3 de outubro de 2013

O PLANO ASTRAL




A primeira edição deste livro apareceu em Londres em 1895, e portanto, numa época em que William Crooks. com a sua imensa autoridade de profundo cientista, abalava o materialismo ortodoxo dos cientistas com as suas pesquisas psíquicas, cujos resultados expunha na Royal Society de Londres, pelos métodos racionais preconizados pela Ciência. O autor, consumado clarividente, leva as palmas de haver sido o primeiro investigador psíquico abalizado a apresentar ao mundo uma obra deste
estilo, expondo suas observações diretas do mundo astral por métodos objetivos rigorosamente científicos. E tão feliz e bem acabada foi a sua exposição que, segundo nos relata o eminente teósofo e escritor hindu C. Jinarajadasa na Introdução, um dos grandes Mestres da Sabedoria solicitou do autor o manuscrito original para figurar nos arquivos perpétuos da Grande Fraternidade Branca.

Só este gesto, partido de quem partiu, bastaria para aquilatar-se o alto valor de tão pequeno livro, que no início o autor nem sequer pensava em publicar, pois escrevera a matéria com endereço certo: para ser exposta a um reduzido auditório de sua Loja teosófica em Londres. Desde então muitas outras edições e traduções se seguiram e muitas outras obras sobre o mesmo assunto foram escritas por muitos autores. Porém até hoje, na chamada era científica, O Plano Astral Astral conserva a sua primazia original, destacando-se como uma obra clássica na matéria, sintética, clara e de fácil assimilação, e tida por muitos principiantes como um valioso vademé-cum para uma introdução no mundo astral e seus mistérios. Consta o livro de um prefácio da Dra.Annie Besant, que conhecia bem de perto a seriedade e rigor das pesquisas do autor; uma introdução por C. Jinarajadasa, que datilografou as anotações feitas pelo mesmo autor, e depois se seguem cinco capítulos:

Apreciação Geral, o Cenário, os Habitantes vivos e mortos (humanos, nãohumanos, e seres artificiais); os Fenômenos Astrais, e finalmente a Conclusão. O autor finda o livro considerando normal o desenvolvimento das faculdades psíquicas no ser humano, sendo, porém, imprescindível saber distinguir entre as superiores e as inferiores, as permanentes e as transitórias, as seguras e as perigosas. E com chave de ouro o encerra indicando aos interessados o método mais natural e seguro para uma progressiva e honesta conquista dos superiores poderes subjetivos e uma bem sucedida sondagem dos meandros e labirintos do misterioso mundo ou plano astral. Dificilmente se poderá encontrar, por muito tempo, um livro melhor no gênero, acessível à grande maioria das inteligências e capaz de satisfazer tanto a espiritualistas como a cientistas pesquisadores.

Na extensa literatura sobre Teosofia, este pequeno livro se destaca por certas características especialmente marcadas. É uma tentativa para descrever a Mundo Invisível da mesma maneira que um botânico descreveria algum novo território neste globo, não explorado por qualquer botânico anterior. A maioria dos livros que tratam de Misticismo e Ocultismo se caracteriza pela falta de uma apresentação científica, tal qual se faz em todo departamento científico. Mais nos dão a significação das coisas do
que descrições das coisas em si.

Neste pequeno livro o autor aborda o Mundo Invisível do ponto de vista da ciência. Como tenho certa ligação com este livro, por ter sido o amanuense que o copiou para a impressão, posso descrever como veio a ser escrito. Na época em que foi escrito, em 1894, C. W. Leadbeater era o secretário da Loja de Londres da Sociedade Teosófica, e o seu presidente era o Sr. A. P. Sinnett. A Loja não fazia propaganda pública nem realizava reuniões abertas; porém três ou quatro vezes por ano se efetuava uma reunião na residência do Sr. Sinnett, e cartões de convite eram enviados aos membros da Loja e aos poucos das "classes superiores" que o Sr. Sinnett julgava provavelmente interessados em Teosofia. O Sr. Sinnett desejava que o Sr, Leadbeater (como era então seu tratamento) fizesse uma palestra na Loja.

Nosso autor escolheu como tema "O Plano Astral". Cabe citar aqui a descrição que ele próprio fez do seu treinamento em clarividência, que o habilitou a fazer uma investigação científica dos fenômenos do Plano Astral. Em seu livro Como Mc Veio a Teosofia, descreve assim o seu treinamento: Desenvolvimento Inesperado Deve-se compreender que naquela época eu não possuía nenhuma faculdade clarividente, nem jamais me havia julgado ser um sensitiva.

Lembro-me que era minha convicção que a homem devia nascer com alguns poderes psíquicos e um corpo sensitivo antes de poder tomar qualquer iniciativa nessa espécie de desenvolvimento. De sorte que nunca eu havia conjeturado que me fosse possível qualquer progresso desse tipo nesta encarnação, porém nutria a esperança de que se eu trabalhasse tão bem quanto soubesse nesta vida, eu poderia nascer na próxima com veículos mais adequados para essa linha particular de progresso.

No entanto, um dia, quando o Mestre Kuthumi me honrou com uma visita, Ele me perguntou se havia alguma vez tentado uma certa espécie de meditação relacionada com o desenvolvimento do misterioso poder chamado Kundalini. Eu tinha ouvido, certamente, falar desse poder, mas muito pouco sabia a seu respeito, e de qualquer modo o supunha absolutamente fora do alcance para os ocidentais. Todavia, Ele me recomendou fazer alguns esforços em determinadas diretrizes (que me comprometi a não divulgar a ninguém mais a não ser com Sua autorização direta) e me disse que Ele vigiaria esses esforços para ver que nenhum perigo resultasse. Naturalmente aceitei a sugestão, e trabalhei firmemente, e, penso poder dizer, intensamente, nessa espécie particular de meditação diária. Tenho que admitir que foi um trabalho muito árduo e às vezes distintamente penoso, mas por certo perseverei, e no devido tempo comecei a obter os resultados que tinha sido levado a esperar. Certos canais tinham de ser abertos e certas divisões eliminadas; foi-me dito que quarenta dias era uma boa estimativa da média do tempo requerido, se o esforço fosse realmente enérgico e perseverante.

Trabalhei nesse sentido durante quarenta e dois dias, e a mim me parecia estar à beira da vitória final, quando o próprio Mestre interveio e executou o ato final de rutura, que completou o processo e me capacitou daí em diante a usar a vista astral ao mesmo tempo que mantinha plena consciência na corpo físico. Isto eqüivale a dizer que a consciência astral e a memória se tornaram contínuas, quer o corpo físico permanecesse acordado ou adormecido. Foi-me explicado que com meus próprios esforços eu próprio teria conseguido a rutura vinte e quatro horas mais tarde, porém que o Mestre interferiu porque Ele desejava empregar-me imediatamente num certo trabalho.

