à confecção de filtros, poções e figuras de cera para trabalhos de fascinação ou maldade existem inteiramente abaixo da dignidade do mago sincero. O que pode talvez constituir verdadeira magia negra é o uso de selos e talismãs carregados feitos por uma pessoa que tenha adquirido poder mágico para a depreciação e dano de seu semelhante. Operações cujo objetivo seja evocar a sombra de um amigo ou parente falecido à manifestação visível consistem de manipulações da substância astral e carecem de qualquer finalidade útil visto que perturbam os tranqüilos processos de assimilação e construção de faculdades que se processam no astral superior após a morte física. Somente a vaidade insana e a curiosidade desordenada poderiam ser satisfeitas pela necromancia. Este ramo específico da bruxaria está aparentado ao espiritismo, embora para sermos totalmente verazes e justos tenhamos que admitir que os motivos deste último culto realmente se colocam num plano mais elevado e mais sincero. Em ambos os casos, entretanto, o motivo não é desculpa pois eles são uma abominação diante de toda a tendência dos processos da natureza.

Considerando-se que neste capítulo tratamos largamente do astral, desejo mais uma vez me referir à técnica da viagem astral que é procurada pelo mago. Constitui obrigação imperiosa para o teurgo investigar por completo, como foi exposto num capítulo anterior, em seu resplandecente e iridescente corpo de luz os níveis superiores da luz astral, aqueles que fazem fronteira com os mundos criativo e arquetípico. A ele cumpre também penetrar intrepidamente em todo santuário protegido daí, se familiarizando com a natureza essencial e os variados aspectos que esse plano apresenta, embora jamais deva perder de vista um importante fato a estar sempre presente em sua mente. É preciso que se esforce sempre para transcender esse plano. É tão-só um salão de aprendizado. Por mais necessárias que sejam suas lições, uma vez assimiladas e aprendidas a necessidade de permanecer nesse plano cessa, e as sempre esplêndidas Mansões do Fogo e da Sabedoria devem ser buscadas. O corpo de luz espiritualizado deve ser continuamente treinado e educado e sua substância deve ser tornada a tal ponto sensível e refinada que de um corpo vago, sem forma, lunar ele renasce como um corpo solar brilhante. É neste corpo que o mago pode ascender às translúcidas alturas espirituais e ao fogo amorfo que se encontra além.

É possível que à medida que o aprendiz diligencia suas investigações sistemáticas nesse plano no esforço de descobrir a natureza de sua composição psicológica, chegará a certos portais, defrontando-se com guardiões armados. A despeito do poder do pentagrama, dos gestos e signos mágicos, da invocação dos quatro anjos dos quadrantes e de outros dispositivos para ascensão e ultrapassagem, tais guardas, sob nenhuma circunstância, lhe darão o direito do ingresso, e tampouco lhe darão a permissão para atravessar os portais que guardam. Em The Candle of Vision é indicado o empenho de A. E. para descrever essa experiência de mística natureza. “Então eu fui novamente lançado longe num vórtice e eu era a figura mais minúscula em meio vasto ar, e diante de mim havia um portal gigantesco que parecia grandioso com os céus, e uma figura sombria ocupava o vão da porta e barrava minha passagem. Isto é tudo que consigo lembrar... “ Alguns mencionam ter este fato também sido experimentado pelo escriba do Livro dos Mortos já que naqueles capítulos que se relacionam aos nomes dos pilones, juntamente com os nomes das sentinelas, guardiões e porteiros angélicos algumas sugestões mágicas veladas de como passar por eles são dadas.

Nesse momento oportuno, antes de ir além neste assunto da ascensão nos planos, é necessário familiarizar o leitor com um aspecto importantíssimo da técnica astral que não se deve esquecer jamais. Os habitantes do plano astral reagem de duas maneiras diferentes e absolutamente distintas em relação ao pentagrama. A experiência dos modernos teurgos neste ponto é largamente corroborada por toda a tradição mágica dos antigos. Eles testemunham que quando em face da estrela flamejante de cinco pontas formulada pela vontade mágica alguns seres astrais se contraem perceptivelmente e parecem desvanecer. Uma outra classe de seres, contudo, cresce e se expande a ponto de abarcar todo o horizonte com esplêndida luminosidade e brilho. A experiência de todas as gerações de magos demonstra que o ser que se encolhe de medo do pentagrama ou foge é ou um demônio de face canina ou um elemental, tendo que ser tratados de maneira apropriada. Por outro lado, o ser cuja aparição não é afetada pelo pentagrama e o ritual de banimento conveniente, é uma inteligência espiritual, um anjo, um sublime ser celestial a ser respeitado, amado e venerado.

