8 de setembro de 2015

SIMBOLOGIA III


O SÍMBOLO DO CORAÇÃO

O órgão fisiológico do coração não é, como se crê de ordinário, a sede do sentimento e do sentimentalismo mais pacato, senão que ele foi tomado em todas as tradições como um dos símbolos mais patentes e claros da ideia de centro.

No cristianismo isto é óbvio, pois quando se fala do "Sagrado Coração" de Cristo se está fazendo referência à parte mais central dessa tradição, à própria fonte de onde emana a essência de sua doutrina e seus mais profundos mistérios.

Sua representação iconográfica em forma de triângulo invertido faz dele um recipiente onde descem, e se depositam, os eflúvios celestes que vivificam a totalidade do ser individual, fazendo possível que este tome verdadeira consciência de seu Ser arquetípico.

Por isso se fala do coração como o lugar onde reside simbolicamente o Princípio Divino no homem, o Espírito Universal que, com respeito à manifestação, aparece como o menor, sutil e invisível, como bem assinala a conhecida parábola evangélica quando fala do "Reino dos Céus", assemelhando-o ao grão de mostarda, equivalente na tradição hindu ao "germe contido no grão de milho", idênticos ao éter ou "quintessência", que é também o centro ou coração da cruz elementar, tomada neste caso como um símbolo de todo o mundo manifestado.  

É desse Princípio de onde, efetivamente, o homem recebe o hálito vital, ao mesmo tempo em que a luz da Inteligência, ou autêntica intuição intelectual, permite-lhe conhecer de maneira direta, simultânea e sem reflexos (ou seja, não dual, racional ou cerebral) a Unidade em todas as coisas.

Neste sentido, lembraremos que na Cabala a sefirah Tifereth (que na simbólica construtiva corresponde ao altar do templo) é chamada o coração da Árvore da Vida, pois ao estar situada no próprio centro do pilar do equilíbrio faz possível que nela se unifiquem e sintetizem as restantes sefiroth.

Por isso, esta sefirah também é chamada “Beleza e Harmonia", entendida como a autêntica expressão da "concórdia" universal, palavra que precisamente significa "união dos corações".


O SIMBOLISMO DO TEMPLO

O templo reúne dentro de si o espaço e o tempo sagrados. Apenas traspassamos sua porta, faz-se evidente a diferença entre o mundo exterior e profano onde o tempo decorre linearmente e em forma indefinida e amorfa, e o recinto sacro, onde se percebe um tempo mítico e significativo: o "tempo" das origens do ser humano, a eternidade e a simultaneidade, conhecidas e compreendidas na interioridade do homem que estabelece esta comunicação ritual desde as profundezas do templo.

Por outra parte, o templo é um modelo do Universo, ao qual imita em suas formas e "proporções" e, como ele, tem por objeto albergar e ser o meio da realização total e efetiva do ser humano.

Nas tribos mais primitivas, encontramos a choupana ritual (ou a casa familiar) como lugar de intermediação entre o alto e o baixo. Efetivamente, nela o teto simboliza o céu e o chão, a terra; os quatro postes onde se assenta são as colunas onde se apóia o macrocosmo.

É muito importante assinalar que sempre nessas construções há um ponto zenital que está aberto a outro espaço.

Exemplo: a pedra caput ou cimeira, que não se colocava na construção das catedrais, ou o orifício de saída da choça cerimonial (na casa familiar esta saída é simbolizada pela chaminé, o lar).

Esta construção, imagem e modelo do Cosmo, tem, pois, uma porta de entrada que se abre ao percurso horizontal do templo (transposição da porta, passagem pelas águas do batistério, perda no labirinto cuja saída desemboca no altar, coração do templo), e posteriormente um orifício de saída sobre o eixo vertical, desta vez localizado na sumidade, simbolizando o Coroamento da Obra e o rendimento a outro espaço, ou mundo, inteiramente diferente, que está "mais além" do Cosmo, ao qual o templo simboliza.

É também o templo uma imagem viva do microcosmo e representa o corpo do homem, criado à imagem e semelhança de seu criador; inversamente, o corpo do homem é seu templo.

O centro de comunicação vertical é o coração, o chacra cardíaco, e ali, nesse lugar, acende-se o fogo sagrado capaz de gerar a Aventura Real da transmutação, após as provas e experiências de Conhecimento que levam até lá.