Treinamento psíquico Não obstante, não se deve supor nem por um momento que a obtenção deste poder particular fosse a finalidade do treinamento oculto. Ao contrário, apenas provou ser o início de um ano do mais árduo trabalho que jamais eu conhecera. Terá de se compreender que eu vivia ali na sala octogonal,junto à margem do rio, sozinho e durante longas horas diárias, e praticamente protegido de qualquer interrupção, exceto das horas de refeição que mencionei. Diversos Mestres foram bastante magnânimos para visitar-me durante esse período e oferecer-me várias sugestões; mas foi o Mestre Djwal Kul que me proporcionou a maioria das instruções necessárias. Possivelmente Ele foi movido a este ato tão amável por causa de minha estreita associação com ele em minha última existência, quando estudei sob sua orientação na escola pitagórica que ele fundou em Atenas,e mesmo tive a honra de dirigir depois de Sua morte.

Não sei como agradecer-lhe tão grande soma de cuidados e incômodas que assumiu em minha educação psíquica. Paciente e repetidamente Ele criava uma vívida forma-pensamento, e me perguntava: "Que está vendo você?" E quando eu a descrevia com toda a minha melhor habilidade, vinha repetidamente o comentário:. "Não, não, você não está vendo certo; você não está vendo tudo; aprofunde-se mais, use a sua vista mental junto com a astral; force um pouco mais para adiante, um pouco mais alto." Este processo tinha de ser amiúde repetido muitas vezes antes de meu mentor se dar por satisfeito.

O discípulo tem de ser testado de todas as várias maneiras e sob todas as condições concebíveis; com efeito, pelo fim da instrução, espíritos da natureza brincalhões são especialmente chamados e ordenados de todas as passíveis maneiras para que se esforcem por confundir ou desnortear o vidente.

Inquestionavelmente é um trabalho duro, e a tensão que ele impõe é, suponho, quase tão grande quanto a que um ser humano pode seguramente suportar; mas o resultado obtido é sem a menor dúvida mais do que compensador, pois leva diretamente à união do eu inferior com o Eu superior e produz uma imensa certeza de conhecimentos baseados na experiência que acontecimentos futuros jamais podem abalar.

Na ocasião em que a conferência para a Loja de Londres estava sendo preparada, eu residia com o Sr. Leadbeater e freqüentava cursos para exames. Era hábito do Bispo Leadbeater (para dar-lhe o título que ele passou a usar depois de sua consagração como Bispo da Igreja Católica Liberal em 1916), nunca jogar fora os envelopes em que recebia cartas. Abria-os nos lados e utilizava suas faces internas para escrever memorandos. Este hábito ele o conservou até o último ano de sua vida...

Uma manhã ele me informou que o Mestre K. H. lhe havia pedido o manuscrito, pois desejava depositá-lo no Museu de Arquivos da Grande Fraternidade Branca. O Mestre explicou que O Plano Astral era uma produção fora do comum e um marco na história intelectual da humanidade. Alegou que até então, mesmo numa civilização tão grande como a dos Atlantes, os sábios das escolas ocultas não haviam abordado os fatos da Natureza segundo o moderno ponto de vista científico, porém de um ângulo diferente.

Os instrutores ocultos do passado haviam procurado mais o significado interno dos fatos, o que se poderia chamar o "lado vida" da Natureza, e menos o "lado forma" da Natureza, tal como se caracteriza o método científico da atualidade. Conquanto até então os Adeptos houvessem reunido um vasto cabedal de conhecimentos provindos de civilizações passadas, concernentes aos mistérios da Natureza, tais conhecimentos haviam sido sintetizados não segunda uma detalhada análise científica, mas mediante reações da consciência ao "aspecto vida".

Por outro lado, pela primeira vez entre os ocultistas, havia sido feita uma pormenorizada investigação do Plano Astral em conjunto, de maneira similar à que numa selva amazônica teria feito um botânico a fim de classificar suas árvores, plantas e arbustos para escrever uma história botânica. Por esta razão o livrinho O Plano Astral foi definitivamente um marco, e o Mestre, como guarda dos Arquivos, desejou colocar no Grande Museu o escrito desse plano. Este Museu contém uma cuidadosa seleção de vários objetos de importância histórica para os Mestres e seus discípulos, em conexão com seus estudos superiores, e é especialmente um registro do progresso da humanidade em vários campos de atividade. O Museu contém, por exemplo, globos modelados para mostrar a configuração da Terra em várias épocas.

Foi destes globos que o Bispo Leadbeater traçou os mapas que foram publicados em outra transação da Loja de Londres, o do livro Atlantis de W. Scott-Elliot. Entre outros objetos significativos o Museu contém uma peça de Mercúrio sólido, que é um isótopo. Conserva vários textos antigos relativos a religiões extintas e atuais, bem como outros, materiais úteis para uma compreensão da obra da "Vaga de Vida" neste globo, a nossa Terra.

A única ocasião que possa recordar-me em que se poderia descrever o Bispo Leadbeater como "excitado" foi quando recebeu do Mestre este pedido de seu livrinho, pois o manuscrito estava manchado — melhor se poderia descrevê-lo "sujo" — depois do manuseio do impressor. Não obstante, o pedido do Mestre tinha de ser atendido. Surgiu então a questão de como transportar o manuscrito para o Tibete. Todavia, isto não o apoquentou, pois o Bispo Leadbeater possuía certos poderes ocultos que não revelou a outros, embora eu os tenha observado em diversas ocasiões.

O manuscrito teve de ser transportado por desmaterialização, e ser rematerializado no Tibete. Aconteceu ter eu uma fita de seda amarela de três polegadas de largura, e dobrando o manuscrito em quatro, enrolei-o com a fita, que estiquei para formar uma faixa. Eu me achava excitado, pois havia ali uma notável oportunidade para conseguir prova de um "fenômeno". Se o manuscrito fosse fechado numa caixa e a chave estivesse em meu poder todo o tempo, e depois se verificasse haver desaparecido o manuscrito, eu teria uma prova esplêndida para narrar. Mas por estranho que pareça, entre os pertences do Bispo Leadbeater e meus daquela época não tínhamos nada propriamente com fecho. Havia uma velha canastra coberta de couro, mas sua fechadura estava quebrada. Tínhamos ainda muitas maletas, mas todas com fechaduras defeituosas, e não havia absolutamente nada com fechadura aproveitável. Existia uma pequena caixa de madeira com uma carapaça de tartaruga embutida, que era uma caixa de trabalhos de sua mãe, mas sua chave se havia perdido há muito tempo. Nada restava a fazer senão colocar o manuscrito dentro desta caixa e empilhar sobre ela um monte de livros, na falta de coisa melhor.