Uma variação do símbolo do pentagrama empregada por outras pessoas com um certo grau de sucesso é uma cruz dourada encimada por uma rosa carmesim. O simbolismo em ambos os casos é idêntico, embora alguns possam considerar que a cruz apresenta associações teológicas. É um sinal dos quatro elementos estendido aos quadrantes cardeais, enquanto que os coroa a rosa, símbolo da beleza, nobreza e vida espiritual, e alma. Na prática, sua aplicação é um pouco diferente daquela do pentagrama porque é menos simples formular a Rosacruz com o bastão do que com o primeiro símbolo; o mago interpõe em imaginação este símbolo entre o outro ser e ele próprio sem tentar traçá-lo.

O fato, portanto, de um anjo trajado de fogo e glória e portando uma espada afiada de chamas barrar sua entrada ao pilone deve fazer o teurgo se deter, e se deter para refletir pois parece indicar que até ali ele não está suficientemente purificado e sensível em seu corpo de luz para ser capaz de atravessar aquele pilone específico do qual é barrado. Deve se constituir sua obrigação solene considerar como necessidade primordial o meio pelo qual uma purificação ulterior pode ser efetuada. Deve-se infundir no corpo de luz uma substância espiritual proveniente de planos mais elevados e mais celestiais. O assumir persistente de formas divinas e a transmutação de sua própria forma astral naquela do deus e a identificação com o caráter sublime moral e espiritual do deus se revelará um método tão infalível quanto outros. Através deste método, a substância do corpo de luz no devido tempo passará a participar do esplendor e efulgência ígneos da substância do deus. Talvez a melhor forma divina a ser assumida com esse propósito seja a do Harpócrates sentado no lótus, o Senhor do Silêncio, que é o gêmeo de Hórus, Senhor da Força e do Fogo.

A forma convencional na qual é geralmente retratado é aquela de um bebê inocente, com o dedo no lábio, empertigado como um embrião acima de um lótus branco que surge do mar. Em torno dele há um azul escuro profundo semelhante ao do símbolo do Tattva do espírito, representando a noite que tudo abarca. O lótus é o símbolo perene da ressurreição e da eterna juventude e o bebê representa inocência, espiritualidade e supremo repouso. “O deus ‘sentado acima do lótus...’” afirma Jâmblico em The Mysteries (Os Mistérios), “...significa obscuramente uma transcendência e força que em absoluto não entram em contato com o lodo, indicando também seu império intelectual e empíreo, pois percebe-se que tudo que pertence ao lótus é circular, a saber, tanto a forma das folhas quanto o fruto; e só a circulação está ligada ao movimento do intelecto, o qual energiza com identidade invariável numa única ordem e de acordo com uma única razão. Mas o deus é estabelecido sozinho, e acima de um domínio e energia desta espécie, veneráveis e santos, superexpandidos e que residem nele mesmo, o que estar ele sentado visa significar. “ O assumir mágico desta forma, especialmente o circundamento do corpo astral pelo ovo azul-escuro ou índigo, tem poder suficiente para banir quaisquer influências indesejáveis porquanto eleva o mago acima desse domínio.


Essa técnica particular da forma divina da Harpócrates (Harpócrates acima do lótus – O Senhor do Silêncio)é especialmente significativa mesmo no que diz respeito à vida cotidiana. Quando se é assaltado por pensamentos indesejáveis e emoções de ódio pode-se conseguir alívio desta pressão e até assistência e resistência espirituais assumindo-se a forma desse deus. Por meio deste assumir nosso ser é transmutado para a configuração do deus e a mente é elevada além da pequenez mundana por assimilação do caráter e natureza da divindade. Isto implica, seguramente, numa força de imaginação e vontade, mas para a maioria das pessoas é mais fácil reter na mente imagens pictóricas do que uma idéia abstrata, qualquer indivíduo podendo ser treinado com um pouco de prática para visualizar uma forma tão simples e bela como o bebê acima do lótus. A única dificuldade passível de ser encontrada é a transfiguração do corpo de luz e a subseqüente identificação e união com o deus. Quanto a isto, naturalmente, o treinamento se mostra indispensável.