Em nosso diagrama Sefirótico, a porta horizontal se abre de Malkhuth a Yesod, enquanto a vertical de Tifereth a Kether. Ou seja, que todo o trabalho prévio, encaminhado ao Conhecimento, tem que ter por objetivo imediato a chegada ao coração do templo, o fogo perene do altar sobre o qual se assenta o tabernáculo, espaço vazio construído com as réguas e proporções harmônicas do próprio templo, e do qual é sua síntese.

Terá então terminado com a primeira parte dos Mistérios Menores (mistérios da terra) e começará sua ascensão simultânea pela segunda parte (os mistérios do céu), ficando para além do templo, ou seja, para o supracósmico, os Mistérios Maiores, que por serem inefáveis não podem ter aqui análise e nem comentário.

Na realidade, este processo é prototípico e válido para qualquer mudança de plano ou estado, onde se manifesta à sua maneira.


O SÍMBOLO DO LABIRINTO

O símbolo do Labirinto exemplifica perfeitamente o processo do Conhecimento, ao menos em suas primeiras etapas, naquelas em que o ser tem de se enfrentar com a densidade de seu próprio psiquismo (reflexo do meio profano em que nasceu e vive), isto é, com seus estados inferiores, separando alquimicamente o espesso do sutil, que a alma experimenta como sucessivas mortes e nascimentos –solve et coagula–, destinando ao mesmo tempo numerosas provas e perigos que somente fazem traduzir o próprio conflito ou psico-drama interior.

Esse desassossego é próprio daquele que, tendo abandonado suas seguranças e identificações egóticas, descobre ante si um mundo completamente novo e, portanto, desconhecido, mas para o qual se sente atraído, porque na verdade intui que ao atravessá-lo é que poderá se reencontrar com sua verdadeira pátria e destino.

Essa impressão indelével de estarmos totalmente perdidos tem que nos levar imperiosamente a encontrar a saída, ajudados sempre pela Tradição (e seus mensageiros: os símbolos), tal como um guia ou eixo, tem de nos conduzir (desde que nossa atitude seja reta e sincera) a um estado de virgindade, a um espaço vazio imprescindível, apto para a fecundação do Espírito, o que se vive no mais interno e secreto do coração.

Devemos assinalar que muitos labirintos representados na arte de todos os povos são autênticas mandalas ou esquemas do Cosmo, ou seja, da própria vida, com suas luzes e sombras, o que nos permitirá compreender que esse processo labiríntico é na realidade uma viagem arquetípica, uma gesta, em suma, que todos os heróis mitológicos e homens de conhecimento têm realizado, e que nos servirá de modelo exemplar a imitar.

Na verdade, a viagem pelo labirinto é uma peregrinação ligada à busca do centro, e neste sentido é importante destacar que em muitas igrejas medievais figurava um labirinto (como em Chartres, em meio do qual aparecia antigamente o combate entre Teseu e o Minotauro) que percorriam de forma ritual todos aqueles que, por uma ou outra razão, não podiam cumprir sua peregrinação ao centro sagrado de sua tradição (por exemplo, Santiago de Compostela, ou Jerusalém), o que era considerado um substituto ou reflexo da verdadeira "Terra Santa", onde os conflitos e lutas se finalizam, possibilitando assim a ascensão pelos estados superiores até conseguir a saída definitiva da Roda do Mundo.

Como dissemos anteriormente, falando da simbólica do Templo, esses labirintos se encontravam justo após a pia batismal (Yesod), e antes de chegar ao altar (Tifereth, o coração, o chacra cardíaco), ou seja, entre o batismo de água –relacionado com a regeneração psicológica e as viagens terrestres– e o batismo de fogo, vinculado por sua vez com o sacrifício pelo espírito e as viagens celestes, horizontais uns e verticais os outros.

Na Árvore Sefirótica, o labirinto corresponde, pois, a Yetsirah, ou plano das formações, ou das "Águas inferiores", que o aprendiz tem de atravessar em sua viagem pelos estados e mundos da Árvore da Vida.

Adicionaremos, para finalizar, que no Adam Kadmon microcósmico, ou seja, o homem, este labirinto tem de ser localizado na zona ventral, área que se destaca tanto por suas combustões e revoluções, como pela analogia que apresentam seus órgãos internos com a representação geral do labirinto.


(Texto: Federico Gonzalez - Continua)




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