Na manhã seguinte, ao acordar, removendo a pilha de livros e olhando dentro da caixa de trabalhos, o manuscrito não estava mais ali. Meu pesar por perder a oportunidade de demonstrar um fenômeno não se sentiu consolado por me dizerem que eu próprio havia levado astralmente o manuscrito ao Mestre. Talvez seja interessante transcrever aqui o que escrevi algures deste tema e da impossibilidade de encontrar um exemplo da ação de faculdades superfísicas que a céptica mentalidade cientifica pudesse considerar insofismável: "Sempre que poderíamos ter dado um exemplo de prava, com referência a fatos ocultos, sem qualquer possível objeção, sempre algo acontecia para frustrar a finalidade da prova.

É bem sabido que, nas primórdios do Espiritismo, muitos objetos raros foram transportados de pontos distantes, demonstrando que os espíritos podiam empregar poderes extraordinários. Mas em cada exemplo faltava um elo final na cadeia. De maneira semelhante, nos fenômenos produzidos pelos Adeptos em conexão com o trabalho de Madame Blavatsky em Simla, teria sido para Eles coisa facílima transportar de Londres para Simla o Times da dia, como certa vez foi sugerido. Mas em todos os casos de fenômenos havia a omissão, por inadvertência ou outra razão qualquer, de algum importante fato comprobatório". Quando indagamos do Mestre sobre este assunto, fomos informados que Eles propositalmente evitaram qualquer fenômeno que pudesse ser absolutamente "comprovado" em matéria de prava.

Era Seu plano que, enquanto a humanidade estivesse no presente estágio,em que a um grande número de mentalidades poderosas falta um adequado desenvolvimento moral, nenhuma oportunidade se dará a estas inteligências inescrupulosas para terem uma confiança completa na existência de poderes ocultos. Enquanto houver cepticismo nesta matéria, a humanidade estará protegida de ser explorada por inescrupulosos. Já sabemos quanto a humanidade tem sido explorada econômica e industrialmente pelas mentalidades egoístas que controlam os recursos da natureza.

Quão grande calamidade ocorreria se essas mesmas mentalidades pudessem também utilizar poderes ocultos para a exploração, não é difícil de conceber, mesmo a alguém dotado de pequena imaginação. O Bispo Leadbeater encontrou a Dr.ª Annie Besant pela primeira vez em 1894. No ano seguinte ela o convidou e a mim para residirmos na Sede Central Teosófica de Londres, 19 Avenue Road, Parque dos Regentes, onde H.P.B. faleceu em 1891. Esta casa era sua, e daí o seu convite a nós. Deste período em diante começou uma muito estreita colaboração entre a Dr.ª Besant e a Bispo Leadbeater, a qual continuou ininterrupta até o fim de suas vidas. Em 1892 ela iniciou uma série chamada "Manuais Teosóficos", consistindo de pequenos livros sumariando ensinamentos teosóficos sobre vários assuntos.

Os quatro primeiros, respectivamente, Sete Princípios do Homem, Reencarnação, Karma, Morte, Depois? haviam sido editados quando ela solicitou permissão do Bispo Leadbeater para publicar a Transação da Loja de Londres como um manual da série, o qual apareceu oportunamente como o Manual n.º 5. Foi em 1895 que ambos fizeram em conjunto investigações sobre a estrutura do Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio (e um quarto elemento batizado por nós "Occultum", ainda não descoberto). ‘Nesse mesmo ano ambos fizeram extensas investigações da estrutura, condições e habitantes dos Planos Mentais inferior e superior.

Tomando por modelo a obra feita pelo Bispo Leadbeater quando investigou o Plana Astral, a Dr.ª Besant e ele examinaram exemplos e mais exemplos de egos em "Devachan", naquele período de sua existência depois da morte no estado de felicidade chamado o Mundo Celeste. Como antes, foi o Bispo Leadbeater quem escreveu as investigações, pois a Dr.ª Besant tinha muitas ocupações; esta foi a origem do Manual Teosófico n.° 6, The Devachanic Plane.

Estas duas obras,O Plano Astral e O Plano Devânico Mental), reúnem uma investigação, de maneira tão objetiva e científica quanto a Dr.’ Besant e o Bispo Leadbeater puderam fazer, e o resultado é uma soma muito preciosa de fatos concernentes ao mundo invisível. Uma acurada análise e estudo destes fatos por qualquer estudante ardoroso, datado de uma mente imparcial e sem preconceitos, não podem deixar de lhe proporcionar o sentimento de que, embora possa ser incapaz de crer nas exposições feitas, há, no entanto, uma característica acerca deles. Ë que parecem ser descrições de objetos e acontecimentos vistos objetivamente, como que por meio dê um microscópio ou telescópio, e não subjetivamente, coma é o caso de um novelista contando os incidentes de uma vívida estória. Esta é, em resumo, a história da escrita deste pequeno mas precioso manual: O Plano Astral.

C. JlNARAJADASA




PREFÁCIO
Poucas palavras bastam para oferecer este livrinho ao mundo. Visa atender à demanda pública de uma exposição simplificada dos ensinamentos teosóficos. Têm-se queixado alguns que nossa literatura é, ao mesmo tempo, excessivamente abstrusa, técnica e dispendiosa para o leitor comum. Com esta obra esperamos lograr suprir tão evidente necessidade.

A Teosofia não se destina apenas a eruditos, mas a todos. Talvez entre os que nestas páginas obtenham vislumbres de seus ensinamentos, haja uns poucos que serão por eles guiados a penetrar mais profundamente em sua filosofia, sua ciência e sua religião, abordando os seus mais abstrusos problemas com o zela do estudante e o ardor do neófito. Todavia, esta obra não foi escrita apenas para o estudante sequioso, que nenhuma dificuldade inicial pode deter, mas também para os homens e mulheres
envoltos nos afazeres cotidianos do mundo. A todos eles procura explicar algumas das grandes verdades que tornam a vida mais agradável e a morte menos temível.

Escrita por um dos servos dos Mestres, que se dizem os "irmãos Mais Velhos" de nossa raça, seu único escopo é servir a humanidade.

ANNIE BESANT



Todos nós, embora na maior parte não tenhamos dado por isso, vivemos no seio de um vasto, invisível e populoso mundo. Quando dormimos ou quando no estado de êxtase, os nossos sentidos físicos entram momentaneamente num estado de inação. podemos até certo ponto ter a consciência desse mundo e muitas vezes acontece trazermos, ao despertar, recordações mais ou menos vagas, do que lá vimos e ouvimos. Quando, por ocasião dessa transição a que vulgarmente chamamos morte, o homem se despoja totalmente do corpo físico, é nesse mundo invisível que ele ingressa e lá fica vivendo durante os longos séculos que medeiam entre as suas encarnações nesta existência terrestre.