A vibração de nomes divinos constitui uma prática que sob nenhuma circunstância deve ser omitida já que à medida que se procede a este exercício os elementos grosseiros são forçosamente expelidos da constituição total, física, astral e moral, outros elementos mais refinados e sensíveis sendo introduzidos para tomar o lugar daqueles. Celebrações freqüentes da eucaristia constituem também um meio excelente de transmutar e exaltar a substância do ser total. Numa página anterior esta operação foi resumidamente descrita e para enfatizar recapitularei a teoria que se acha por trás. Divorciada de todo dogma, a essência da eucaristia é a seguinte: você toma uma substância simples como, por exemplo, uma hóstia de trigo, batiza-a com a sua mais elevada concepção de Deus, ou, conforme o caso, em nome de uma essência espiritual particular, consumindo-a a seguir. Deste modo, por meio de magia simpática, uma efetiva transubstanciação de elementos ocorre sob a pressão da vontade. Aquilo que era antes terrestre se torna celestial. Aquilo que era da Terra, mundano, é transformado numa coisa dos céus.

Uma hóstia de trigo e o vinho parecem se tornar quase que diretamente assimilados ao sangue, e absorvidos pelo próprio ego. Na realidade, isto é uma espécie de magia talismânica pois com a nomeação da substância o mago invoca a força espiritual em conformidade com aquele nome, e naquele telesmata físico de pão e vinho é essa força confinada como se fosse sua habitação terrena. O fato de tal telesmata ser consumido pelo mago introduz em seu ser um poder espiritual que em virtude de sua energia inerente expulsa elementos impuros de seu ser, elevando e transmutando o ser humano integral a um plano mais grandioso. Desta maneira se procede a transformação do corpo de luz de um escuro corpo lunar para um corpo solar, um organismo resplandecente, nítido e de forma bem definida, que fulgura como aço brilhantemente polido, capaz de atravessar todo pilone, penetrar os santuários mais zelosamente guardados e ingressando na lista de assistência dos guardiães angélicos. Com este corpo solar de substância espiritualizada, a veste deslumbrante do Banquete de Casamento, o teurgo não experimentará qualquer dificuldade para ascender nos planos a partir de Malkuth através do caminho de Saturno até a esfera do Fundamento.

Do Fundamento é possível para ele através da Seta da Aspiração e do Poder da Harmonia e da Beleza para cima – sempre para cima além do deserto infecundo do Abismo (Regardie faz referência à Sephira misteriosa Daäth) no qual ele monta o camelo cabalístico(Referência ao caminho de Gimel (camelo) na Árvore da Vida) recebido jubilosa e lisonjeiramente pela Rainha no Palácio do Rei, que é a Coroa (Kether, a Sephira mais elevada da Árvore da Vida) santa da Árvore da Vida. Chegado à Coroa, o mago não é mais. Não obstante, aí ainda existe aquela consciência superior da Vida Eterna que constitui a individualidade real do mago – aquela parte real dele da qual, talvez, tenha estado raramente consciente durante as suas vidas anteriores sobre a Terra – aquele espírito primordial e universal, que pulsa e vibra invisível no cerne do coração de todos.

Escreveu Porfírio que “as almas ao atravessar as esferas dos planetas vestem, como túnicas sucessivas, as qualidades desses astros.” Visto que os planetas e os signos zodiacais foram atribuídos à Árvore e estão incluídos na implicação das dez Sephiroth, o mago por meio desse processo da ascensão nos planos assimila as qualidades e características mais elevadas de cada planeta e cada Sephira. À medida que o skryer ascende à Luz suprema da Chama imperecível da Vida incorpora em si mesmo o poder inato dos planos pelos quais ele passa e como as características inferiores de seu ser são dificilmente compatíveis com a ígnea majestade impessoal do domínio celestial, são removidas deixando as características superiores como os augustos guardiães do campo da consciência. Todas as características dos mundos excelsos são sucessivamente assumidas pelo mago, e transcendidas até que ao fim de sua jornada mágica ele é fundido ao ser do Senhor de toda Vida. A meta final de sua peregrinação espiritual é o êxtase de paz no qual a personalidade, o pensamento e a autoconsciência finitos, mesmo a elevada consciência dos deuses supremos, declinam cabalmente e o mago se funde na unidade do Ain-Sof , onde nenhuma sombra de diferença ingressa.

Capítulo XVI

Ao começar esboçar e escrever este livro acerca de magia era a firme intenção do autor elucidar todos os processos mágicos tão simples e inteligivelmente quanto fosse humanamente possível e coerente com o tratamento exegético de um assunto sumamente difícil e complexa. Pelo fato de ter havido no passado tanta obscuridade deliberada e matéria propositadamente enganosa, pareceu a hora exata de produzir uma declaração que pudesse ser utilizada de uma vez por todas como uma exposição clara e definida. O autor espera ter sido fiel a essa intenção ao longo do texto, embora quanto a este ponto o leitor deva ser o único juiz. Ambigüidade e por vezes deliberada tentativa de ludibriar mediante o emprego de simbolismo difícil e a citação de extensas séries de nomes de autoridades têm caracterizado muitos livros de magia, pondo a perder qualquer valor que eles pudessem ter. Resta delinear neste livro uma fórmula secreta de magia prática de uma natureza tão tremenda – encoberta como sempre esteve no passado pelo deslumbramento de símbolos recônditos e oculta por pesados véus – que este autor está em dúvida se seria sábio ou político se ater a sua decisão original. Poderia, é claro, ter sido omitida do conteúdo geral, mas foi necessário incluí-la sob alguma forma a fim de tornar este tratado moderadamente completo na medida do que concerne aos principais, embora elementares aspectos da alta magia.

O método do qual nos propomos a falar aqui constitui uma fórmula tão poderosa da magia da luz e tão passível do abuso e uso indiscriminados na magia negra que se uma concepção de sua técnica e teoria é realmente para ser apresentada, a intenção original deste autor tem que ser descartada. Será preciso valer-se do meio de um simbolismo eloqüente que foi utilizado durante séculos para transmitir estas e idéias similares. E ao leitor deve se assegurar que o simbolismo não foi propositadamente desorganizado, nem foi tampouco tornado ambíguo, obscuro e destituído de sentido. Se meticulosamente estudados, os termos empregados revelarão uma coerência e uma continuidade que desvendarão às pessoas certas de um modo absolutamente preciso os processos de sua técnica.

A Missa do Espírito Santo! Assim é chamada esta técnica específica. É única em toda a magia pois nela está compreendida quase toda forma conhecida de procedimento teúrgico. Ao mesmo tempo, é a quintessência e a síntese de todas elas. Entre outras coisas diz respeito à magia dos talismãs. Por meio desse método uma força espiritual viva é confinada numa substância telesmática específica. Não se trata de telesmata morto ou inerte como acontece na costumeira evocação talismânica cerimonial, mas sim de imediato vibrante, dinâmico e contendo em germe e potencial a possibilidade de todo crescimento e desenvolvimento. De uma maneira muito especial, se refere, ademais, à fórmula do Cálice Sagrado. Um cálice dourado de graça espiritual é utilizado no qual a própria essência e sangue vital do teurgo têm que ser derramados para a redenção não de sua própria alma, mas que por intermédio disso toda a espécie humana possa ser salva. A euraristia também está implícita e o cálice é usado como a taça da comunhão, cujo conteúdo santificado – taumatúrgico e iridescente, em suma o vinho sacramental – tem que ser dedicado e consagrado ao serviço do Altíssimo. A oblação a ser consumida com o vinho eucarístico é, em função dessa interpretação, a essência secreta tanto do mago intoxicado quanto do supremo deus que ele invocou. Neste método está presente também em larga escala a técnica alquímica, visto que concerne majoritariamente à produção do ouro potável, a pedra filosofal e o elixir da vida que é Amrita, o rocio da imortalidade.

O leitor deve, acima de tudo, ter em mente a fórmula filosófica do Tetragrammaton, que é o método desta missa.Isto demonstra a necessidade de uma familiarização prática com os princípios numéricos da Santa Cabala, pois quanto mais conhecimento se possui, sistematicamente classificado no sistema indicador da Árvore da Vida, mais sentido e significação se vinculam à fórmula de Tetragrammaton. No capítulo em que se esboça a teoria mágica do universo as implicações gerais do Nome sagrado foram resumidamente explicadas relativamente a essas conexões. Estas idéias devem ser inteiramente assimiladas em relação à Árvore. Munido deste entendimento, o leitor deverá aplicar seus poderes ao esquema simbólico que se segue.