A maior parte destes longos períodos, a sua quase totalidade mesmo, é passada no mundo-céu, ou Devachan. O presente trabalho é dedicado à parte inferior desse mundo invisível, ao estado em que o homem ingressa imediatamente após a morte — o Hades ou mundo inferior dos gregos, o purgatório ou etapa intermédia dos cristãos, e que os alquimistas da Idade Média chamavam "plano astral". Ò objeto deste manual é colher e tornar compreensíveis todos os elementos referentes a essa interessantíssima região, elementos que se acham disseminados um pouco arbitrariamente por toda a literatura teosófica, e ao mesmo tempo juntar-lhes casos novos, recentemente chegados ao nosso conhecimento.

Quanto a estes, visto que são apenas resultados da investigação de alguns estudiosos, é claro que os apresentamos como tais, sem que exijamos que os considerem como afirmações categóricas e da maior autoridade. Todavia, tomamos todas as precauções em nosso poder para garantir a sua exatidão, para o que houve o cuidado de apenas se admitirem neste manual os fatos observados e comprovados por, ao menos, dois de nossos observadores mais peritos e treinados, e além disso confirmados por investigadores mais antigos, de experiência evidentemente maior do que a nossa.

Nestas condições, é de se esperar que a presente descrição do plano astral, embora necessariamente incompleta, possa, dentro dos limites que lhe impusemos, inspirar absoluta confiança aos nossos leitores. A primeira idéia a fixar nessa descrição é a absoluta realidade do plano astral. O plano astral existe. Mas, é claro, quando falo de realidade, não parto do ponto de vista metafísico que diz nada haver de real, porque tudo é transitório, a não ser o Absoluto não manifestado.

A palavra é empregada no seu sentido vulgar, de todos os dias, e quer significar que os objetos e habitantes do mundo astral são reais, precisamente como os nossos corpos, a nossa mobília, casas e monumentos — tão reais como qualquer lugar que estamos habituados a ver e a freqüentar diariamente: Charing Cross, por exemplo, para nos servirmos da expressiva comparação de uma das obras teosóficas mais antigas. Tudo o que existe nesse plano não dura, naturalmente, mais do que os objetos do plano físico, mas, precisamente como estes, não deixa de ser uma realidade cuja existência não temos o direito de ignorar, simplesmente pelo fato de a grande maioria da humanidade não ter por enquanto consciência dela, ou, quando muito, apenas a pressentir vagamente.

Ninguém pode ter uma compreensão nítida das doutrinas da Religião-Sabedoria, se não souber e não compreender conscientemente que no nosso sistema solar existem planos perfeitamente definidos, cada um formado pela sua matéria de diferentes graus de densidade, e que alguns desses planos estão abertos à visita e à observação dos que conseguiram obter os requisitos necessários para isso, exatamente como qualquer país estrangeiro está ao alcance do turista. E ainda que, da observação comparada dos que trabalham nesses planos, se podem inferir provas suficientes da sua existência e da sua natureza, provas em nada menos concludentes do que as subsistentes para provar a existência da Groenlândia ou Spitzberg.

E assim como qualquer um pode, se quiser dar-se a esse trabalho e tiver para isso os meios necessários, conhecer pessoalmente a Groenlândia ou Spitzberg, assim também qualquer investigador, se quiser dar-se ao trabalho de adquirir, levando uma certa vida, os requisitos necessários, pode conhecer pessoalmente os planos superiores em questão. Estes se chamam, por ordem decrescente de densidade da matéria que os forma, respectivamente, físico, astral, mental ou devachânico, búdhico e nirvânico.

Acima destes há ainda dois, mas tão além das nossas atuais faculdades de percepção que, por enquanto, não nos ocuparemos deles. A matéria que forma estes planos é absolutamente a mesma; a sua densidade em cada um deles é que difere: é como se houvesse um formado de água-gêlo, outro de água-líquido, outro de água-vapor, etc., e realmente os estados de matéria a que chamamos sólido, líquido e gasoso, não são mais do que as três subdivisões inferiores da matéria pertencentes ao plano físico. É matéria ainda mais rarefeita a que forma os outros, mas, na essência, é a mesma matéria.

A região astral, que vou tentar descrever, forma o segundo destes grandes planos da natureza — o imediatamente superior (ou interior) a este mundo físico, tão conhecido de nós todos, e onde vivemos. Tem-se lhe chamado "o reino da ilusão", não porque em si seja mais ilusório do que o mundo físico, mas porque as impressões que dele trazem os observadores pouco treinados são extremamente vagas e impalpáveis, oferecendo, portanto, pouco crédito, fato devido a duas causas principais: em primeiro lugar, os seus habitantes têm o poder maravilhoso de mudar constantemente de forma com uma enorme rapidez, e de exercer, por assim dizer, uma espécie de magia ocasional sobre aqueles à custa de quem se querem divertir;e em segundo lugar, a faculdade de ver nesse plano é muito diferente da faculdade visual que nos é dada no plano físico. É, além disso, extraordinariamente mais desenvolvida, pois, um objeto é, por assim dizer, visto por todos os lados ao mesmo tempo.

Olhando para um sólido com a vista astral, o olhar abrange não só o exterior mas o interior do corpo; compreende-se, portanto, que seja extremamente difícil para um observador com pouca prática ter compreensão nítida do que vê, extrair da imagem confusa, que pela primeira vez se lhe apresenta à vista, a noção verdadeira do seu significado, e, acima de tudo, é-lhe quase impossível
traduzir o que realmente vê, servindo-se da pobre linguagem de que usa diariamente.

Um bom exemplo do gênero de erro que se comete com freqüência é a troca dos algarismos de um número visto à luz astral: 139 em vez de 931, por exemplo. É claro que um estudante de ocultismo, dirigido por um Mestre capaz, não cometerá nunca um erro tão grosseiro, a não ser por uma questão de precipitação ou falta de cuidado, visto que os discípulos seguem um curso regular onde aprendem a ver com precisão na luz astral.

O Mestre, por vezes um discípulo já mais adiantado, tem o cuidado de apresentar constantemente todas as formas de ilusão possíveis, acompanhadas da pergunta — o que é isto? —, corrigindo todos os erros nas respostas, explicando as razões dos enganos, até que o neófito adquire gradualmente uma certa confiança em si mesmo e passa a haver-se corretamente com os fenômenos do plano astral, com uma certeza infinitamente superior à que é possível ter-se na vida física. Mas não se trata só de aprender a ver corretamente; é necessário também aprender a transladar o que vê, de um plano para outro.

Para isso, treina-se cuidadosamente em transportar a sua consciência do plano físico para o astral ou mental, e vice-versa, para evitar que, antes da aquisição desta faculdade as suas reminiscências se percam ou se adulterem no hiato que separa a fixação de sua consciência nos vários planos. Adquirido este poder de deslocamento e fixação da consciência, o discípulo pode servir se de todas as faculdades astrais, não só quando mergulhado no sono, ou em êxtase, mas ainda quando se ache perfeitamente acordado e no meio da sua vida física normal. Há, entre os teosofistas, quem tenha falado com certo desprezo do plano astral, considerando-o menos digno de atenção; mas, a meu ver, laboram em erro. É evidente que o que aspiramos é a vida do espírito, e que seria um verdadeiro desastre ficarmos satisfeitos com a obtenção da consciência astral, desistindo de um desenvolvimento mais elevado.