Ilustrando o cabeçalho de um capítulo no livro de Franz Hartman Secret Symbols of the Rosicrucians (Símbolos Secretos dos Rosacruzes) vemos um desenho de uma sereia irrompendo do mar. Suas mãos estão junto aos seus seios e dali brotam duas torrentes que retornam ao mar. Explicando esta figura Hartman escreveu que “... a figura representa o fundamento das coisas e sua origem. Trata-se de um princípio duplo da natureza; seus pais são o Sol e a Lua ; produz água e vinho, ouro e prata pela bênção de Deus. Se torturas a águia, o leão se tornará débil. As ‘lágrimas da águia’ e o ‘sangue vermelho do leão’ têm que se encontrar e se misturar. A águia e o leão se banham, comem e se amam. Eles ficarão como a salamandra e ficarão constantes no fogo.” Na elaboração do que foi dito acima os seguintes princípios podem ser postulados.

O Y (YOD) do nome sagrado neste sistema é chamado de leão vermelho e a primeira H (Letra Hé) é a águia branca. Concebe-se que estas duas letras sejam as representações de dois princípios cósmicos, dois rios de sangue escarlate que brotam dos seios da sereia para dentro do mar, duas torrentes distintas e incessantes de vida, luz e amor que procedem eternamente da própria Vida. Nelas reside o poder de tocar e comungar, fazendo um novo do outro, sem nenhuma ruptura das fronteiras sutis das torrentes ou qualquer confusão de substância. Em sua natureza são mutuamente complementares e opostas, e no entanto nelas está fundada a totalidade da existência. Todas as operações alquímicas de acordo com as autoridades requerem dois instrumentos principais: “um recipiente circular, cristalino, precisamente proporcional à qualidade de seu conteúdo” ou cucúrbita e “ um forno teosófico selado cabalisticamente ou Athanor. O Athanor é atribuído ao Y e a cucúrbita é uma atribuição da H.

Agora apesar do ouro puro que se menciona ser uma substância homogênea, una e indivisível, dinâmica e prenhe de possibilidade infinita, duas substâncias separadas são usadas em sua produção. Estas são denominadas serpente ou o sangue do leão vermelho e as lágrimas ou o glúten da águia branca. A serpente é uma atribuição da V **** do Tetragrammaton e o glúten é alocado à última H deste nome. Estas duas substâncias são a prole, por assim dizer, do leão e da águia. Os instrumentos alquímicos acima mencionados devem ser considerados como os armazéns ou geradores desses dois princípios divinos ou torrentes de rápido fluxo de sangue, fogo e força, o Athanor sendo a fonte ou veículo da serpente, o glúten estando alojado na cucúrbita.

A fabricação do ouro alquímico que é o rocio da imortalidade consiste de uma operação peculiar que apresenta várias fases. Pelo estímulo do calor e do fogo espiritual para o Athanor deve haver uma transferência, umas ascensão da serpente daquele instrumento para dentro da cucúrbita, usada como uma retorta. O casamento alquímico ou a combinação das duas correntes de força na retorta produz de imediato a decomposição química da serpente no mênstruo do glúten, sendo este a parte do solve da fórmula alquímica geral do solve et coagula. Junto à decomposição da serpente e sua morte surge a resplendente Fênix que, como um talismã, deve ser carregada por meio de uma contínua invocação do princípio espiritual compatível com a operação em andamento. A conclusão da missa consiste ou no consumo dos elementos transubstanciados, que é a Amrita, ou no ungir e consagração de um talismã especial.

Antes de prosseguir com a análise dos aspectos desta operação, gostaria de apresentar ao leitor uma citação na qual essa missa é repetida com certos detalhes, empregando a usual nomenclatura da alquimia. “Eu sou uma deusa de beleza e linhagem famosas, nascida do nosso próprio mar que rodeia a terra toda e que está sempre inquieto. Dos meus seios verto leite e sangue, fervendo-os até que se transformem em prata e ouro. Ó objeto o mais excelente, do qual todas as coisas são geradas, embora à primeira vista tu sejas veneno, adornado com o nome da Águia alada . . . . Teus pais são o Sol e a Lua; em ti há água e vinho, ouro também e prata sobre a Terra, que o homem mortal possa regozijar... Mas considera, ó homem, que coisas Deus te concede por este meio. Tortura a águia até que ela pranteie e o leão esteja debilitado e sangre até morrer. O sangue deste leão incorporado às lágrimas da águia é o tesouro da terra.” Isto, sem dúvida, é também explicativo da figura reproduzida por Franz Hartman.

Segundo certas autoridades, estima-se em termos aproximativos que a operação não deve levar menos de uma hora da invocação preliminar, com o aprisionamento da força nos elementos, até o ato de compartilhar a própria comunhão a partir do cálice consagrado. Às vezes, de fato, se requer um período muito mais longo, especialmente se houver a exigência da carga do talismã ser completa e perfeita. Deve-se ter grande cautela para evitar a perda imprudente dos elementos. Existe a possibilidade de efetivo vazamento ou um transbordamento da cucúrbita, e a assimilação ou evaporação dos elementos corrompidos no interior desse instrumento constitui também um acidente bastante deplorável.

Nunca é demais enfatizar que se os elementos não forem consagrados corretamente; ou em primeiro lugar se a força invocada não se impingir ou ficar inseguramente confinada dentro dos elementos, toda a operação poderá ser anulada. E poderá facilmente degenerar às profundezas mais inferiores, resultando na criação de um horror qlifótico que passará a existir como um vampiro atuando sobre os não-naturalmente sensíveis e aqueles inclinados para a histeria e a obsessão. Se o elixir for adequadamente destilado, servindo como o meio do espírito invocado, então os céus serão franqueados, e os portais se voltarão para o teurgo, os tesouros da Terra serão colocados aos seus pés. “Se o descobrires, cala e o mantém sagrado. Não confia em ninguém exceto em Deus.”

O problema do vínculo para ligar a operação mágica ao resultado desejado deve ser considerado em todos seus numerosos aspectos. Se a operação for daquelas que realmente exige um talismã exterior para a produção visível de seu efeito, um selo apropriado deverá ser construído de metal, cera ou sobre pergaminho. Pode ser consagrado e ungido com o elixir que foi criado através dos canais da Obra hermética. Esses selos e talismãs descritos na Chave de Salomão e em The Magussão para uma finalidade absolutamente adequada. Caso a operação proposta pelo teurgo seja pertinente às qualidades de Júpiter, um pantáculo apropriado deve ser preparado antes da operação. Durante a confecção do elixir, deve-se assumir a máscara divina de Maat e recitar uma conjuração do anjo ou inteligência necessários. No encerramento da missa, uma quantidade minúscula do rocio superior deve ser colocada sobre o sigillum ou talismã de Júpiter, carregando-o assim de uma força insuperável para a produção dos resultados desejados. Variações deste procedimento provavelmente ocorrerão com a prática.

Não se cogita da questão de um vínculo numa cerimônia conduzida visando uma finalidade na qual o circulo e o triângulo, por assim dizer, ou o demônio e o exorcista, ocupam o mesmo plano; ou seja, quando o teurgo trabalha exclusivamente sobre sua própria consciência sem referência à qualquer efeito exterior. A missa do Espírito Santo, num tal caso, tem automaticamente seu clímax pelo consumo dos elementos carregados, a força invocada encarnando dentro do mago como fato lógico, natural. É neste tipo de operação, acho, que a missa do Espírito Santo gera a maior quantidade de força e atinge o mais alto nível de eficiência.

Mesmo para operações ordinárias, a grande vantagem deste método é que é possível dispensar o cerimonial quase que completamente. O mago pode com absoluta facilidade executar o ritual do banimento no astral e as invocações podem ser silenciosamente recitadas de modo que nenhuma magia de natureza cerimonial possa ser percebida pelo profano. No caso, contudo, de operações em que o resultado desejado existe num outro plano ou exterior à consciência do mago, os efeitos nem sempre parecem se seguir com a mesma infalibilidade e seqüência como acontece nas operações subjetivas.

O exame de registros privados conservados por magos que utilizaram esse engenho mágico tendem a mostrar que seu melhor emprego é para trabalhos dentro da consciência do mago. É nestas matérias que a missa do Espírito Santo é o mais poderoso e eficaz. Para o desenvolvimento da vontade mágica, o aumento da imaginação e a invocação tanto de Adonai quanto dos deuses universais para que habitem o templo consagrado do Espírito Santo, dificilmente se pode conceber um método melhor ou mais adequado. Não implica em nenhum gasto de energia vital visto que qualquer energia assim utilizada na operação retorna ao fim ao mago ampliada e enriquecida com o nascimento da Fênix dourada, o símbolo da ressurreição e do renascimento.