Há, é certo, quem tenha um Karma tal que, por assim dizer, é dispensado do plano astral, podendo logo de princípio começar pelo desenvolvimento das faculdades mentais mais elevadas. Mas não é esse o processo geralmente seguido pêlos Mestres da Sabedoria com os discípulos.

Sempre que é possível, este processo evidentemente é empregado, porque poupa trabalho e tempo, mas, em geral, o progresso aos saltos é-nos interdito pelas nossas faltas ou loucuras passadas. Devemos, portanto, contentar-nos em abrir o nosso caminho passo a passo, lentamente, e visto que é esse plano astral o imediatamente a seguir ao nosso mundo de matéria mais densa, é nele que devemos começar as nossas primeiras experiências superfísicas. E visto isto, é do maior interesse o seu conhecimento para os que começam estes estudos, tanto mais que e da maior importância, uma compreensão clara dos mistérios astrais, não só para se
ter uma idéia racional acerca de muitos dos fenômenos das sessões espíritas, das casas em que aparecem as chamadas almas do outro mundo, etc., que de outro modo seriam inexplicáveis, mas também para que com conhecimento de causa nos possamos, precaver contra certos perigos possíveis.

A primeira introdução consciente nesta região notável vem aos homens por várias maneiras. Alguns sentiram na sua vida, uma vez unicamente, uma influência qualquer, vaga e invulgar, que lhes comunicou o grau de sensibilidade suficiente para reconhecerem a presença de um dos seus habitantes; mas como a experiência não se repetiu, vem um dia em que se convencem que foram apenas vítimas de uma alucinação. Outros têm a impressão de que em certos momentos, cada vez mais freqüentes, podem ver e ouvir coisas para as quais os que os cercam são cegos e surdos, e outros ainda — é talvez este o caso mais vulgar — começam a recordar-se, com uma nitidez sucessivamente maior, do que viram e ouviram nesse plano, durante o sono.

A visão astral pode obter-se por vários processos, e entre eles, o muito conhecido de fixar longamente um cristal. É este um dos processos seguidos por muitos que se dedicam isoladamente a estes estudos. Mas os que possuem a inigualável vantagem da direção de um Mestre experimentado, são geralmente transportados a esse plano pela primeira vez, graças à Sua proteção especial que se manifestará até que um certo número de provas convençam o Mestre de que o discípulo está em condições de seguir desacompanhado, isto é, está à prova dos perigos ou terrores que com toda a probabilidade encontrará no seu caminho.

Mas seja como for, não resta a menor dúvida de que o primeiro momento em que um homem adquire a consciência, clara e indubitável, de que vive no meio de um vasto mundo repleto de vida exuberante, que a maior parte dos seus semelhantes não pressente, deve marcar na sua existência uma época memorável e de grande influência do seu futuro. Tão exuberante e tão variada é esta vida do plano astral, que a princípio o neófito se sente perante ela absolutamente estupefato, não sabendo por onde começar o seu estudo. E mesmo para o investigador com maior prática, é extremamente difícil o trabalho da sua classificação e catalogação.

Se a um explorador de qualquer região tropical desconhecida fosse exigida, não só uma descrição completa da região explorada, com todos os detalhes rigorosos acerca de suas produções minerais e vegetais, mas ainda por cima se lhe exigisse um tratado dos gêneros e espécies de cada uma das miríades de insetos, aves, mamíferos e répteis característicos da região, ele decerto recuaria apavorado perante a magnitude de tal empresa. Pois bem: esse trabalho seria apenas um pálido reflexo dos embaraços que esperam o investigador psíquico, porque a natureza dos assuntos a estudar é muitíssimo mais complicada, primeiramente pela dificuldade de transportar com exatidão do plano astral para o nosso a memória do que viu, e em segundo lugar, pela impropriedade da linguagem vulgar para a expressão do que se tem de relatar. Todavia, assim como o explorador no plano físico
começaria provavelmente a descrição de uma região por uma espécie de descrição geral do cenário e respectivas características, também nós, ao empreendermos tornar conhecido o plano astral, começaremos este ligeiro esboço por tentar dar uma idéia do cenário que forma o fundo das suas atividades maravilhosas e sempre diferentes. Mas, logo no começo surgenos uma dificuldade quase insuperável, derivada da extrema complexidade do assunto.

Todos aqueles que admiram o poder de ver claramente no plano astral, são unânimes em reconhecer que a tentativa de evocação de uma pintura cheia de vida desse cenário perante olhos inexperientes, equivale a querer fazer admirar a um cego, por uma simplesescrição oral, a requintada variedade dos matizes de um pôr de sol; — por mais expressiva, mais detalhada e mais fiel que seja a descrição, nunca se pode obter a certeza de que no espírito do cego se represente com clareza a verdade.

Antes de mais nada, é preciso não esquecer que o plano astral tem sete subdivisões, e cada uma destas tem um grau de materialidade que lhe é próprio e corresponde a um certo estado de agregação de matéria. Embora, por causa da pobreza da nossa linguagem, sejamos forçados a chamar a esses subplanos "superiores e inferiores", não se julgue que esses subplanos (ou antes os planos maiores de que estes, são apenas subdivisões) são localidades separadas no espaço, uns por cima dos outros como as prateleiras de uma estante, ou uns exteriormente aos outros como as camadas de uma cebola.

Não: A matéria de cada um deles interpenetra a matéria do imediatamente superior, de modo que aqui à superfície da terra existem todos no mesmo espaço, embora as variedades superiores de matéria se estendam para mais além da terra física do que as inferiores. Assim, quando se diz que um homem se eleva de um plano para outro, não queremos de modo nenhum dizer que haja uma mudança de lugar no espaço, mas, sim, uma transferência do foco da consciência de um nível para o outro.

O homem vai-se tornando, por assim dizer, opaco às vibrações de uma ordem de matéria e adquirindo uma sensibilidade crescente para as de uma ordem mais elevada. Desta forma, o primeiro mundo vai-se desvanecendo a pouco e pouco da consciência, com os seus habitantes e paisagens, dando lugar a outro de ordem mais elevada, que se vai tornando sucessivamente mais nítido. No entanto, há um ponto de vista segundo o qual há certa justificação para o uso dos termos "superiores"e "inferiores", e a comparação dos planos e subplanos a camadas concêntricas.

A matéria de todos os subplanos tem de encontrar-se aqui na superfície da terra, porém o plano astral e muito maior do que o físico, e estende-se alguns milhares de quilômetros acima da sua superfície. A lei de gravitação opera na matéria astral, e se fosse possível deixá-la inteiramente imperturbada, provavelmente ela se estabeleceria em camadas concêntricas.

Mas a terra está em movimento perpétuo, tanto de rotação como de revolução, e todas as espécies de influências e forças estão em contínua precipitação; assim, esta condição de repouso ideal jamais é alcançada, e há muita mistura. Todavia, é certo que quanto mais ascendemos tanto menos matéria densa encontramos. Temos uma boa analogia no plano físico.

Terra, água e ar — o sólido, o líquido e o gasoso — todos existem na superfície, porém, amplamente falando, é exato dizer-se que a matéria sólida na base, a líquida logo acima dela, e a gasosa acima de ambas. A água e o ar interpenetram a terra numa pequena extensão; a água também se ergue no ar sob a forma de nuvens, mas apenas até uma altura limitada; a matéria sólida pode ser arremessada ao ar por violentas convulsões, como na grande erupção da ilha de Cracatau, Indonésia, em 1883, quando a lava vulcânica atingiu a altura de dezessete milhas, e levou três dias para depositar-se de novo; mas deposita-se finalmente, tal como a água atraída para o ar por vaporação retorna a nós como chuva. Quanto mais alto nos elevamos, mais rarefeito se torna o ar, e a mesma verdade se aplica à matéria astral.

As dimensões de nosso mundo astral são consideráveis e podemos determiná-las com alguma aproximação de exatidão do fato de que nosso mundo astral toca o da lua no perigeu, porém não no apogeu; mas naturalmente o contato se confina ao mais elevado tipo de matéria astral.

Retornando à consideração destes subplanos e numerando-os desde o mais elevado e menos material para baixo, notamos que compreendem naturalmente três classes: as divisões l, 2 e 3 formando uma dessas classes, e 4, 5 e 6 a outra, ao passo que a sétimae ínfima de todas constitui a terceira. A diferença entre a matéria de uma destas classes e a imediatamente superior seria comensurável com a entre um sólido e um líquido, enquanto que a diferença entre a matéria das subdivisões de uma mesma classe se assemelharia à existente entre duas espécies de sólido, como, digamos, aço e areia. Abstraindo, por enquanto a divisão 7, podemos dizer que o fundo das divisões 4, 5 e 6 do plano astral é formado por este plano físico, em que vivemos, e por tudo o que lhe é acessório.

A vida na sexta divisão é em tudo semelhante à vida na terra, com a diferença, é claro, de que não existe o corpo físico, e portanto, não se sentem as respectivas necessidades; enquanto que, à medida que ascende através da quinta e quarta divisões, a vida se torna sucessivamente menos material e menos dependente do nosso mundo inferior e seus interesses.

Portanto, o cenário das divisões inferiores é o da terra, nossa conhecida; mas é ainda mais, porque, ao contemplá-lo com vista astral, todos os objetos, mesmo os pensamentos físicos, tomam um aspecto diferente. Como já se disse, os olhos astrais vêem um objeto, não só sob um certo ponto de vista, mas por todos os lados ao mesmo tempo — ideia, que em si é bastante confusa. Se acrescentarmos, ainda, que todas as partículas existentes no interior de um corpo sólido se apresentam tão nitidamente visíveis como as da superfície, compreenderemos facilmente que mesmo os objetos que nos são mais familiares apresentem uma aparência que os torna inteiramente irreconhecíveis.

Contudo, refletindo um momento, veremos que esta visão está mais próxima da verdadeira percepção do que a vista física. Assim, se olharmos, à luz astral, as faces de um cubo de vidro, elas nos parecerão perfeitamente iguais, como realmente o são, ao passo que no plano físico vemos a face mais afastada em perspectiva, e portanto, muito menor do que realmente o é, o que evidentemente não passa de uma ilusão do sentido visual. É esta característica da visão astral que concorreu para que este tipo de visão tenha sido chamado "vista na quarta dimensão" — expressão realmente muito sugestiva. No entanto, ainda há mais causas de erro: assim, esta vista superior distingue formas de matéria invisíveis em outras condições, como por exemplo, as partículas constituintes da atmosfera, todas as variadíssimas emanações que os corpos, que têm vida, constantemente libertam de si, e ainda mais quatro
graus de uma ordem de matéria bem mais rarefeita, a que, por falta de designação distintiva, chamaremos etéricas. Estas fornecem, por si, uma espécie de sistema, que interpenetra livremente toda a outra matéria física.

Bastaria a investigação da natureza das suas vibrações e a maneira como certas forças de ordem superior as afetam, para constituir um vasto campo de estudo cheio de interesse para qualquer homem de ciência dotado dos requisitos visuais necessários ao seu exame. Todavia, mesmo que o pouco que acaba de dizer-se esteja perfeitamente compreendido, ainda assim, não se pode avaliar bem a complexidade do problema que temos tentado abordar. Porque, além destas formas novas da matéria física, há ainda outras subdivisões, muito mais numerosas e mais misteriosas, da matéria astral. Em primeiro lugar, cada objeto material, cada partícula mesmo, tem o seu duplicado astral. Este duplicado, por vezes, não é um corpo simples; é um corpo extremamente complexo, constituído de várias espécies de matéria astral. Além disso, todos os seres vivos estão rodeados de uma atmosfera, que lhes é própria, vulgarmente chamada "aura", que no caso do homem é um assunto de estudo extremamente fascinante. Esta aura humana tem o aspecto de um oval de vapor luminoso, de uma estrutura altamente complexa, e da sua forma
deriva o nome por que geralmente é conhecida, de "ovo aúrico".

Podemos dar aos leitores de Teosofia a boa notícia de que, mesmo nos primeiros estágios da sua aprendizagem, quando começa a adquirir a visão completa, o discípulo tem já a faculdade de se certificar diretamente da exatidão dos ensinamentos apresentados pela nossa fundadora, Madame Blavatsky, acerca de, pelo menos, alguns dos "sete princípios do homem".

Ao contemplar um dos seus semelhantes, o discípulo vê mais do que a sua aparência exterior; envolvendo-lhe o corpo físico, vê claramente o duplo etérico, vê distintamente o fluído vital universal ser absorvido e espalhado pelo corpo, circular livremente sob o aspeto de uma luz rósea, e irradiar perpendicularmente do corpo da pessoa, quando se trata de um indivíduo em bom estado de saúde.

Mas a aura mais brilhante e talvez mais fácil de distinguir, apesar de formada por matéria num grau ainda mais elevado de rarefação — a matéria astral — é a que exprime com os seus rápidose vivos relâmpagos de cor os diversos desejos que vertiginosamente atravessam o ser humano, de momento a momento. É isto o que forma o verdadeiro corpo astral.

Atrás deste, e formado por um grau de matéria ainda mais sutil — a das formas do plano devachânico — está o corpo mental ou aura do eu inferior, cujas cores, mudando apenas gradualmente à medida que o homem vai vivendo a sua vida, mostram a linha geral do seu pensamento e a disposição e caráter da sua personalidade.