O poder supremo atuante nessa técnica é o amor. Por mais banal que isto possa parecer, e por mais que esta palavra tenha se tornado vulgar, é preciso reiterar que o amor é o poder motivador, uma força de amor mantida sempre sob controle pela vontade e controlada pela alma. O poder destrutivo da espada e tudo aquilo em que implica a espada, o caráter dispersivo da adaga ou de qualquer outra das armas elementares, aqui não tem lugar. Este método, portanto, se recomenda como sendo dos mais excelentes. Visto que participa efetivamente do amor, pertence ao estofo e essência da própria vida.

Em operação essa missa é extraordinariamente simples. De fato, um mago observou que não é mais complicado do que andar de bicicleta, isto é, uma vez certas preliminares e o treinamento tenham sido concluídos. Mais do que qualquer outra coisa requer uma vontade peculiarmente potente e independente, sustentando, claro, prévia disciplina e uma mente que tenha sido treinada em concentração por longos períodos de tempo. Uma das peculiaridades dessa técnica é que a menos que se seja excepcionalmente cauteloso e alerta desde o início é coisa fácil para o mago perder o controle de seus instrumentos alquímicos e assim arruinar a operação inteira. Alegria na mera execução técnica da missa com a exclusão devido trabalho mágico constitui o grande e supremo perigo. Por outro lado, porque este elemento de prazer e alegria aqui realmente ingressa, esta técnica supera em excelência todas as demais. A mente tem que ser treinada na concentração sob todas as circunstâncias. Como uma preliminar à prática mágica deste tipo, a técnica da ioga se revela sumamente vantajosa. Pode-se até afirmar que para o verdadeiro sucesso em toda a magia é absolutamente essencial uma completa fundamentação na técnica da ioga.

Uma observação adicional não seria inoportuna. Superficialmente e à primeira vista pode parecer que entre esse tipo de operação mágica, descrito de maneira tão hesitante, e o trabalho cerimonial costumeiro há um grande hiato. É verdade que a missa do Espírito Santo constitui um avanço no funcionamento lento e embaraçoso do cerimonial, isto embora este último seja essencial no princípio do treino mágico. Este método é consideravelmente mais direto e incisivo, e devido à classe peculiar de energias que desencadeia sobre a natureza, seus efeitos são extremamente mais poderosos e de alcance bem maior do que os do cerimonial por si só. Entretanto, a despeito de subsistirem como duas categorias distintas de trabalho, podem com grande proveito ser combinadas e usadas uma em conjunção com a outra.

As autoridades alquímicas, as quais avaliaram esse método, têm como consenso geral que por mais que seja grandioso seus resultados não podem ser logrados sem a oração. Sem a oração sincera nada permanente ou divino poderia ser realizado. Por conseguinte, enquanto a operação da missa está em andamento e o fogo no Athanor se intensifica, uma invocação entusiástica, seja astral ou audível, deve ser pronunciada. É aconselhável que seja da natureza de um curto mantra apropriado à natureza e tipo do trabalho, de composição rítmica. A operação como um todo poderia ser precedida por uma invocação mais geral para legitimar o trabalho. À medida que o trabalho astral de criação progride, o mantra rítmico ajudará a formular e vivificar os moldes produzidos pela vontade e a imaginação, atraindo a força espiritual desejada. E então, quando a serpente é transferida do Athanor e a corrupção alquímica começa no glúten da águia branca, a cucúrbita será o receptáculo de uma nova substância, viva e dinâmica, contendo a marca indelével das invocações que terão dotado sua plasticidade e potencialidade de ímpeto avassalador numa dada direção. Conclui-se que se partilhando dessa substância que é o mercúrio filosófico, impregnado com uma inteligência de energia espiritual dinâmica capaz de produzir dentro dos limites de sua esfera a mudança desejada, a realização plena e satisfatória coroará a aspiração do mago.

Conduzida dentro de um círculo adequadamente consagrado, após um perfeito banimento, seguida por uma poderosa conjuração da força divina e o assumir da forma divina apropriada, a cerimônia pode se revelar detentora de poder incomparável para franquear os Portais dos Céus. Utilizando-se apenas a taça e o bastão como armas elementares, em associação com o mantra ou a invocação rítmica especializada, é raro que a missa falhe ou não produza efeito. Esta união de duas armas mágicas diferentes, bastante divorciadas como possam ter se afigurado num primeiro momento, aumenta a potência de cada uma delas já que combinam numa operação única os melhores aspectos e as maiores vantagens de ambas.
(Autor: ISRAEL REGARDIE)