Ainda acima, muito mais elevada e incomparavelmente mais bela, onde atingiu o seu completo desenvolvimento, está a luz viva do corpo causal, veículo do Eu superior, que mostra o exato grau de adiantamento a que chegou o Ego verdadeiro, na sua passagem de nascimento em nascimento, isto é, de vida em vida.

Mas para ver estes corpos é necessário que o discípulo tenha adquirido a faculdade de ver com vista especial de cada um dos planos a que cada corpo pertence. Estas auras não são simples emanações; são a manifestação real do Ego nos diferentes planos. Esta noção é importantíssima; a sua aquisição poupará ao estudante muitas dificuldades e o libertará de muitos erros. O ovo áurico é que é o homem, e não o corpo físico que na vida terrena se cristaliza dentro dele.

Enquanto o Ego reencarnante permanece no plano que é a sua verdadeira morada nos corpos "sem forma", ele habita no corpo causal — e este é o seu veículo — as à medida que ele desce para os corpos "com forma", vê-se obrigado, para poder funcionar no novo plano, a revestir-se da matéria deste. E é a matéria que ele assim atrai a si que lhe fornece o corpo devachânico, ou
o corpo mental.

Analogamente, ao descer para o plano astral, reveste-se do corpo astral, ou corpo de desejos. Mas, é claro, os outros corpos superiores, de que se foi sucessivamente revestindo nas suas passagens de plano para plano, permanecem todos, até que em sua última descida para o plano físico, se reveste finalmente do corpo mais grosseiro, o nosso de carne e osso, que se forma no seio do Ovo áurico. E assim temos o homem completo, encerrado no Ovo áurico.

Quem quiser mais amplos detalhes a respeito das auras, pode encontrá-los nos Anais da Loja de Londres ou em meu livro O Homem Visível e Invisível. Mas o que acabo de dizer basta para mostrar que todas as auras ocupam o mesmo espaço, as mais sutis penetrando as mais grosseiras, de modo que o neófito carece de muito estudo e de muita prática para as poder distinguir ao primeiro golpe de vista. No entanto, a aura humana, pelo menos em parte, é geralmente o primeiro objeto puramente astral percebido pelo ignorante e, como é natural, sempre mal interpretado e pessimamente compreendido.

Apesar de ser a aura astral, em virtude do brilho dos seus relâmpagos de cor, a que mais salta à vista, o éter do sistema nervoso e o duplo etérico são realmente formados de matéria mais densa, visto estarem dentro dos limites do plano físico, conquanto invisíveis aos olhos vulgares. Se examinarmos, por meio da faculdade psíquica, o corpo de um recém-nascido, veremos que está interpenetrado, não só por matéria astral de todos os graus de densidade, mas também pêlos diversos graus de matéria etérica. E se nos dispusermos a remontar até à origem, veremos que é deste último que os agentes dos Senhores do Karma formam o duplo etérico, que é o molde segundo o qual se organiza o corpo físico, ao passo que a matéria astral vai sendo recolhida automática e inconscientemente pelo Ego na sua passagem pelo plano astral.

Na composição do duplo etérico entram todos os diferentes graus da matéria etérica, mas é muito variável a proporção em que cada um entra, por ser função de vários fatores, tais como, a raça, a sub-raça, o tipo do indivíduo, além do Karma que lhe é próprio.

Se juntarmos a isto a consideração já sabida de que estas quatro subdivisões de matéria são constituídas por inúmeras combinações que, por sua vez, formam agregados constituintes do "átomo" do chamado "elemento" químico, poderemos avaliar a extrema complexidade deste segundo princípio do homem, a infinidade das suas variações possíveis.

Compreende—se, pois, que por mais complexo que seja o Karma de qualquer indivíduo àqueles a cuja jurisdição pertencem essas funções é sempre possível fabricar um molde perfeitamente adaptável ao corpo a que se destina. Quem quiser mais ampla informação a este respeito, poderá consultar com vantagem a sugestiva obra de Annie Besant o Karma.

Ainda a respeito da aparência tomada pela matéria física quando vista à luz astral, outro ponto há que merece menção: é o fato de esta visão superior astral ter o poder de aumentar os objetos, levando qualquer partícula, por minúscula que seja, à grandeza que se deseje, tal qual um excelente microscópio, se nos é permitida tão grosseira comparação, pois na realidade não há nem poderá haver nenhum desses instrumentos, capaz de possuir um poder de aumento tão extraordinário.

A molécula e o átomo, criações hipotéticas para o homem de ciência, são para o ocultista realidades visíveis, e de uma complexidade intrínseca muito maior do que para os físicos e químicos do nosso mundo. É antes um vastíssimo campo de estudo do mais absorvente interesse, cuja análise mereceria um volume.

Qualquer investigador científico que conseguisse adquirir uma vista astral perfeita, não só veria facilitarem-se-lhe enormemente as suas experiências sobre os fenômenos vulgares, já conhecidos, mas veria diante de si um campo novo de conhecimentos para cujo estudo rigoroso não chegaria a curta vida humana na terra. Por exemplo, uma das mais curiosas novidades que se lhe revelaria, seria a existência de mais cores, perfeitamente visíveis além daquelas que ele pode ver no espectro, como os raios ultra— vermelhos e ultravioletas, que a ciência descobriu por meios indiretos e que para o ocultista dotado de vista astral são perfeitamente visíveis. Mas não nos deixemos fascinar por estes interessantíssimos atalhos e prossigamos em nosso objeto de dar uma idéia geral da aparência do plano astral.

Do que acabamos de dizer compreende-se que, embora sejam realmente os objetos vulgares do mundo físico que formam o fundo do cenário do plano astral, aparecem, contudo, com um aspecto tão diferente, pelo muito mais que deles se vê, que se nos tornam quase irreconhecíveis e julgamos estar em presença de objetos novos, tanto e tão profundamente modificados, na infinita variedade dos seus pormenores, nos aparecem os objetos nossos conhecidos.

Para melhor compreender a nossa afirmação, tomemos um exemplo, qualquer coisa de muito conhecido e de muito simples, seja uma rocha. Olhada com vista astral, essa rocha deixa de ser um corpo inerte e imóvel. Vê-se-lhe toda a matéria física e não apenas uma pane. Percebemse todas as vibrações das partículas físicas que a formam. Verifica-se a existência de um duplicado composto de vários graus de matéria astral, rigorosamente igual ao físico, cujas partículas- estão igualmente em movimento. Através da sua massa sente-se palpitar a vida universal. Torna-se visível a aura envolvente, embora esta não tenha a extensão nem a complexidade das auras que cercam os corpos dos reinos mais elevados. Finalmente, percebe-se, ativa e flutuante, a essência dementai que lhe é própria.

Tratamos de uma rocha; se em vez de um bloco de pedra escolhêssemos um exemplo do reino vegetal, animal ou humano, a complexidade dos fenômenos observáveis seria muito maior e, sem dúvida, muito mais interessante. Poderão alguns leitores objetar que nenhum desses fenômenos apareceu até agora descrito com esses pormenores de complexidade, pela maior parte dos investigadores que dizem ter tido algum vislumbre do mundo astral, nem nas sessões espíritas jamais qualquer médium recebeu comunicação a tal respeito. O fato tem sua explicação.

Poucas pessoas, vivas ou mortas, chegam a ver as coisas como elas são, a não ser depois de longa experiência. Mesmo as que já sabem ver, sentem-se muitas vezes perplexas e confusas, incapazes de compreender ou de recordar o que viram. E a pequeníssima maioria dos que não só vêem, mas recordam, acha-se impotente para traduzir as suas impressões na linguagem do nosso plano, tanto mais que a maior parte dos observadores esquece o lado científico da questão e pode, portanto, obter uma impressão correta, às vezes, mas, e geralmente, completamente errônea. Em abono desta última hipótese, basta tomar em consideração as "partidas" que os cidadãos do outro mundo têm gosto em pregar nas sessões espiritistas, sem que os observadores pouco práticos tenham meio de se
defender contra a "graça" dos evocados. Além disso, não se deve esquecer que os habitantes regulares do mundo astral, sejam humanos ou dementais, apenas têm, em geral, consciência dos objetos do seu plano, passando-lhes despercebida a matéria física, precisamente como aos habitantes do mundo físico passa despercebida a matéria astral.

Parece, à primeira vista, que esta distinção é supérflua, visto termos dito que cada objeto físico tem o seu duplicado astral que o habitante deste plano deve ver, mas não podemos deixar de fazê-la, por ser uma parte essencial da concepção simétrica do assunto. Se, contudo, uma entidade astral se serve constantemente de um médium, os seus sentidos astrais podem embotar-se gradualmente a ponto de se tornarem insensíveis aos graus mais elevados de matéria do seu próprio plano, e incluírem no seu domínio, em vez do mundo astral, o mundo físico tal qual nós o vemos. E no que diz respeito aos habitantes da terra, apenas os muito exercitados, que tenham consciência absoluta nos dois planos, podem ter a certeza de ter simultaneamente tanto em um como no outro, com clareza e perfeição.

Fique, pois, bem assente que essa espantosa complexidade existe realmente, e que só depois de muito bem compreendida e, por assim dizer, cientificamente destrinçada, é que podemos ter uma garantia perfeita contra erros e decepções. O nosso mundo físico, pode dizer-se, forma o fundo da sétima subdivisão do plano astral — apesar de tudo que se vê formar apenas uma parte dele, — onde as coisas aparecem deformadas, visto que tudo que é luminoso, bom e belo, parece invisível.

Há mais de 4000 anos descreveu-a assim, num papiro egípcio, o escriba Ani: Que espécie de lugar é este, em que me encontro, sem ar, sem água, profundo, insondável, negro como a morte mais negra, onde erram miseravelmente os homens? Em tal lugar nenhum homem pode viver de coração tranqüilo. Para o desgraçado ser humano nesse plano, é certo que "toda a terra está cheia de trevas e
de moradas cruéis". Mas essas terras vêm do seu íntimo e são elas que lhes rodeiam a existência de uma noite perpétua de mal e de terror, —• verdadeiro inferno, realmente, mas um inferno, como todos os outros, únicae simplesmente criado pelo próprio homem. A maior parte dos estudantes de ocultismo considera a exploração desta região uma árdua tarefa, porque nela se sente como que uma sensação de densidade e de materialidade grosseira que se torna imensamente repugnante ao corpo astral, que alcançou a libertação. Um corpo nessas condições tem a impressão de ter de abrir à força um caminho através de uma espécie de fluído, negro e viscoso, rodeado de habitantes e influências extremamente desagradáveis.

A primeira, segunda e terceira subdivisões, apesar de ocuparem o mesmo lugar no espaço, dão, contudo, a impressão de um maior afastamento do mundo físico e, portanto, parecem ter materialidade muito menor. As entidades que as habitam perdem de vista a terra e as coisas terrestres; encontram-se, em geral, profundamente absorvidas em si mesmas, e criam, até certo ponto, o seu ambiente, ambiente que, contudo, é suficientemente objetivo para se dar a perceber às outras entidades e também à visão do clarividente. Esta região é sem dúvida a "Summerland", de que tanto estamos habituados a ouvir falar nas sessões espíritas americanas, e aqueles que de lá vêm e dela nos falam, decerto a descrevem com verdade, pelo menos, tanto quanto o seu conhecimento lhes permite. É nestes planos que os "espíritos" chamam a uma existência temporária as suas casas, escolas e cidades. Temporária porque, se é certo que estas coisas aparecem por algum tempo com um caráter de realidade, quaisquer olhos mais habituados a ver, achá-las-ão sem dificuldade tristemente diferentes daquilo que os seus entusiásticos criadores julgam que o são. Contudo, muitas das criações fantasistas que aí tomam forma, são de uma beleza real, embora temporária, e qualquer visitante que não conhecesse nada de superior, passaria bastante agradavelmente o seu tempo vagueando pelas florestas e montanhas, lagos e aprazíveis jardins floridos, bem mais belos do que tudo o que existe no mundo físico. E poderia mesmo dar
largas à sua fantasia, que ela própria faria desenrolar diante de si todas essas paisagens.

Quando tratarmos em particular dos habitantes desses três subplanos superiores, entraremos nos detalhes relativos às diferenças existentes entre eles. Para não deixar incompleta esta descrição, embora rápida, do cenário do plano astral, não podemos deixar de nos referir àquilo a que muitas vezes se tem chamado, embora erradamente, os Registros da Luz Astral.

Estes registros, arquivos, ou memórias (que são afinal uma espécie de materialização da memória Divina — fotografias animadas de todos os acontecimentos passados) vão-se imprimindo indelevelmente num plano muito superior, de forma que é apenas de maneira instável, por assim dizer, espasmódica que eles se refletem no plano astral. Daí resulta que apenas aqueles cujo poder de visão se eleve acima do correspondente a este plano, é que podem obter uma impressão seguida e conexa desta espécie de filmes; os outros pouco mais obterão que uma série de quadros ilógicos e desconexos. Todavia, estas imagens, que refletem todos os acontecimentos passados, seja qual for a sua espécie, são objeto de uma representação constante no plano astral, e nele formam uma parte importante do ambiente do explorador.

No meu livro Clarividência, capítulo VII, encontra-se mais detalhadamente feito o estudo deste assunto, que por falta de espaço não posso desenvolver neste manual.

(O PLANO ASTRAL, de C. W. Leadbeater - CONTINUA )

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